PIB recupera produtividade, mas Brasil deve ter crescimento freado por guerra e inflação em 2022

Economistas afirmaram que o crescimento de 0,5% do PIB no quarto trimestre de 2021 ficou acima do esperado, mas guerra na Ucrânia pode aumentar pressão inflacionária, gerar novos aumentos de juros e frear recuperação

Legenda: PIB cearense cresceu 0,5% no 3º trimestre deste ano segundo o Ipece
Foto: Reuters

O Brasil pode ter recuperado o nível de produção da economia no período pré-pandemia a partir do último resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que registrou crescimento de 4,6% em 2021. Contudo, economistas destacaram que ainda não é possível garantir um cenário de recuperação constante durante o próximo ano e que o conflito entre Rússia e Ucrânia deverão elevar a pressão inflacionária no País, o que pode travar o reaquecimento da economia em 2022. 

Dados do PIB foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará, Ricardo Coimbra, o crescimento de 0,5% no quarto trimestre de 2021 ante o terceiro trimestre do ano passado ficou acima das expectativas do mercado, e que o cenário pode ter ajudado a zerar as perdes registradas no último ano. Ele destacou que, como em 2020, tivemos uma queda de 3,9% na atividade econômica brasileira, a recuperação geral em 2021, que foi de 4,6% estabilizou o patamar nacional. 

"O resulto foi até bem positivo naquilo que o mercado esperava, já que se esperava crescimento de 0,1% ou 0,2%, e você ter uma alta de 0,5% mostra que mesmo com uma redução do ritmo da economia nós conseguimos fechar o ano com um cenário positivo. Mas a gente observa que praticamente zeramos as perdas de produção de 2020, quando tivemos uma queda de 3,9%, então tivemos um crescimento de uma base menor. Então podemos dizer que o nível de produção da economia brasileira em 2021 é igual ao nível de produção da economia em 2019, o que significa dizer que, parcialmente, o impacto gerado pela retração em 2020 foi cancelado pela recuperação em 2021", explicou. 

Contudo, Coimbra ressaltou que a economia nacional não está vivendo um dos melhores cenários, com os níveis de produtividade sendo comparados ao que se registrava há cerca de 10 anos. Os dados do IBGE, por tanto, representariam uma década perdida economicamente para o País. 

"Para que o Brasil tenha uma recuperação efetiva era preciso que o nível de recuperação fosse bem maior, para recuperar a perda de 2020 e ter uma agregação. É importante observar que tivemos fortes quedas em 2015  e 2016, e nos anos seguintes de 2017, 2018, 2019, tivemos crescimentos baixos. Isso nos leva a crer que o nível de produção da economia brasileira, hoje, seja igual a de uma década atrás, no ano de 2012 ou 2013. Nós temos uma década perdida em relação em crescimento da capacidade produtiva", explicou. 

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Peso da vacinação

Para Wilton Daher, conselheiro consultivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef) e fundador da Inter Consulting Empresarial, esse crescimento do PIB brasileiro é reflexo do avanço da vacinação no País, que já imunizou mais de 70% das pessoas.

Com os ciclos de vacinação sendo completados, mais setores da economia acabam recuperando níveis positivos de atividade e liberação. Ele citou o exemplo do comércio e dos serviços. 

"Essa alta é uma sinalização que a tendência de que se tudo se mantiver constante podemos ter uma recuperação neste ano, com um resultado semelhante ao ano passado. Isso é dado pela vacinação. Já temos mais de 70% da população brasileira vacinada completamente e isso reativa as atividades econômicas em pleno andamento e prestação de serviços, dando uma tendência de que teremos uma relação com o ano passado", disse. 

Contudo, Daher destacou que a recuperação econômica brasileira poderá ser impactada pela guerra entre Ucrânia e Rússia, que vem impactando cadeias produtivos pelo mundo. 

"Nesse meio tempo tivemos a guerra na Ucrânia, que pode trazer reflexos para todo mundo, até porque não sabemos quanto tempo durar, então é difícil fazer uma previsão. Mas estamos vendo uma valorização do real frente ao dólar. Só que ainda vai ser muito difícil voltar ao patamar pré-pandemia. O importante é torcer que a guerra acabe o mais rápido possível porque o Brasil irá sofrer as consequências desse conflito", explicou. 

Exportação e inflação 

Para Luka Barbosa, economista do Itaú, as tensões na Europa geraram um descompasso no mercado de commodities, elevando o preços de vários produtos a partir da redução da oferta, já que Rússia e Ucrânia são produtos de alguns desses itens. 

Considerando que o Brasil é um forte exportador de commodities, a pressão inflacionária por aqui pode ser menor em relação a outros mercados no mundo. Contudo, ele destacou que ainda deveremos registrar alta de preços nos próximos meses. 

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Barbosa explicou que, com a tendência de elevação de preços das commodities, a expectativa de mercado é ver o real voltar a ganhar força na relação cambial com o dólar, mas sem força suficiente para contrapor a pressão inflacionária gerada pelo conflito. 

"O efeito econômico mais latente dessa guerra é um choque no mercado de commodities, e estamos reduzindo a oferta disso no mercado global. Quando se reduz oferta, aumentam-se preços. Países importadores tendem a ter efeitos mais negativos que países exportadores, onde tudo vai ficar mais caro, mas ficaremos mais protegidos do que os países importadores", disse. 

"Talvez a dinâmica cambial no Brasil recente, tenha a ver com isso, porque estamos exportando commodities
A queda do dólar amortece a pressão inflacionária. O reflexo disso é uma pressão inflacionária alta no país, mas ela poderia ser muito maior se não fosse essa questão das exportações de commodities ocorrendo", completou. 

Esse cenário poderá fazer com que o Banco Central mantenha por mais tempo o cenário de altas contantes de alta da taxa básica de juros, a Selic, no Brasil, ajudando a reduzir níveis de atividade econômica e freando a recuperação em 2022. 



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