O assunto da semana nessa coluna é algo que me deixa especialmente feliz. Quero falar de protagonismo nas atuais novelas e séries do plim plim e do que observo a partir disso. Assim, já lanço a pergunta: Você já observou que nas atuais produções de teledramaturgia da Rede Globo temos atores e atrizes negros como protagonistas?
Começo por Amor Perfeito, atual novela das 18h. O mocinho Orlando Gouveia, que faz par com a Marê, de Camila Queiroz, é interpretado pelo ator Diogo Almeida. E não se trata apenas de um corpo negro em papel de destaque, mas seu personagem é um jovem médico, de família abastada, completamente diferente do que se costumava ver, especialmente em novelas de épocas.
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Em seguida, temos Vai na Fé, que já falei sobre o sucesso dela aqui na coluna, e que possui um elenco majoritariamente negro. Como protagonistas, temos a deslumbrante Sheron Mennezes, como Sol, e o maravilhoso Samuel Assis, como Ben.
Além disso, a trama ainda retrata diversos assuntos que envolvem negritude, cultura, religião de matriz afro e luta racial. Vale saber também que nos bastidores tem roteiristas negros e isso faz toda a diferença.
No horário nobre, em Terra e Paixão, o papel de destaque vai para Bárbara Reis, com a sua primeira protagonista e já demonstrando, desde a primeira semana no ar, a beleza, o carisma, a força e a competência da sua interpretação. Recentemente, Bárbara ainda ganhou os corações do público com a vilã Débora, do folhetim digital Todas as Flores.
Por falar em Todas as Flores, que está na fase final, Mariana Nunes interpreta Judite, uma costureira funcionária da empresa Rhodes. Mariana completa o time de quatro protagonistas mulheres ao lado de Regina Casé, Letícia Colin e Sophie Charlotte. Na trama, ainda há o núcleo cômico de a família milionária e pagodeira de Oberdan (Douglas Silva) e Jussara (Mary Sheila).
Se seguirmos para as séries, veremos em Aruanas as atrizes Taís Araújo, Camila Pitanga e Thainá Duarte em papéis de destaque. Na terceira temporada de Cine Holliúdy temos a primeira protagonista negra, Larissa Góes, atriz cearense do teatro, do cinema e da televisão.
Em Encantados, praticamente todo o elenco é formado por atrizes e atores negros, como Dhu Moraes, Luís Miranda, Dandara Mariana, Dhon Augusto, Ludmillah Anjos, Vilma Melo e o retorno da grande Neusa Borges. A série surgiu a partir de uma oficina de humor para roteiristas negros dada por Renata Andrade e Thais Pontes e tem direção de Naína de Paula e do meu conterrâneo Deo Cardoso.
Ter uma grade de produções com esse compromisso em 2023 é muito significativo. Se revisitarmos o passado, e nem falo de muito tempo atrás, pouquíssimos atores e atrizes negros conseguiam chegar a papeis de destaque, salvos Taís Araújo, que iniciou sua carreira em Xíca da Silva e foi a primeira e única Helena, de Manoel Carlos.
Já Lázaro Ramos nos presenteou com o inesquecível Foguinho, de Cobras e Lagartos e, anos mais tarde, viveu com Camila Pitanga, um dos casais protagonistas do folhetim Lado a Lado, novela vencedora do Emmy 2013.
Fora isso, é difícil lembrar rapidamente personagens de grande destaque ou protagonistas negros na teledramaturgia brasileira. A representatividade era mínima e não havia espaço e nem oportunidade. Diferente de agora, onde podemos assistir o começo de uma proporcionalidade e, quem sabe, uma reparação.
Vale deixar muito bem registrado aqui que esse movimento de artistas negros protagonistas não é por acaso.
Isso é fruto de uma luta constante e das mudanças dos novos tempos, da desconstrução do mercado audiovisual e de uma maior conscientização contra o racismo.
Reconstruir novos espaços de conquistas com artistas, personalidades e personagens em histórias e posições diferentes daquelas impressas no passado e garantir empregabilidade e representatividade são fundamentais para reeducação social e a formação de uma sociedade que possui referência em suas obras artísticas, na frente e por trás das câmeras.
Que esse seja um grande passo gerador de transformações cada vez mais significativas e capazes de mudar o mundo em vemos e vivemos.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor