O que pode um LGBT no futebol?
É preciso haver espaço seguro para nós também nos envolvermos com o esporte
O futebol está, talvez, em primeiro lugar na lista de símbolos dados como masculinos. Aliás, masculino não! Másculo, do macho, da virilidade. Tudo gira em torno do vigor do homem hétero e qualquer coisa que fuja a essa regra logo vira motivo de piada ou palavra de xingamento, afinal, quem nunca ouviu um juiz de futebol ser chamado de “viado” por uma torcida?
Se na infância um menino diz não gostar do esporte, já se tem o primeiro alerta vermelho sobre sua possível sexualidade no futuro. Muitos pais e mães, inclusive, colocam seus filhos em escolas de futebol para tentar moldar uma personalidade que caminhe para a heteronormatividade.
Eu não fui essa criança. Pelo contrário, eu amava jogar futebol. Era um excelente goleiro nos rachas com a meninada de Mombaça, mas ser quem eu era - uma criança notadamente viada - no lugar onde se consagra a “incubadora de machos” não deu muito certo. O preconceito me afastou do futebol e eu o reneguei de volta durante anos.
O fato é que o tempo passa, a vida acontece e nesta semana, em 2025, com 43 anos de idade, fui pela primeira vez a um jogo de futebol no estádio, ver o time que sempre admirei jogar, o Ceará, como convidado, consagrado como um notável alvinegro. Jamais imaginei que aquele menino-bicha, que se tornou artista e reconhecido, especialmente, por personagens LGBTs, viveria isso. O futebol está mesmo mudando.
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Não que o preconceito tenha acabado ou as piadas e xingamentos homofóbicos tenham cessado, mas estou começando a entender que hoje há uma abertura de espaço para nós, há um entendimento por parte dos clubes de que celebrar a diversidade das torcidas também é importante.Talvez num futuro breve, tenhamos mais jogadores saindo de seus armários e ocupando vestiários, prontos para entrar em campo, sem medo de viver plenamente quem se é.
Prevejo isso para um futuro com toda a esperança que tenho, porque o futebol é, sem dúvidas, um esporte “homoafetivo”. Calma! Não precisa se assustar com essa palavra, não falo no sentido sexual e, sim, no afetivo.
Digo isso, porque o que se vê em todas as equipes é que o futebol cria um ambiente de amor, amizade, admiração e confiança mútua entre os jogadores, há uma relação de carinho e cumplicidade entre os homens. Esse tal afeto deveria ser regra além do esporte.
Minha noite na Arena Castelão junto ao Ceará foi linda. O clube abriu mais do que as portas para mim, abriu as portas para as bandeiras da diversidade, reafirmou que eu e os meus são bem-vindos e provou que entre o preto e branco há sempre espaço para uma infinidade de cores. Salve o Vozão alvinegro! Que siga dia a dia conquistando novas vitórias!
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor