Vai na fé e no sucesso: novela das 19h arrebata corações

O folhetim de Rosane Svartman une tudo o que o brasileiro gosta e se consagra como a nova queridinha do público

Legenda: Interpretada por Sheron Menezzes, Sol é um retrato da força da mulher brasileira
Foto: Globo/João Miguel Júnior

Novela é, sem sombra de dúvidas, uma paixão nacional. O brasileiro adora o gênero e é capaz de criar uma relação de intimidade com os personagens, amando e sofrendo com os protagonistas, odiando os vilões. Ainda que sempre termine em final feliz, a gente não perde um grandioso último capítulo.

Quando o folhetim é bom, imediatamente vira assunto em todos os lugares, seja em casa, no trabalho, no ônibus, na escola, no metrô, nas redes sociais... E até mesmo quando não faz sucesso, cai na boca do povo, ainda que seja alvo de críticas. A sensação que dá é que uma novela “mal elaborada” é, praticamente, uma traição ao telespectador.

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Uma novela que tem me chamado atenção é Vai na Fé, de Rosane Svartman - a mesma autora de Totalmente Demais (2015) e de Bom Sucesso (2019). Nas redes sociais não se fala em outra coisa, senão a trama envolvente das 19h. E o que tem feito desse trabalho algo tão espetacular? Tenho alguns palpites.

Entretenimento com leveza e reflexões

As famosas “novelas das 7” tem a tradição de serem mais leves, mais cômicas, divertidas, geralmente, focadas em um triângulo amoroso entre mocinho, mocinha e vilão. Rosane não fugiu da fórmula clássica, mas também não se apegou a essa regra. E aí é que está o diferencial. Ela vai além. Traz entretenimento, popularidade e reflexões extremamente necessárias e comoventes.

Rosane aborda temas latentes da sociedade, criando conexões fortes com um público exigente, desejoso por discussões. Vai na Fé entrega um grande serviço, sabe utilizar de sua popularidade para ser educativa, sem ser piegas, didática demais ou forçada, pelo contrário. As vivências dos personagens provocam identificação e empatia e isso é demais.

Sol (Sheron Menezzes) é um super retrato da mulher brasileira, cheia de sonhos e dificuldades, mas que não desanima nunca. Vende marmitas, é religiosa e no passado, era musa de baile funk. De imediato, incontáveis mulheres já conseguem se ver nessa personagem.

Dona Marlene (Elisa Lucinda) possui alopécia e busca, em seu drama, elevar sua auto estima numa rede de apoio entre mulheres da família. Kate (Clara Moneke), filha de Bruna (Carla Cristina), vive no subúrbio acompanhando os perrengues da mãe, mas segue traçando um percurso diferente para alcançar seus objetivos.

Ainda temos a relação entre Yuri (Jean Paulo Campos) e Viny (Guthierry Sotero) , dois jovens descobrindo a sexualidade e o amor, longe dos estereótipos da “bicha engraçada” e com muitas questões raciais e diferenças de classe. Ainda temos Clara (Regiane Alves) descobrindo sua bissexualidade depois de casada com um homem e se apaixonando por Helena (Priscila Sztejnman).

O tema da religião é exposto com muita profundidade, respeito e seriedade e de forma alguma chega perto de ser uma “novela evangélica” como o brasileiro já está acostumado a assistir.

Rosane trouxe um frescor para o assunto, trazendo positividade para a religiosidade.

O grande Lui Lorenzo (José Loreto) traz muito humor e drama, numa mistura super bem dosada, levando o personagem para além da televisão e invadindo a vida real, com seus hits e danças em shows, programas de TV e plataformas digitais.

Além de todos esses temas, Vai na Fé traz um elenco formado, acredito, 80% por artistas negros em personagens de destaques, dentre deles MC Cabelinho como Hugo, estreante na televisão, mas demonstrando grande familiaridade com a linguagem e apresentando ótima performance. Sem contar que essa é a primeira protagonista de Sheron Menezes!

Vai na Fé segue se consagrando como um novelão, desses que vicia o público e deixa todo mundo ansioso pelo próximo capítulo.

Ótimo roteiro, personagens incríveis, elenco primoroso (eu andava com saudade de ver Carolina Dieckmann atuar), temas urgentes, engraçada, dramática, esteticamente bonita, além de uma direção rápida de cortes nos quadros que traz todo um dinamismo e uma trilha musical empolgante.

Tô viciado!

Eu e o Brasil.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

 
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