Na televisão e nas redes sociais, eles parecem encarnar personagens. Usam óculos juliet, atuam como se gravassem clipes de seus jingles-chiclete, trocam a camisa de botão que marcaram toda uma vida pública por camiseta, fazem de desenhos animados uma família, abusam dos jargões. Correm, comem pastel de feira a panelada, num eterno vlog que, ao que parece, durará toda a campanha eleitoral. Anunciam mudanças de rota, incorporam slogan, garantem que agora são paz e amor. Viralizam nacionalmente. Parece que estou falando de influencers, mas na verdade são candidatos em busca de fisgar o voto do eleitor.
Na campanha do meme, vale tudo? Uma das notícias mais compartilhadas sobre o primeiro debate dos candidatos a prefeito de Fortaleza foi sobre a expressão "chupa aqui pra ver se sai leite", usada por um candidato para defender-se, ao ser chamado por um opositor de garganta de aluguel. Mas nas redes sociais, vemos candidatos e seus padrinhos políticos e aliados correndo, dançando e entrando nas mais variadas trends pelo seu voto.
Em meio à toda essa lacração e às personas criadas pelos candidatos para conquistar o eleitor - e para viralizar além das divisas cearenses-, precisamos estar ainda mais atentos contra as distrações para conseguir avaliar o que, de fato, vale e merece um voto. Separar joio do trigo e meme de proposta para tentar entender quem tem projeto para a quarta capital do país e qual é este projeto. Estamos de fato de acordo com ele?
Não creiam no coach-candidato Pablo Marçal, que em São Paulo disse que debate é apenas um grande teatro e quem quer saber de proposta acessará o documento que os candidatos são obrigados a enviar para a Justiça Eleitoral. Na prática, pouca gente se debruça sobre o documento e há muito mais a se avaliar de um candidato do que o que ele coloca no papel. O tete a tete ou as cobranças virtuais são também instrumentos legítimos para fazê-los se comprometer com agendas e para fazê-los apresentar novas propostas. Há muitas camadas a serem avaliadas de um programa político.
Houve um tempo em que tentávamos sentir o clima eleitoral conversando com as pessoas nos bancos da Praça do Ferreira, em Fortaleza, ou no Beco do Cotovelo, em Sobral - espaços físicos onde a vida acontece no cotidiano das cidades e se falava e ouvia sobre tudo. Olhando para a enérgica campanha política das redes sociais de hoje, parece coisa de outros tempos. Mas uma coisa acredito que esteja em todos os formatos: a necessidade do candidato empolgar (e de convencer) o eleitor.
Não é tarefa fácil nestes tempos para quem postula cargo público. Tampouco é tarefa fácil para o eleitor escapar das distrações do meme enquanto rimos na internet. Mas é preciso lembrar que essa escolha influenciará o destino de milhões de pessoas e de políticas públicas importantes pelos próximos quatro anos. Vale a pena o trabalho da leitura, o questionamento, a escuta. Precisamos sair do meme e refletir com seriedade e tranquilidade. O que vale o seu voto nestas eleições?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
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