Introdução alimentar: especialista dá dicas para começar nova fase

A nova etapa deve ser iniciada a partir dos seis meses e requer paciência para ajudar a criança a encarar a nova forma de comer

Legenda: Além da idade, é preciso observar os que os profissionais chamam de sinais de prontidão para iniciar a introdução alimentar
Foto: Shutterstock

Um momento bastante esperado por pais é o início da introdução alimentar dos bebês. Essa fase é marcada pelo momento em que a criança deixa apenas de ingerir o leite e passa a conhecer outros alimentos. Embora seja aguardada, essa nova etapa traz, para alguns, insegurança e anseios.  

Visando desbravar esse mundo, trago no texto de hoje uma série de explicações a partir de uma conversa com a nutricionista materno infantil Daniele Castelo. Antes de começarmos, vale lembrar que essa é uma fase nova para toda a família e é preciso respeitar o tempo e a aceitação do bebê. 

A introdução alimentar deve ser iniciada, segundo Daniele Castelo, quando o bebê faz seis meses, pois este é o período no qual o trato digestivo da criança está amadurecido, com todas as funções orgânicas prontas para receber um alimento diferente do leite. Além da idade, é preciso observar os que os profissionais chamam de sinais de prontidão.  

Conforme a nutricionista são três os sinais de prontidão que os profissionais verificaram para iniciar a introdução. São eles: bebê precisa sentar e firmar o pescoço, ter interesse em levar coisas a boca dele e demonstrar interesse em querer comer o que outras pessoas estão se alimentando ao redor.  

“Vários estudos já demonstraram que o momento ideal é aos seis meses. Nenhum motivo, como retorno da mãe ao trabalho, redução do leite materno, ganho de peso insuficiente, alergia ou uma APLV, justifica iniciar antes dos seis, então a gente começa a introdução alimentar aos seis meses”, detalha. 

Daniele afirma que não existe um cálculo específico para saber o quanto de comida é fornecido à criança. Ela explica que a responsabilidade do adulto é fornecer uma refeição colorida, segura e é o bebê quem define o quanto irá comer. A nutricionista reforçar que a família deve ficar atenta sobre sinais de fome e saciedade.  

“A família deve ficar atenta aos sinais de fome e saciedade do bebê. Dar mais comida quando ele ainda demonstra fome e parar de ofertar comida quando ele se mostrar saciado. Além disso, não se deve forçar nem colocar distrações tipo televisão, desenho animado, e respeitar os sinais claros que o bebê dá quando está satisfeito”, diz. 

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Durante esse processo de introdução alimentar, a amamentação ou oferta de fórmula deve seguir respeitando a demanda do bebê. A especialista diz que o leite não atrapalha a nova fase sendo preciso que se dê tempo para a criança se acostumar com a nova forma de comer.  

“O leite não atrapalha a introdução alimentar. Então pode ser que, por exemplo, provando uma nova fruta no primeiro momento ele não goste. E aí ele prova e bota para fora. Cansou, travou a boca, não quer mais comer? Tira o bebê da cadeira, dá um banho ou limpa o bebê. Se ele demonstrar fome, então, a oferta de leite quer seja mama ou fórmula segue a demanda do bebê”.
Daniele Castelo
Nutricionista

Com qual fruta iniciar?

Outra dúvida bastante comum entre os pais é sobre qual fruta escolher e se existe uma mais indicada na hora de começar a apresentar os alimentos para a criança. Daniele aconselha que as famílias escolham uma fruta gostosa, suculenta e doce, para ser algo agradável e complementa dizendo que não há uma opção mais certa ou uma ordem de frutas para ser seguida. 

“O bebê vai começar uma alimentação totalmente diferente da que ele está acostumado e então precisa ser uma coisa prazerosa. [...] Eu sugiro que comece por frutas bem docinhas. O mamão bem maduro, uma banana, uma manga. Não existe fruta proibida e não existe ordem de fruta. Quanto mais gostosa, melhor”. 

A nutricionista esclarece também que os bebês nascem com o paladar mais para o doce, tendo uma preferência inata por esse sabor. Por isso, ela destaca a introdução alimentar como uma oportunidade de fazer com que a criança sinta prazer com diferentes sabores. A melhor dica, segundo a profissional, é expor o bebê ao maior número diferente de texturas, de sensações para que ele crie um repertório na língua de diferentes sabores. 

