Um artista pode ser substituído por IA?
Qual o futuro da arte com tantas intervenções criadas por inteligências artificiais?

A Inteligência Artificial veio pra ficar, não tem jeito. Todos os dias surgem novos aplicativos e softwares, novas formas de criar imagens, sons e o que mais a tecnologia permitir. No meio de tantas incertezas e debates sobre o futuro da arte, decidi abrir um diálogo com o ChatGPT e ver quais provocações sobre esse assunto podemos refletir.
Em primeiro lugar, adianto aqui a minha opinião: nunca, jamais nenhuma inteligência artificial será capaz de substituir um artista. Por mais rápida e perspicaz que uma IA seja, o artista é o verdadeiro sujeito criador e a arte vai muito além do que um produto final, uma obra.
A IA, claro, vem transformando a forma como criamos. Já podem compor melodias, sugerir harmonias, imitar gêneros musicais, podem produzir imagens com uma velocidade absurda, podem pensar em roteiros, em poesias, mas não acredito que seja isso que tornará algo uma obra de arte. Inclusive, o próprio ChatGPT concorda comigo.
Questionei essa IA sobre o que ela achava da substituição do artista por uma inteligência artificial e sua resposta foi: “A IA pode ser uma parceira poderosa, mas não é artista. O artista é aquele que vive o mundo, sente suas contradições e traduz em gestos, palavras, imagens ou sons. A IA pode aprender estilos, mas não pode sofrer, amar, resistir, nem transformar como um artista”. Interessante, não?
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Uma obra de arte tem contexto, tem história, tem política, tem afeto, tem memória. Artista tem corpo, tem subjetividade, tem vivência e é exatamente por isso que até as IAs dependem de nós para que ganhem significado, peso simbólico e valor artístico.
Do ponto de vista de um ator como eu, garanto que nenhuma IA tem presença cênica, corpo, voz e emoção real. O teatro é uma arte que jamais será substituída, porque ele exige presença, exige entrega e troca entre o artista e o público. IAs podem criar várias músicas, mas a experiência visceral de um show ao vivo, de uma performance no palco, não poderá ser substituída; podem imitar estilos e gêneros literários, mas sua escrita nunca será tão eficiente como a de um autor, um poeta, um dramaturgo; podem criar infinitas reproduções de imagens, mas as artes visuais de artistas reais seguirão como únicas.
Se nos últimos dias, o Brasil conheceu e amou a personagem Marisa Maiô, apresentadora de um talk show nonsense que viralizou nas redes sociais, isso só aconteceu porque houve inteligência, repertório, visão e criatividade de um artista chamado Raony Phillips, que soube brilhantemente utilizar a IA a seu favor.
O debate sobre processo criativo e uso de inteligência artificial é profundo e precisa mesmo ser discutido cada vez mais, para que assuntos como ética, direito autoral, homogeneização, plágio, mercado de trabalho, futuro da arte e tantos outros temas pertinentes estejam sempre em foco para avançarmos nesse quesito, mas nós, artistas, não devemos temer a inteligência artificial, ela já é uma realidade. O que precisamos agora é aprender como dominá-la.
A experiência que uma obra de arte e um artista provoca, a nossa capacidade de invenção, a nossa vivência, nossas ideias, nossos propósitos… esses, jamais serão imitáveis ou substituíveis. Somos inteligências vivas, reais, autênticas e legítimas.