Protagonismo negro na Globo: o que isso pode produzir em nossa sociedade?

Atualmente, em todas as novas produções Globais, há artistas, jornalistas e personalidades negras

Legenda: Diogo Almeida interpreta o mocinho Orlando Gouveia na novela das 18h
Foto: João Miguel Júnior / Globo

O assunto da semana nessa coluna é algo que me deixa especialmente feliz. Quero falar de protagonismo nas atuais novelas e séries do plim plim e do que observo a partir disso. Assim, já lanço a pergunta: Você já observou que nas atuais produções de teledramaturgia da Rede Globo temos atores e atrizes negros como protagonistas?

Começo por Amor Perfeito, atual novela das 18h. O mocinho Orlando Gouveia, que faz par com a Marê, de Camila Queiroz, é interpretado pelo ator Diogo Almeida. E não se trata apenas de um corpo negro em papel de destaque, mas seu personagem é um jovem médico, de família abastada, completamente diferente do que se costumava ver, especialmente em novelas de épocas.

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Em seguida, temos Vai na Fé, que já falei sobre o sucesso dela aqui na coluna, e que possui um elenco majoritariamente negro. Como protagonistas, temos a deslumbrante Sheron Mennezes, como Sol, e o maravilhoso Samuel Assis, como Ben.

Além disso, a trama ainda retrata diversos assuntos que envolvem negritude, cultura, religião de matriz afro e luta racial. Vale saber também que nos bastidores tem roteiristas negros e isso faz toda a diferença.

Legenda: Sheron Mennezes e Samuel Assis se destacam em "Vai Na Fé", na faixa das 19h
Foto: Reprodução / Instagram

No horário nobre, em Terra e Paixão, o papel de destaque vai para Bárbara Reis, com a sua primeira protagonista e já demonstrando, desde a primeira semana no ar, a beleza, o carisma, a força e a competência da sua interpretação. Recentemente, Bárbara ainda ganhou os corações do público com a vilã Débora, do folhetim digital Todas as Flores.

Legenda: Bárbara Reis vive sua primeira protagonista em Terra e Paixão, no horário nobre da televisão
Foto: Paulo Belote / Globo

Por falar em Todas as Flores, que está na fase final, Mariana Nunes interpreta Judite, uma costureira funcionária da empresa Rhodes. Mariana completa o time de quatro protagonistas mulheres ao lado de Regina Casé, Letícia Colin e Sophie Charlotte. Na trama, ainda há o núcleo cômico de a família milionária e pagodeira de Oberdan (Douglas Silva) e Jussara (Mary Sheila).

Legenda: Mariana Nunes é uma das quatro protagonistas de Todas As Flores, disponível na Globoplay
Foto: Fábio Rocha / Globo

Se seguirmos para as séries, veremos em Aruanas as atrizes Taís Araújo, Camila Pitanga e Thainá Duarte em papéis de destaque. Na terceira temporada de Cine Holliúdy temos a primeira protagonista negra, Larissa Góes, atriz cearense do teatro, do cinema e da televisão.

Legenda: Elenco de "Encantados" série disponível no canal aberto e no streaming
Foto: João Miguel Júnior / Globo

Em Encantados, praticamente todo o elenco é formado por atrizes e atores negros, como Dhu Moraes, Luís Miranda, Dandara Mariana, Dhon Augusto, Ludmillah Anjos, Vilma Melo e o retorno da grande Neusa Borges. A série surgiu a partir de uma oficina de humor para roteiristas negros dada por Renata Andrade e Thais Pontes e tem direção de Naína de Paula e do meu conterrâneo Deo Cardoso.

Ter uma grade de produções com esse compromisso em 2023 é muito significativo. Se revisitarmos o passado, e nem falo de muito tempo atrás, pouquíssimos atores e atrizes negros conseguiam chegar a papeis de destaque, salvos Taís Araújo, que iniciou sua carreira em Xíca da Silva e foi a primeira e única Helena, de Manoel Carlos.

Já Lázaro Ramos nos presenteou com o inesquecível Foguinho, de Cobras e Lagartos e, anos mais tarde, viveu com Camila Pitanga, um dos casais protagonistas do folhetim Lado a Lado, novela vencedora do Emmy 2013.

Fora isso, é difícil lembrar rapidamente personagens de grande destaque ou protagonistas negros na teledramaturgia brasileira. A representatividade era mínima e não havia espaço e nem oportunidade. Diferente de agora, onde podemos assistir o começo de uma proporcionalidade e, quem sabe, uma reparação.

Vale deixar muito bem registrado aqui que esse movimento de artistas negros protagonistas não é por acaso.

Isso é fruto de uma luta constante e das mudanças dos novos tempos, da desconstrução do mercado audiovisual e de uma maior conscientização contra o racismo.

Reconstruir novos espaços de conquistas com artistas, personalidades e personagens em histórias e posições diferentes daquelas impressas no passado e garantir empregabilidade e representatividade são fundamentais para reeducação social e a formação de uma sociedade que possui referência em suas obras artísticas, na frente e por trás das câmeras.

Que esse seja um grande passo gerador de transformações cada vez mais significativas e capazes de mudar o mundo em vemos e vivemos.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor