E se existisse um quadrilhódromo fixo no Ceará?

Nem só de amor vive o quadrilheiro

Escrito por
Silvero Pereira verso@svm.com.br
Legenda: Os integrantes de quadrilhas juninas, que se apresentam cheios de alegria e beleza, estão ali pelo prazer e pela paixão de serem quadrilheiros
Foto: Ismael Soares

O mês de junho acabou, mas não acabaram os festivais de quadrilha junina. Pode parecer confuso, eu entendo, mas é que o que se finda em junho no Nordeste são as festas dos santos católicos. As competições entre os grupos de quadrilhas adentram o mês de julho em uma intensa maratona.

Na verdade, até chegar a metade do ano, os quadrilheiros vivem meses em dedicação total, criando, ensaiando, confeccionando figurinos, elaborando coreografias, adereços, cenografias, enredos, compondo canções… Tudo com muito amor ao ofício para que isso aconteça e saia tudo como planejado.

Eu gostaria de explicar para quem não é nordestino que as nossas quadrilhas são equivalentes às escolas de samba do Rio de Janeiro, do ponto de vista atrativo, cultural e por tempo e dedicação nos trabalhos, mas seria injusto da minha parte dizer isso por um fator que define tudo: não temos o mesmo investimento financeiro.

Sim, as quadrilhas juninas se sustentam, basicamente, por amor à cultura tradicional e popular nordestina. Todos aqueles integrantes cheios de alegria, garra, força, dedicação e paixão estão ali pelo prazer de ser quadrilheiro.

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Em uma maioria quase esmagadora, são eles quem custeiam suas indumentárias, suas alimentações, seus traslados e tudo mais. Além disso, é claro, fazem ações coletivas para arrecadar fundos por meio de rifas, bingos ou campanhas de doações.

Em 2025, em Fortaleza, as quadrilhas conquistaram o título de Patrimônio Imaterial de Fortaleza, mas, para além do título, precisamos entender e agir sobre como manter vivo esse patrimônio. Se o movimento das festas juninas é tão importante na economia, como construir ações que ajudem a profissionalizar ainda mais esse movimento para além de editais com orçamentos defasados?

E se existisse um quadrilhódromo fixo que garantisse apresentações bem executadas e com todo o aparato que as quadrilhas merecem? Isso não impactaria no turismo? Não seria interessante ver o público podendo assistir às apresentações com conforto e segurança?

Para além de ações pontuais no período junino, como pensar em políticas públicas de manutenção desses coletivos artísticos para fortalecer o potencial criativo e a continuidade dos integrantes? Não seria interessante para o capital privado assinar uma arena junina, valorizando um produto cultural que tanto impacta na economia?

Se temos um Sambódromo no Rio de Janeiro e o Bumbódromo em Parintins, não seria lindo e digno para o movimento quadrilheiro e para o público nordestino a existência de um Quadrilhódromo?

As quadrilhas juninas representam o Nordeste, representam o Ceará, misturam diferentes linguagens artísticas, como dança, música e teatro, guardam a tradição da cultura popular, da identidade cultural do nosso povo e necessitam ser vistas como um movimento estratégico.

Se sem grandes investimentos, assistimos a verdadeiros espetáculos, imaginem a grandiosidade se as quadrilhas fossem vistas como merecem.


*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor