Redução do IPI não deverá baixar preços de carros no Ceará; entenda o cenário

Especialistas e agentes do mercado destacaram o desequilíbrio das cadeias de produção de veículos, taxa de câmbio e outras questões para explicar a manutenção de uma tendência de valorização de veículos em 2022

Legenda: Feirão terá presença do Detran, para realização de vistoria, e banco, para negociação de financiamentos
Foto: Divulgação

A decisão do Governo Federal de reduzir a alíquota Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em até 25% não deverá ter o impacto esperado no preço dos veículos no Ceará. A expectativa é que a medida apenas reduza a velocidade do encarecimento dos produtos no setor até o fim deste ano. 

Segundo o vice-presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Ceará, Lewton Monteiro Júnior, o cenário pode ser explicado porque a redução do IPI para os veículos será menor que o máximo de 25% anunciado pelo Governo, ficando em 18,5%. 

Além disso, a redução será sobre a alíquota do imposto, mudando de patamar para as diferentes categorias dos carros. Por exemplo, os veículos com motor com até 1.0 de potência terão redução de 18,5% sobre a alíquota de 7%, representando uma diminuição de cerca de 1,4%. Já para os carros entre 1.0 e 2.0, a redução será de 18,5% sobre 11%, que é a alíquota do IPI, o que representaria apenas 2,2% de desconto. 

Contudo, apesar da medida de incentivo, considerada como "bem-vinda" pelo vice-presidente da Fenabrave, outros fatores devem continuar influenciando o mercado de veículo nacional e internacionalmente.

"Toda redução de imposto ajuda e é bem-vinda. Mas o imposto é só um dos componentes do preço. Então, a nossa expectativa é que, como os custos ainda estão aumentando muito na produção, devemos sentir uma redução pequena. Esse esforço deve servir mais para segurar o preço e evitar que ele não suba tanto do que reduzir. Mas a tendência ainda é de alta até o fim do ano", disse Monteiro.

Veja também

Câmbio 

Entre os fatores apontados pelo dirigente da Fenabrave, está taxa cambial entre o real e o dólar, que tem pressionado os preços dos produtos importados como as peças e outros componentes dos veículos. 

Os primeiros meses do ano, quando foi registrado um movimento de valorização do real frente à moeda americana, ainda trouxeram um cenário positivo para o mercado de automóveis, segundo Monteiro, mas as coisas ainda estão muito voláteis. Ele destacou que a pandemia e, desde o mês passado, as tensões na Europa gerou muitas instabilidades no mercado. 

Fornecimento de semicondutores 

Outra questão destacada por Monteiro foi a queda na produção de semicondutores e chips, usados na produção dos carros. Esse tem feito causado um novo desbalanceamento na relação de oferta e procura. Com a produção prejudicada, e com muitas montadoras confirmando paralisação por ausência de materiais, a oferta tem ficado prejudicada. 

E a movimentação no mercado pode ser um dos fatores a garantir uma tendência de alta para o preços dos carros em 2022 apesar da redução do IPI. 

A perspectiva foi corroborada por Ricardo Coimbra, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará. 

"A principal intenção da redução do IPI é recuperar a atividade econômica. E no que se refere aos veículos, essa redução pode aumentar a comercialização de produtos no mercado nacional, mas temos um problema que ao longo da pandemia tivemos um desequilíbrio por conta da pandemia que foi causada pela falta de fornecimento de chips, e isso tem elevado preços na indústria", disse Ricardo

"Essa redução do imposto pode elevar demanda, mas precisamos saber a capacidade da oferta por conta desses componentes", completou.

Financiamento

Coimbra ainda comentou que as taxas de financiamento de veículos aumentaram bastante nos últimos meses, considerando ainda as consecutivas elevações da taxa Selic. Com o acesso ao crédito dificultado, as pessoas podem acabar decidindo postergar as comprar de um carro novo nos próximos meses. 

"As taxas de financiamentos de veículos ficaram muito caras, então isso precisa ser considerado e pode gerar uma certa dificuldade. Mas se tivermos esse crescimento de oferta de veículos novos, isso pode aquecer o mercado e ajudar na recomposição de preços, já que poderíamos ter uma redução do valor dos usados, mas é preciso acompanhar essas questões da oferta de veículos", explicou Coimbra.