Tantas emoções: o que vi, vivi e escrevi em 2023

Foto: Kaliu Mendes/ Divulgação

O ano caminha seus últimos passos e por aqui já passa um filme sobre tudo o que vivi em 2023. Percebi que foi em meus textos que depositei sentimentos de alegria, de vitória, de insatisfação, de raiva. Há dois anos produzindo semanalmente para o Diário do Nordeste, entendi a escrita como processo terapêutico.

Foi por meio de palavras que consegui me abrir e mostrar certas fragilidades que muitas vezes insisto em esconder. Falei sobre meu medo de voltar a fazer teatro e o quanto eu me questiono se ainda sei fazer meu ofício no palco misturado a minha vontade de estrear um novo solo.

Expus também assuntos delicados sobre crises de ansiedade que tive durante as gravações do filme Maníaco do Parque e do quanto é importante o cuidado com a saúde mental. Falei, inclusive, da pressão pelo sucesso, pelos números de seguidores, de engajamento em redes sociais, do papel de influenciador, das cobranças para estar em novelas e da minha autocrítica severa.

Em tudo fui muito sincero, escrevi com verdade e talvez por isso alguns textos tenham tomado grandes proporções, como quando questionei o que um artista deve fazer para ser valorizado no Ceará ou quando contestei a expectativa de vida de um artista, pautando sobre o etarismo dentro da arte.

Por aqui, também defendi bandeiras e ideologias que acredito, como a diversidade sexual e de gênero. Falei de Orgulho, critiquei famílias que abandonam seus filhos LGBTQIAP+, provoquei debate sobre a tentativa de derrubar nosso direito de casar e constituir família e também sobre a hora certa de sair do armário (que não tem hora certa, diga-se de passagem).

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O ano também foi de despedidas e o coração ficou apertado. Comecei 2023 me despedindo de uma das maiores artistas que essa terra já viu, Rita de Cássia. Também me despedi em palavras da maior referência do teatro que eu acredito, José Celso Martinez, um grande mestre, um guia, o teatro encarnado.

Foi, inclusive, fazendo o teatro que acredito, que conheci meu grande amigo Rogério Mesquita. Sua partida prematura também me dilacerou o peito e parece ter aberto um buraco na cultura cearense e na vida de tantas pessoas que dele gostavam, um irmão com quem dividi palco e vida.

Por falar em cultura, foi aqui na coluna que também exaltei, critiquei e fiz denúncias. Abordei o protagonismo negro e a beleza de se ver pessoas pretas em todas as novelas e produções da Rede Globo, enalteci artistas da minha terra como Denis Lacerda, Jean dos Anjos, Moisés Loureiro e Taty Girl, que conquistam vitórias merecidamente.

Denunciei o “teatro casca de ovo” de Fortaleza - aqueles equipamentos que só existem por fora, porque por dentro estão completamente deteriorados ou defasados, falei sobre a falta de investimento em formação básica para o acesso aos fomentos e leis de incentivo, cobrei da Secretaria de Cultura do Ceará os resultados de editais, cumprimentos de prazos, transparência e diálogo.

Usei minha voz e a força dessa coluna também pra denunciar algo que me atravessa violentamente: a xenofobia. Precisei falar sobre o ódio gratuito a pessoas como a cearense Natália Régia e a tentativa frustrada de se construir um audiovisual “com a cara do Nordeste”, mas com protagonismo sudestino, criando mais e mais caricaturas de nós. Sem contar com as tentativas descabidas de enfiar goela abaixo o “sotaque neutro” (que não existe também, diga-se de passagem).

A coluna também foi espaço para celebrar fortes emoções: subi ao palco pela última vez como uma Travestida em um teatro lotado, lancei minha própria versão da música Como Nossos Pais e também rodei vários estados brasileiros cantando, amando e mudando as coisas com as letras de Belchior; homenageei a eterna rainha dos baixinhos no programa Altas Horas e convoquei todas as crianças-paquitas para celebrar nossa existência. Por último, comemorei o show mais importante da minha carreira, em Mombaça, minha terra.

Acho que a vida é sobre isso, essa sucessão de acontecimentos que vão nos levando em montanha-russa de sentimentos e sensações, ora felizes, ora mais tristes, mas sempre nos lembrando do frio na barriga que é estar vivo.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor