Nesta semana muitas economias, incluindo a brasileira, terão novas definições de taxas de juros para conter tendências inflacionárias em alta, e essa movimentação, além de impactar questões internas nos mercados internacionais, terá impactos diretos para as estratégias de investimentos no Brasil. Atentos ao fluxo de recursos, especialistas ouvidos pela coluna destacaram o cuidado com ativos de risco e a disposição para proteger rendimentos justamente com títulos atrelados à inflação.
A leitura apresentada pelos economistas é de que a economia mundial ainda está se recuperando dos efeitos da pandemia de covid-19, das alterações nas cadeias produtivas geradas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e outras questões de mercado.
E como a conjuntura mantém as perspectivas de alta da inflação, os bancos centrais ainda deverão tentar corrigir esse movimento com novas altas de juros.
Ricardo Coimbra, economista e membro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), explicou que, apesar de menor em relação ao resto do mundo, o Brasil também deverá passar por uma nova alta da Taxa Selic na próxima quarta-feira (21), quando será realizada a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
"Os dados de tendência do processo inflacionário no Brasil e no mundo, mesmo com uma pequena redução, ainda estão um pouco acima da média e do que se esperava para o cenário. Em função disso, a gente visualiza um movimento de alta de juros aqui no País, e nova alta de 0,25%, mas nos Estados Unidos talvez tenhamos uma alta de 0,75%, enquanto na Europa devemos ter aumento pela tendência de altas da inflação", disse.
Com a Selic chegando ao patamar dos 14%, os investidores deveriam se sentir mais atraídos a fazer aportes no mercado brasileiro. Contudo, com os bancos centrais pelo mundo sinalizando um cenário de inflação em alta e possíveis novas altas de juros em mercados mais seguros, como Estados Unidos e Europa, o flux de capital deverá ser levado a outros locais.
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Nos Estados Unidos, a expectativa é que o Federal Reserve (Fed, banco central do país) aplique um reajuste de 0,75 ponto percentual, elevando a taxa de juros para um intervalo entre 3% e 3,25%. A decisão será anunciada no próximo dia 21, mesma data do banco central brasileiro.
Já no Reino Unido, o Bank of England (BoE) deverá aumentar os juros em 0,5 ponto percentual, saltando para 2,25% ao ano. O ajuste deverá acontecer no próximo dia 22.
Na mesma data, o Japão deverá manter a taxa de juros em -0,1%, com um sinal negativo por conta da inflação relativamente baixa.
Essa movimentação dos bancos centrais, segundo Silvana Parente, economista e presidente do Corecon-CE, deverá alterar os fluxos de capital, possivelmente enfraquecendo o valor das empresas no Brasil.
"O impacto de tudo isso é que são menos estímulos em países com maiores níveis de risco, como o Brasil, e isso deve afetar a nossa bolsa, até porque 50% dos investidores aqui são estrangeiros", disse.
"Isso pode ajudar a reduzir o preço das ações brasileiras e deve levar investidores a buscar opções mais seguras e que protejam da inflação", completou Parente.
Com essa aversão ao risco no mercado internacional, a tendência, segundo a presidente do Corecon-CE, é que as opções de renda variável percam forças até a reversão do cenário de juros altos.
A perspectiva é corroborada por Eliardo Vieira, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), que destacou como as mudanças na Taxa Selic poderão impactar as estratégias de investimento.
Como o cenário é de manutenção de inflação em alta até o início de 2023, buscar títulos que protejam os rendimentos são as melhores opções, com investidores podendo prestar atenção às opções atreladas à Selic.
"Sem dúvida, dependendo da estratégia, os títulos de renda fixa atrelados à inflação já foram bem atrativos, mas agora o que aparece como boa opção são os títulos que possam ser vinculadas à Taxa Selic tão alta. Um juro real de 13% ou 14% ao ano é uma bela aplicação, e dificilmente uma ação ou opção de renda variável superaria esse valor no longo prazo, então é uma boa oportunidade para quem gosta de renda fixa ou para quem quer diversificar a carteira", explicou.
No entanto, Vieira ressaltou ser importante evitar contrair novas dívidas para não ser pressionado pela elevação da Taxa Selic.
"A população tem de ficar atenta à captação de recursos, como no cartão de crédito, empréstimos a pessoas físicas ficarão mais caros, então é preciso ter cuidado com dívidas. Em compensação, quem tiver sobra de recursos, vai estar fazendo aplicações em renda fixa muito melhores, com rentabilidade maiores", disse.