Este é um texto sobre o que não te contam sobre a vida de um artista.
Ou pelo menos, sobre o que não se costuma falar abertamente.
Era setembro de 2023 e eu estava gravando o filme Maníaco do Parque, no qual interpreto o serial killer brasileiro Francisco de Assis Pereira, um personagem denso, intenso, que exigiu de mim muita, mas muita saúde mental e bem estar físico e espiritual para lidar com tudo.
Certo dia, cheguei para um dia de filmagem, cumprimentei meus colegas de set e tomei meu café. Tudo parecia tranquilo, comum, como em qualquer outro dia de trabalho, mas quando sentei na cadeira de maquiagem e a equipe de caracterização deu os primeiros passos para me transformar em Francisco, eu comecei a passar mal.
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Sentia uma falta de ar absurda, seguida de uma taquicardia, um suor frio, uma dor no peito e uma sensação de desespero que eu não sabia de onde vinha. Imediatamente, pedi para minha colega maquiadora parar com o processo e me isolei da equipe. Eu precisava dessa distância, desse momento sozinho comigo para me concentrar, me acalmar, tentar reestabelecer o meu controle, respirar novamente.
Não foi o filme, o personagem ou a história que me causou isso, porque não foi a primeira vez, mas foi a partir desse dia que entendi que meu corpo estava dando sinais mais do que claros de que eu precisava de ajuda. Busquei um profissional que pudesse me ajudar a entender e me orientar um caminho para ter mais controle sobre mim, sobre minha mente, meu corpo.
Assim, descobri que estava passando pelas tão faladas crises de ansiedade. Fiquei bem assustado, porque ainda que elas sejam pontuais, eu ignorava completamente os sintomas de que meu corpo precisava de um tempo. Eu ignorava tudo o que eu sentia e tratava como uma grande bobagem, uma frescura.
Até que outras crises vieram mais intensas e menos espaçadas, até a última, que foi durante o filme.
Recentemente, o cantor Wesley Safadão falou, em entrevista ao Fantástico, sobre a pausa em sua carreira por sofrer com o mesmo problema. Há duas semanas, a cantora Taty Girl, antes de uma apresentação no Centro de Tradições Nordestinas, em São Paulo, passou pelos mesmos sintomas.
Eu nunca tive coragem de falar sobre isso abertamente, mas ver outros artistas abordando o assunto de forma tão honesta me fez entender como é importante debater sobre ansiedade. Não por uma questão de se expor, mas para que sirva de alerta, para que mais pessoas fiquem atentas aos sinais, que não achem que é frescura, que não tenham medo de pedir ajuda.
Muitas vezes, as pessoas glamourizam a vida de um artista sem lembrar que, antes de mais nada, ele também é um trabalhador, que ele também tem compromissos, que ele também sofre com a pressão da rotina, do mercado, que ele também fica sobrecarregado com os pesos da vida.
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O artista, geralmente, tem muitas pessoas a sua volta e essas pessoas precisam ser alertadas também sobre o assunto, precisam entender e perceber quando o artista precisa de cuidado, de atenção. Não se trata de estrelismo, de paparicação ou de cuidado excessivo, se trata de saúde. Não só porque é um artista, mas porque é uma pessoa.
Com a ajuda profissional, estou começando a entender certos limites do meu corpo, estou começando a identificar possíveis gatilhos, onde muitos estão ligados às pressões que eu mesmo tenho colocado em minha vida artística, meus trabalhos, minha carreira, em uma tentativa incessante de corresponder às expectativas geradas pelo o que faço.
Eu me cobro muito e a dívida que crio comigo mesmo é alta demais.
Nos tempos de hoje, para ser artista, pensar apenas na obra é um luxo. Outras questões também passam pela nossa cabeça: o medo de não agradar o público, a exigência do mercado de fazer sucesso nas redes sociais, a cobrança de fãs e seguidores, a “necessidade” de expor uma vida bela e feliz em fotos bonitas e vídeos dinâmicos, estar 24h por dia disponível, simpático e com boa aparência e a realidade de estar a todo momento sendo julgado e cobrado em corresponder também às expectativas dos outros.
O artista sempre foi e será um agente do seu tempo, alguém com um olhar provocador sobre o passado, presente e futuro, o artista é capaz de fazer a diferença na vida de milhares de pessoas, mas é engano pensar que ele se resume a uma rede social ou que é uma prioridade para seus seguidores.
Cuidemos de nossa saúde mental, cuidemos uns dos outros.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor