Acompanhamos da redação a audiência do material jornalístico que publicamos diariamente. É uma tendência no mundo inteiro, o que funciona como termômetro acerca do nosso leitor, nosso público. Em alguns momentos esse monitoramento nos traz respostas, em outros, traz também questões, que podem acabar virando novas discussões e reportagens. Mas tudo isso nos mostra o quanto algumas pessoas são afetadas - atravessadas mesmo - por histórias e seus desfechos, ainda mais quando têm ligações com o território-cenário.
Tem sido assim com a narrativa protagonizada pelo Edifício São Pedro. Aquele que a Prefeitura de Fortaleza resolveu começar a demolir nesta semana. A cada conteúdo publicado - matérias, colunas, postagens em redes sociais - é perceptível o interesse do público no assunto. E nem falo em índices absurdos de audiência. Até reflito, sim, sobre números, porque isso nos mostra cenários importantes, mas me refiro mesmo é aos comportamentos e debates em torno do assunto.
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Menciono esses caminhos que o leitor percorre em busca de mais informações sobre o prédio de 73 anos, que há anos é protagonista de expectativas - para uma parte da cidade. Além de funcionar como esse termômetro social, esse comportamento nos mostra, de forma cada vez mais forte, o quanto o jornalismo tem um papel relevante na preservação da nossa memória, da nossa história e também do patrimônio material e imaterial de nossa cidade.
Isso não é novo, pelo contrário. Há cerca de 10 anos, eu já editava matérias sobre o Edifício São Pedro. Já discutíamos os possíveis destinos do imóvel, as histórias contadas por quem o cerca e tantos outros temas relacionados ao prédio. Reportamos em outros momentos o debate social em torno do lugar. Buscávamos respostas e reflexões sobre o tema.
Até hoje não temos todas as respostas, e talvez esse não seja nosso papel. O que percebemos, no entanto, é que as pessoas querem saber o desfecho dessa narrativa, porque a história do São Pedro, feito drama de cinema, de televisão, se desenrola em vários capítulos.
Mexe com questões práticas - como o que será do local, quanto custa recuperar -, mas afeta também os nossos anseios sobre o papel do prédio na construção da memória e patrimônio de uma cidade.
Muitas foram as promessas, ideias e projetos em relação ao edifício septuagenário. Então, muitas foram também as expectativas. E o próprio desfecho da história que se tem quando se anuncia o “capítulo demolição” abre questões e curiosidade sobre novas narrativas: Por que tanta demora? O que será feito? Quanto vale aquele espaço? Como fica nossa memória e patrimônio? Quem se importa…
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Acompanhar, então, audiência, debates e novas decisões nos faz pensar o quanto toda essa história já é um capítulo enorme da nossa própria trajetória, dos destino dos nossos patrimônios e de como eles são tratados; de como a cidade - ou parte dela - reage aos desfechos que, há mais de uma década, têm sido criados para o Edifício São Pedro ou para outros espaços que contam nossas vivências.
A demolição começou, mas ainda não é o fim, porque o fato de estarmos aqui para registrar em material jornalístico cada desenrolar garante que, mesmo após ruir, o São Pedro continuará. A sua própria desconstrução é prova de que precisamos do jornalismo para preservar histórias que não podem (apenas) acabar. Porque histórias, quando registradas, permanecem.