Criança em cadeirinha com mão nos olhos para não comer mais
Legenda: Uma dica da especialista é ficar alerta e respeitas os sinais da criança de fome e também de saciedade
Foto: Shutterstock

Para os pais que sofrem porque o bebê não está aceitando bem a nova alimentação, Daniele Castelo pede paciência. Ela lembra que a criança está aprendendo um novo modelo de comer sendo necessário dar tempo para a criança criar uma boa relação com o momento da refeição.  

“Até então, durante seis meses, o bebê comeu deitado em um colo ou sentadinho em um colo de alguém mamando ao seio da mãe ou em uma mamadeira um alimento branco líquido. Agora, ele vai aprender um novo modo de comer. Que para começar é sentado, diante de um bocado de coisa, de uma série de alimentos que nunca viu na vida”.  

“Lembra que vai ser vai se iniciar a introdução da alimentação complementar. O principal alimento ainda é o leite. Então se eu for com calma, com paciência. com respeito vai dar certo. Sem grandes exigências. Lembrando que são grandes mudanças que estão acontecendo na cabecinha do bebê. O respeito e a paciência são fundamentais”, reforça. 

O processo de introdução alimentar não acaba com o primeiro ano de vida. A profissional diz que a literatura não fecha em uma idade específica e ela ocorre até quando alimentos forem apresentados para a criança. No entanto, "via de regra, é até dois anos a gente usa mais essa nomenclatura".

Introdução alimentar participativa e BLW 

Criança comendo brócolis
Legenda: É importante que as crianças sintam a textura dos alimentos nessa etapa
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A especialista detalha que, atualmente, são dois métodos principais utilizados na introdução alimentar, a participativa e o BLW. Na primeira, é ofertado aos bebês parte dos alimentos amassados com garfo e parte em pedaços para que a criança possa tocar e levar a boca. Já o BLW é uma oferta do alimento 100% em pedaços.  

“A participa é um misto entre a comida amassada e a comida em pedaços, na qual na amassada o adulto que está ofertando o alimento vai dando aos poucos enquanto o bebê pega com a mão o pedaço. O BLW não tem o amassado é cem por cento em pedaços e aí existe a forma de apresentação segura desse pedaço, o corte, o amadurecimento e o cozimento seguro desse pedaço para não ser uma refeição que traga risco pro bebê”. 

Não existe, segundo a nutricionista, um método mais adequado ou melhor. A escolha depende muito da conversa que o profissional tem com a família. Daniele ilustra afirmando que se tem uma família que não se sente segura em ofertar os pedaços ao bebê, tem medo ou histórico de engasgo, ela não irá sugerir o BLW.   

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Alimentação com sal 

O consumo de alimentos com sal é indicado, de acordo com a profissional, a partir de um ano. Daniele detalha que costuma explicar aos pais que nessa idade a criança passa a comer a comida da família  

“Desde a consulta de introdução alimentar eu já aviso pra família que a partir de um ano de idade o bebê vai comer a comida da família. Então, se na casa ainda usa os temperos prontos em cubos, que aos poucos a casa vá substituindo isso por temperos naturais porque com um ano de idade o bebê come a comida da família com sal”, explica. 

Açúcar para criança? 

Sobre o consumo de açúcar por crianças, Daniele Castelo afirma que não existe uma idade ideal de quando ofertar. O que se pede, conforme ela, é que não seja dado antes dos dois anos.  

“O açúcar de adição em um suco, em um em um leite, em uma panqueca. a gente desaconselha. Não é necessário se o bebê topa comer sem açúcar. Né? Mas a partir de dois anos ele pode começar a ter contato com preparações com açúcar”, detalha. 

Sucos 

A partir de um ano, pode ser ofertado suco para as crianças conforme sugestão da Sociedade Brasileira de Pediatria. A nutricionista afirma que alerta para que esses sucos não substituam as frutas em si. Eles devem ser natural e sem açúcar.  

Alimentos com potencial alérgico 

Daniele complementa ainda que é entendido hoje que os alimentos com potencial alérgico devem ser apresentados ao bebê antes do um ano de vida, por que diminui as chances do bebê ter alergia. Esses produtos são ovo, camarão, castanha e caranguejo, por exemplo. Ela lembra, no entanto, que tudo deve ser feito sob orientação para que se adéque a forma de apresentação e como vai expor o bebê aquele alimento.