Mesmo com várias empresas sinalizando a intenção de investir em plantas de hidrogênio verde no Ceará, o mercado do novo tipo de combustível ainda enfrentar desafios importantes para engrenar no Estado: a falta de regulação do Governo Federal e o desequilíbrio das cadeias produtivas e fornecimento de equipamento. A perspectiva foi apresentada elo diretor de operações na Qair Brasil, Gustavo Silva, durante o primeiro dia do Proenergia Summit 2022.
O evento é realizado pelo Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado (Sindienergia-CE), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Para o executivo da Qair, o Ceará já está se programando para se transformar no maior polo de geração e exportação no Brasil. Contudo, o ambiente de negócios no Estado ainda depende das definições do mercado estrangeiro, focado na produção destinada à exportação, e da consolidação de um marco regulatório nacional.
"Para o hidrogênio verde deslanchar no Ceará, precisa haver os marcos regulatórios, decididos na esfera Federal. O Ceará tem uma grande oportunidade e vem se mostrando como um estado para se tornar o principal hub de hidrogênio do País, mas precisa que o Governo Federal crie as regras para comercialização de hidrogênio", disse Silva.
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Para tentar dar mais segurança e previsibilidade aos negócios, a Qair, segundo Gustavo, vem mantendo contatos diretos com os governos Federal e Estadual para que o processo de regulação possa ser finalizado antes do prazo de início das operações.
A Qair, atualmente, conta com dois projetos de hidrogênio verde no Brasil, no Porto do Pecém (Ceará) e outro no Porto de Suape (Pernambuco). Ambos deverão começar a funcionar plenamente em 2026 e evoluir a partir de um plano em quatro fases.
O desenvolvimento gradual das plantas, previstas para ter 2.240 megawatts (mW) de potência, deverá acontecer entre anos de 2026, 2028 para a segunda fase, 2029 para a terceira, e 2031 para a quarta.
"Estamos conversando com ambos, governos Federal e Estadual, e esse assunto não tem ainda um direcionamento claro de como será o processo, até mesmo porque isso está alinhado com o que está sendo discutido fora do Brasil e os primeiros mercados que vão explorar o hidrogênio de baixa emissão. Esses processos de certificação são muito importantes porque vão demandar mais ação também do mercado por aqui", disse Gustavo.
"Nossos projetos estão sendo desenvolvidos para operar em 2026, então nossa expectativa é que até lá já tenhamos um ambiente no Brasil que permita esse desenvolvimento", completou.
Outro ponto destacado por Gustavo Silva foi o impacto da conjuntura global, considerando os conflitos mundiais e questões da pandemia, para o desequilíbrio da cadeia de fornecedores no setor do hidrogênio verde. Esse cenário, que tem alongado os prazos de entrega de produtos, pode acabar virando um entrave para o desenvolvimento do mercado local nos próximos anos.
"Isso pode atrasar porque o hidrogênio não é um mercado consolidado e não tem uma cadeia de fornecedores larga, então tudo vai crescer com o mercado, e tudo vai crescer junto. Os grandes produtores em potencial já estão formando os grupos de fornecedores, e o fornecimento é um dos gargalos para o atingimento de metas, principalmente para atender o mercado europeu", afirmou o executivo da Qair Brasil.