O Fortal está muito gay
A micareta pode ser um lugar de expressão, encontro e representatividade
Ouvi, um dia, um comentário sobre como o Fortal, uma das maiores micaretas do Brasil, estava “muito gay”. Vocês devem imaginar que esse “muito gay” veio em tom de crítica, não é?! Como se isso fosse algo ofensivo para a comunidade micareteira. Ainda que o evento receba todos os tipos de pessoas, ter este espaço ocupado por pessoas LGBTQIAP+ parece incomodar.
Eu confesso que não entendo exatamente a surpresa com relação à presença de gays no Fortal, já que é no corredor da folia e nos camarotes que se encontra tudo o que grande parte dos gays amam: liberdade para dançar, festa para curtir e cantoras que conversam com esse público, como Ivete Sangalo.
Talvez o incômodo esteja na paquera entre pessoas do mesmo sexo. Apesar de estamos falando de um “carnaval” fora de época - onde se costuma mesmo viver o desejo dos corpos - ainda parece ser agressivo ou ofensivo que, em 2025, dois homens troquem beijos. Pegar geral atrás do trio elétrico pode, desde que seja hétero.
O ponto é que essa ocupação de pessoas LGBTQIAP+ sempre existiu. Não eram muitos que arriscavam paquerar publicamente, porque o medo de sofrer uma violência era enorme.
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Então imagine o quão libertador é pensar que pode ser quem se é, porque está cercado de pessoas iguais a você! Esse avanço não retrocederá. Ocupar os espaços, enfrentar o machismo e dançar axé na cara do preconceito é muito mais a nossa cara.
A micareta pode, sim, ser um lugar de expressão, de afeto, de encontro, de representatividade. Pode, sim, acompanhar as mudanças culturais da sociedade e seguirá como palco da diversidade que dança, que celebra, que beija, que pega, que se reinventa.
O Fortal está muito gay, ainda bem!
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor