A criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Horto do Padre Cícero vai ser debatida em consulta pública às 14h do dia 7 de março no YouTube, num evento que será realizado por profissionais da Universidade Regional do Cariri
Quem vive em Juazeiro do Norte sempre enxerga no horizonte a presença vigilante da estátua do Padre Cícero. O Padim de 27 metros de concreto fica no topo da Serra do Catolé, a mais de 500 metros de altitude. Por motivos religiosos, acabou ganhando o nome de Horto, numa referência ao Horto das Oliveiras, do Novo Testamento. Inclusive, está sendo erguida lá uma igreja em formato espiral chamada de Bom Jesus do Horto.
Só que o Horto do Padre Cícero também faz jus ao sentido literal que carrega o nome: área onde se cultivam plantas. É um espaço bastante arborizado. Há inclusive, por trás da estátua, uma trilha de cerca de 3 quilômetros que leva ao Santo Sepulcro, onde estão localizadas capelas minúsculas e pedras, muitas pedras.
É um lajedo, como a gente costuma dizer. Para os romeiros, são pedras esculpidas pela fé! Há, por exemplo, uma rocha enorme com uma fenda por onde, dizem, só passa quem não tiver pecado. Já fiz a trilha e não me atrevi porque tenho pecado e barriga demais para tanto.
O fato é que o Horto do Padre Cícero é um passeio divertido. A estátua é só a atração mais famosa. A boa notícia é que, finalmente, esse espaço deve ser transformado em unidade de conservação.
O secretário estadual de Meio Ambiente, Artur Bruno, disse a esta coluna que a Área de Proteção Ambiental (APA) do Horto do Padre Cícero vai ser debatida em consulta pública às 14h do dia 7 de março no YouTube, num evento que será realizado por profissionais da Universidade Regional do Cariri. O secretário afirma que a APA terá 800 hectares.
A justificativa apresentada em documentos da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Sema) é de que o território deve ser gerido como unidade de conservação para garantir a preservação da flora, da fauna, dos cursos de água e da beleza cênica. A escolha seria por uma unidade de uso sustentável e não de proteção integral.
Traduzindo do ambientalês, significa que as pessoas que moram na área não terão que ser removidas, mas que, a partir da criação da APA, a exploração imobiliária nas encostas e na área florestada vai ser fiscalizada. Além disso, o turismo sustentável será estimulado. Lembrando que o local é um dos mais visitados do interior do Nordeste. E o fluxo deve aumentar: em questão de meses, será possível chegar ao Horto por meio de um teleférico.
O projeto da Sema tem apoio do Geopark Araripe. Os geoparques são áreas reconhecidas pela Unesco como de preservação necessária por reunirem elementos capazes de contar um capítulo importante da história do planeta. O do Cariri é o único geopark do Brasil. E o Horto já é um geossítio, um dos territórios que formam o geoparque.
Padim teria profetizado a APA?
Como bem lembra a justificativa apresentada no projeto, a proposta "dialoga profundamente com os preceitos ecológicos do Padre Cícero". Abaixo, cito alguns dos mandamentos que têm tudo a ver com a necessidade de proteger o Horto do Padim:
- Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau;
- Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza
- Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer
- Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.
Lendo os preceitos, pergunto: teria o Padim previsto a criação da APA do Horto? Só pode! No Cariri, não tem para Baba Vanga mesmo.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.