BBB, o novo Centro de Reabilitação Social do Brasil

Legenda: Participantes do BBB 22
Foto: Reprodução TV Globo

O Big Brother Brasil começou e é claro que eu, como fã de reality, ando acompanhando tudo o que acontece na casa. Estamos na segunda semana de programa, duas pessoas já foram eliminadas, outras duas já chegaram à liderança, já teve chororô, formação de casal, pegação em festa, mas fogo no parquinho que é bom... nada. Pelo contrário, o clima anda tão ameno que até absurdos são relativizados.

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De todas as novidades da 22ª edição, o que mais me chamou atenção foi o quadro Big Terapia, comandado pelo genial Paulo Vieira, que consiste em uma análise bem-humorada sobre o comportamento dos brothers e sisters. Paulo observa ações e falas de cada participante com tiradas engraçadas, além de uma entrevista divertida com o eliminado da semana.

O fato é que nem o alívio cômico do Paulo e de Dani Calabresa no CAT e nem a leveza da apresentação do querido Tadeu Schmidt aliviam o peso das narrativas trágicas que temos assistido de alguns participantes com falas racistas, machistas, homofóbicas, transfóbicas e misóginas, proferidas com a justificativa de que estão lá “para aprender”.

E aí chego ao ponto dessa conversa: como alguém decide entrar no reality de maior audiência do mundo com esse tipo de discurso? Em que momento o BBB se tornou um centro de reabilitação social, onde as pessoas estão lá para descontruir preconceitos? Por que esperar entrar em um reality para aprender o básico?

Veja bem, não estou aqui dizendo que as pessoas não podem cometer erros ou que devem saber de tudo, mas não ser racista, transfóbico, misógino e tudo mais deve ser nossa obrigação aqui fora, inicialmente, e não em um programa.

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Acredito que ao falar ou se comportar de forma preconceituosa, mais importante do que justificar que está “tentando aprender”, é preciso parar de colocar a responsabilidade dessa “formação pedagógica” no outro. Pessoas pretas não tem obrigação de nos ensinar a não sermos racistas. Pessoas transexuais não precisam ficar o tempo inteiro repetindo seus pronomes.

O BBB é jogo de reflexos da nossa sociedade, um microssistema social. O que lá acontece em pequena escala, aqui fora acontece em proporções estratosféricas. Não é só sobre os confinados, é sobre nós também, eu e você.

“O Brasil tá vendo”, mas mais do que isso, o Brasil está se vendo em muitos daqueles personagens. Então é muito simbólico ver homens protegendo homens, racistas responsabilizando pessoas pretas ou uma travesti não ser colocada no pódio da final.

O termo confinado é sobre se isolar do convívio social, mas no BBB, além de jogar para ganhar, é preciso conviver com as próprias verdades e aguentar as consequências delas aqui fora e, definitivamente, racismo, misoginia e transfobia não são entretenimento. Isso nunca foi e nunca será fogo no parquinho.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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