22% das mulheres cearenses não se lembram de nenhum dos seis candidatos em que votaram nas eleições de 2018, segundo pesquisa do Instituto Opnus, obtida com exclusividade pelo Sistema Verdes Mares. O percentual é o dobro do total de pessoas do sexo masculino.
Quando o recorte na pesquisa é feito por sexo, somente 3% das mulheres lembram todos os candidatos, 74% se recorda apenas de um e 22%, de nenhum.
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A situação se agrava quando o assunto é Poder Legislativo: 7 em cada 10 mulheres não lembra qual nome escolheu para senador ou senadora, deputados ou deputadas federal e estadual. Entre os homens, o percentual é menor, 49%, cerca de 5 em cada 10.
Para a Presidência da República e o Governo do Estado, a amnésia se repete: 52% delas não lembram o escolhido para presidente, e 45%, para governador no primeiro turno. Para os homens, esses percentuais são, respectivamente, 36% e 40%.
O "esquecimento eleitoral" atinge os diferentes públicos, de diferentes lugares, não é um fenômeno específico do Ceará ou mesmo do Brasil. Ainda assim, não deixa de representar prejuízos para a democracia e para os avanços em direitos políticos, econômicos e sociais, principalmente quando focamos na relação das mulheres com a política no nosso país.
Uma mulher que não lembra em quem votou também não vai se recordar do que o eleito ou eleita fez com o voto que recebeu, como se posicionou, que ações propôs, que direitos efetivou, principalmente, no que diz respeito às necessidades do público feminino.
As mulheres ainda estão distantes do poder político em todas as esferas, desde o engajamento no direito ao voto, tão duramente conquistado há 90 anos (a serem completados no próximo 24 de feveiro), até a representatividade nos cargos.
O Brasil ocupa a 142ª posição do ranking internacional de participação de mulheres na política entre 192 países. Na América Latina, só o Haiti perde para o Brasil no levantamento da União Interparlamentar, a partir da composição do Legislativo de cada país na esfera federal, atualizado em outubro do ano passado. Para se ter uma noção da gravidade, a vizinha Argentina ocupa a 20ª posição.
Nessas mesmas eleições de 2018, nas quais a maioria das mulheres não lembra em quem votou para o Legislativo, levamos ao poder apenas 15% de deputadas federais e 15,56% de senadoras. No Ceará, a situação é igualmente crítica: apenas uma mulher foi eleita na bancada federal, Luizianne Lins (PT), e seis mulheres na Assembleia Legislativa, dentre as quais, uma se tornou prefeita em 2020, Patrícia Aguiar (PSD). Em 2014, foram eleitas duas deputadas federais e sete estaduais.
Nas eleições municipais de 2020, a presença feminina aumentou, mas o Ceará ainda tem 16 câmaras municipais sem vereadoras. Como se não bastassem as ausências, a Justiça Eleitoral no Estado tem identificado diferentes casos envolvendo fraudes em candidaturas femininas.
Mulheres, precisamos nos engajar nas nossas escolhas políticas e acompanhá-las ao longo dos quatro anos de mandato. Temos muitas violências a combater: violência política, violência virtual, violência moral e psicológica, violência institucional, violência racial, violência física, violência sexual e violência de gênero. As lutas contra as violências e por direitos no trabalho, no espaço público, na saúde, na educação, passam pela política.
O espaço de voz e de ação política nos custa muito caro e merece ser valorizado. As próximas eleições acontecem em poucos meses, conheça os candidatos e candidatas, acompanhe os trabalhos de cada um nas redes sociais, cobre, opine, faça valer o seu direito de escolha. Se o votado ou votada cai no esquecimento, quem dirá o eleitor ou a eleitora que deu o voto.
A pesquisa, realizada entre os dias 9 e 14 de fevereiro deste ano, se refere ao 1º turno das eleições de 2018. Para o resultado, o Instituto Opnus realizou 2.200 entrevistas presenciais domiciliares, com pessoas de 16 anos ou mais, residentes em 101 municípios.
A margem de erro, segundo o Opnus, é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos para os resultados totais da amostra, com um Intervalo de Confiança de 95%.