Eles são muitos, mas não podem voar

Com a pauta que proíbe o casamento LGBTQIAP+ aprovada em uma comissão da Câmara, o risco de uma nova série de ataques aos nossos direitos é enorme

Foto: Shutterstock

Há três semanas, trouxe à coluna a discussão sobre a tramitação do projeto de lei que proíbe o casamento homoafetivo e questiona a existência da nossa comunidade LGBTQIAP+ na sociedade. Um processo desumano, violento, que vai contra uma série de conquistas ao longo de décadas de luta.

Hoje, vou precisar tocar mais uma vez nesse assunto. A Comissão da Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados aprovou, por 12 votos a 5, um projeto que proíbe a união de pessoas do mesmo sexo. A pauta segue para mais duas comissões antes de ir à plenário na Câmara.

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Dos 12 votos, 2 foram do Ceará: Priscila Costa, que assumiu o mandato recentemente, após Yury do Paredão tirar licença; e Dr. Jaziel, mais conhecido como “marido da Doutora Silvana”. Esse deputado foi o mesmo que votou contra salários igualitários entre homens e mulheres, contra a Reforma Tributária e é autor de um projeto que proíbe menores de 23 anos de passarem por cirurgias de redesignação sexual.

Não há surpresa nenhuma quanto a isso, visto que se trata de uma comissão formada por políticos conservadores, mas é desgastante demais que, em pleno 2023, estejamos discutindo sobre uma ação que representa um retrocesso gigantesco e que pode ser apenas a ponta de um iceberg, uma vez que já é possível prever uma série de novos ataques à população LGBTQIAP+.

Os representantes dessa comissão são eleitos com o objetivo de defender os interesses e demandas da população de uma forma geral, mas claramente são mandatos que atendem somente a direita fundamentalista, que se utiliza da fé cristã pra fazer o completo contrário do que Cristo pregou.

Contudo, provoco a reflexão sobre o que nós podemos fazer agora? O que nos resta enquanto eleitores nesse momento? Para além de criarmos cada vez mais consciência política e revolucionarmos o sistema eleitoral com representantes LGBTQIAP+ e outros políticos comprometidos com nossas pautas, o que nos resta?

Será agir de forma ostensiva nas ruas, sem baixar a guarda? Será que a saída está em nos manifestarmos publicamente e demonstrar nossa força? Se até aqui, em 2023, as conquistas foram frágeis o suficiente para serem novamente questionadas e derrubadas, como nos articular de maneira firme e eficiente?

A população LGBTQIAP+ não pode ser vista num lugar de comodidade. Precisamos eleger uma base mais sólida, que fortaleça nossos representantes que já estão lá. Precisamos de engajamento, precisamos das empresas que se utilizam do nosso pink money como verdadeiras aliadas nesse confronto em favor de nossa existência/sobrevivência.

Não estamos bem e não estamos articulados! Ainda não somos uma “comunidade” no que se refere à política, o legislativo, o judiciário. Precisamos de ações enérgicas, nem que seja na base do grito. Eles são muitos, mas não podem voar.

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor