Pressão inflacionária gerada por guerra pode levar Selic acima dos 13%, apontam economistas

Previsão é que alta de preços de commodities no mercado internacional faça o Banco Central manter o movimento de alta da taxa básica de juros no Brasil

Legenda: A última previsão do mercado, registrada pelo Boletim Focus, do Banco Central, era de que 2022 terminasse com a taxa básica de juros brasileira em 12,25%
Foto: Rafastockbr/ Shutterstock

Os efeitos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia na economia brasileira continuam a ser notados. Com as cadeias produtivas afetadas e a redução da oferta de alguns produtos, como trigo e petróleo, economistas já preveem o aumento da pressão inflacionária, o que pode levar o Banco Central a elevar a taxa Selic acima dos 13% ainda em 2022. 

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A última previsão do mercado, registrada pelo Boletim Focus, do Banco Central, era de que 2022 terminasse com a taxa básica de juros brasileira em 12,25%. Contudo, a pressão gerada pelo aumento do preço das commodities no mercado internacional pode fazer com que o BC reveja esse número, ultrapassando o patamar de 13%. 

Para o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) Ceará, Ricardo Coimbra, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC já eleve a Selic em 1,25% na próxima reunião para tentar conter a inflação. 

O economista destacou o impacto nas cadeias de fertilizantes, trigo e petróleo, que têm Rússia e Ucrânia como grandes fornecedores no mundo. 

"O Banco Central deve sim aumentar a Selic e a perspectiva da inflação gerada pela guerra e o impacto de alguns produtos, como fertilizantes, petróleo e trigo, deve gerar novos aumentos porque eles acham que é o mecanismo mais fácil de controlar a inflação. É aumento de juros para retrair o consumo, mas isso gera impactos na expectativa econômica, que já tem uma previsão ruim, de queda de 0,5%", afirmou

Estratégia 

Contudo, Coimbra ponderou que a atuação do Banco Central poderá não surtir o efeito esperado porque agir em apenas uma parte do problema. Ele afirmou que seria preciso ampliar as estratégias de contenção da inflação, aliando iniciativas fiscais com o Governo Federal.

Contudo, a situação das contas públicas e  a forma de administração do Governo poderia ser um empecilho para essa atualização de plano de ação. 

"Deveríamos estar pensando em outras iniciativas, mas a situação fiscal do Brasil não é boa, e já vinhamos com uma inflação forte. São variáveis fortes. Eu não concordo com essa postura de só agir com o aumento da taxa Selic, até porque só esse instrumento não resolve. Se o BC fizer dois aumentos de 1,25% a gente chega facilmente aos 13% neste ano", defendeu.

Nova estagflação 

Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, caso os novos aumentos da taxa Selic não tenham o efeito esperado para controlar a inflação, ainda há o perigo de que o Brasil entre em um quadro de estagflação. 

Por definição básica, o cenário de estagflação é classificado por uma economia estagnada, aliada a alto nível de desemprego e inflação crescente. Com um cenário de juros alto e baixa atividade econômica, o País ainda pode receber um freio no processo de recuperação após a crise gerada pelo novo coronavírus. 

"Há uma previsão da Selic subir bem mais do que estava previsto porque estávamos vendo um aumento grande nos preços de commodities, e isso deve afetar nosso crescimento. Mas ainda precisamos entender qual vai ser o tamanho dessa alta porque o juros pode subir e inflação, mesmo assim, não ceder. E se isso acontecer, por conta da pressão dos preços no mundo, teremos o pior cenário, que é a estagflação", explicou.