De Eduardo Cunha a Arthur Lira: Cid Gomes volta a ser assombrado pelo fantasma do 'achacador'

Senador é alvo de processo por ter se referido a Arthur Lira com mesmo termo usado contra Eduardo Cunha em 2015

Legenda: Eduardo Cunha, Cid Gomes e Arthur Lira
Foto: Agência Brasil, Agência Senado e Agência Câmara

O ano era 2015, e Cid Gomes, logo após deixar o Governo do Ceará, alçava novo voo: ministro da Educação no segundo Governo Dilma, cujo slogan era, justamente, "Brasil, Pátria Educadora". O clima de festa durou pouco. Em poucas semanas, Cid protagonizou um dos episódios mais caóticos do Poder Legislativo brasileiro, ao ser convocado para "explicar" porque havia acusado parlamentares de fazerem achaque com o governo.

Agora, o ano é 2023, e Cid Gomes, agora senador, terá de explicar ao Conselho de Ética do Senado porque, em 2019, chamou o hoje presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), de "achacador".

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"Eduardo Cunha original está preso, mas está solto o líder do PP que se chama Arthur Lira, que é um achacador, uma pessoa que no seu dia a dia, a sua prática é toda voltada para a chantagem, para a criação de dificuldade para encontrar propostas de solução", disse o senador. 

Em um intervalo de oito anos, o fantasma do achaque assombra Cid Gomes novamente.

O caso de 2015

Pouco após assumir o MEC, durante visita à Universidade Federal do Pará, Cid deu a seguinte declaração em um evento fechado: “Tem lá (no Congresso) uns 400 deputados, 300 deputados que, quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas”. 

Na época, havia um impasse envolvendo a aprovação do Orçamento e uma queda de braço do recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB), com a presidente Dilma Rousseff. A gravação de Cid imediatamente gerou burburinhos. 

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Cid ainda tentou explicar que sua declaração não foi sua “opinião pública”, que a teria feito a um grupo de estudantes, dentro da sala do reitor da Universidade Federal do Pará, depois de ser questionado sobre a falta de recursos para a pasta. Ele lembrou também que, durante seu governo, manteve boa gestão com o Legislativo. Mas de nada adiantou. 

Cid foi convocado para prestar esclarecimentos no plenário da Câmara dos Deputados e foi alvo de uma série de ataques de lideranças partidárias de oposição. O então ministro ainda pediu desculpas “a quem se sentiu ofendido”, mas, em certo momento, voltou a tecer críticas. Apontando ao presidente da Casa, Cid disse: “Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque, como diz a capa da Folha de S. Paulo”. 

O tumulto que se prolongou a partir dali resultou no ministro deixando o plenário após ser chamado de “palhaço” pelo deputado Sergio Szveiter (PSD-RJ) e ter o microfone cortado por Cunha. No mesmo dia, Cid anunciou seu pedido de demissão da pasta, em 18 de março de 2015.  

O caso de 2019

A fala contra Lira aconteceu durante debates sobre recursos do megaleilão de petróleo do pré-sal. Na ocasião, o ex-governador disse ainda que o Senado não podia ficar refém de decisões da Câmara e de um grupo de lideranças partidárias.

Lira era líder do PP na época. "Podem escrever o que estou dizendo, é o projeto do futuro Eduardo Cunha brasileiro", disse ainda Cid sobre o parlamentar.

Na sessão na Câmara, minutos depois das críticas, Lira respondeu o senador. “Vai responder a um processo para mostrar e demonstrar onde, quando e em que tema qualquer líder partidário sofreu achaque deste parlamentar”. Ele ainda chamou Cid de “leviano”, “vulgar” e “pequeno”. 

A postura de Cid

No final do ano passado, às vésperas de novo cearense assumir o MEC, Cid relembrou o episódio: "Eu fui convocado a ir na Câmara e fui destratado - e não há nada que faça eu me submeter a destratos”, pontou.

E qual será a postura de Cid agora? O senador ainda não se pronunciou sobre a abertura do processo. No Conselho de Ética, ele tem o prazo de 10 dias para apresentar defesa. Só depois do prazo, o relator, senador Davi Alcolumbre (União), apresentará relatório.

Há punições previstas para uma possível quebra de decoro, que vão de advertência a perda de mandato. Em 2015, as adjetivações de Cid custaram caro a sua carreira política. É ver agora o quanto o fantasma do "achacador" ou de Eduardo Cunha, afinal, vai assombrar o pedetista novamente.

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