Por que o Ceará não se destaca na atração de turistas sul-americanos?
De Salvador para países da América do Sul voam as companhias Aerolíneas Argentinas, Sky, Flybondi e Gol. São 37 partidas mensais. Só em junho deste ano, chegaram à Bahia por via aérea 2.527 argentinos.
Já de Recife, voam Jetsmart, Gol e Azul com 25 partidas mensais para Argentina, Uruguai e Chile. No mês passado, chegaram por via aérea 1.524 argentinos à capital pernambucana.
O número deve aumentar, depois que a Latam anunciou que voará entre a capital pernambucana e Buenos Aires.
Já de Fortaleza, voam apenas duas empresas: Gol para Buenos Aires, Latam para Santiago e Air France para Caiena. Por que a capital cearense não se destaca como Salvador e Recife?
No contexto de atração de europeus, as três cidades possuem simetria na atração. Por que o mesmo não ocorre com os sul-americanos?
Lembrando, Fortaleza tem mantido apenas quatro saídas semanais: duas para Buenos Aires, uma semanal para Santiago e uma semanal para Caiena, apenas 16 mensais.
Em junho, foram apenas 881 argentinos: 1/3 de Salvador e metade do que Recife tem hoje. Com a Latam em Recife, Fortaleza deve ficar mais atrás.
A Gol vai voar entre Fortaleza e Montevidéu. Porém, trata-se de apenas 1 voo semanal, sem data ainda de início. Parece que a Gol não vê como o melhor negócio para si.
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Por que o Ceará não atrai mais os argentinos?
Segundo o secretário do Turismo do Ceará, Eduardo Bismarck, os turistas argentinos gostam muito de hospedagens com pacotes all inclusive, modalidade com todas as refeições contidas no pacote, algo que existe mais em Pernambuco e Bahia em comparação com o Ceará.
A coluna questionou a Setur quais outros motivos eles acreditam que têm influenciado para que o Ceará não tenha ainda atingido os mesmos níveis de visitação que os outros dois vizinhos nordestinos:
“A Secretaria do Turismo do Ceará fez investimentos em promoção na Argentina, em conjunto com operadoras argentinas, e mantém contato constante com companhias aéreas brasileiras e internacionais, tais como JetSmart e SKY, visando ao aumento da conectividade — algumas tratativas já em estágio mais avançado”, disse em nota a pasta.
Segundo a secretaria, o foco não estaria somente na Argentina, mas na América do Sul como um todo, diversificando e buscando novos mercados, como Montevidéu e Foz do Iguaçu — operações que também trazem turistas argentinos.
“Os resultados já têm se mostrado efetivos: tanto que, neste ano de 2025, os argentinos subiram posições e ocupam agora o segundo lugar entre as nacionalidades que mais visitam o Ceará. Espera-se que, com essas e outras ações, os números cresçam ainda mais”, informou a Setur.
Os argentinos são a 2ª nacionalidade com mais visitantes no Ceará no 1º semestre de 2025, o que de fato representa um avanço, segundo dados da Embratur, com mais de 7 mil chegadas. Entretanto, na Bahia eles foram 44 mil e em Pernambuco 10,5 mil em igual período.
Estão faltando mais companhias, com mais voos, mais diversidade de horários, mais flexibilidade. Em Recife, por exemplo, serão muito mais operações com as chegadas de Jetsmart, Latam e sem citar os recentes voos da Gol para Córdoba.
O Ceará precisa desdobrar uma nova estratégia para aproveitar o grande potencial que os argentinos têm de realizar turismo no Brasil. Eles são a nacionalidade que mais visitam o Brasil.
Por que então o estado não teria o mesmo “charme” para os argentinos, para chilenos, para citarmos alguns dos principais visitantes da região?
Até mesmo a Latam que opera vários destinos domésticos e alguns internacionais a partir de Fortaleza, escolheu Recife para reiniciar voos a Buenos Aires. Ainda, peguemos os voos da Latam para Santiago, que partem de Fortaleza e Recife.
As taxas de ocupação saindo de Recife são todas melhores, com média de 80% no 1º semestre, contra 72% de média a partir de Fortaleza.
De fato, Bahia e Pernambuco aparentam ser mais interessantes para os países do Cone-Sul. Não basta ter os voos, pois eles não estão tão lotados.
Pernambuco e Bahia têm relações mais antigas com Argentina
Segundo o ex-diplomata e professor de Direito Internacional, Paulo Portela, Pernambuco e Bahia possuem relacionamento mais longevo com países da América do Sul.
“No Ceará, existem voos internacionais desde a década de 1990. Recife e Salvador já estão conectadas ao exterior desde os anos 1940. Salvador e Recife já são buscadas pelos turistas argentinos há muito mais tempo”, disse o professor
“Outro ponto, certa vez estava no Consulado da Argentina em Recife e perguntei quando eles teriam um consulado em Fortaleza. Eles responderam que o Consulado em Recife tinha mais de 200 anos, era uma ligação mais antiga, assim permaneceria por lá”.
Segundo Portela, a Bahia seria um dos estados mais vivos no imaginário dos argentinos: “Existe a questão fortíssima da cultura baiana, o Pelourinho, a Igreja do Bomfim, a ligação com a África. Recife tem também arquitetura interessante, há carnaval nos dois estados”.
Ceará precisa diversificar pauta turística de praia e sol
“O Ceará precisa de um turismo mais variado que praia e sol. O Ceará concorrendo com sol e praia está concorrendo com Cancún, com Cuba, com Cabo Verde, com a Tailândia. Concorre com gente demais e gente melhor”, disse Portela.
É verdade também que a Bahia é mais próxima geograficamente do Cone-Sul. Isso faz com que as operações sejam menos custosas para as companhias também. Isso seria relevante?
Também valeria a pena o estado subsidiar operações de companhias estrangeiras como a Aerolíneas Argentinas, dado que eles trazem milhares de argentinos por ano à Bahia e Pernambuco.
Poderíamos falar da mesma forma dos uruguaios, paraguaios, chilenos. Todos esses já voam com mais frequência ao Nordeste e chegam pouco ao Ceará.
Novamente, os turistas do Cone-Sul têm grande potencial de mudar os números do turismo no Brasil. O Ceará precisa se valer mais disso, não há razão para o Estado não ter fatia mais relevante dessa pizza.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.