Ilê Aiyê, o bloco de negros para negros que afrontou a ditadura há 50 anos

Bloco fundado na Bahia em 1974 teve seu primeiro nome, Poder Negro, censurado no país que já negava o racismo. Hoje, segue como símbolo da luta política do povo negro no Brasil

Legenda: Fundado na Bahia em 1974 como Poder Negro, o primeiro desfile do bloco, em 1975, incomodou as elites
Foto: André Frutuôso / Divulgação

Faz 50 anos que o Ilê Aiyê nasceu na Bahia. Teve como berço um terreiro de candomblé jeje-nagô liderado pela ialorixá Mãe Hilda Jitolu. Veio nos ideais de Vovô e Popó, dois jovens ligados no movimento norte-americano dos Panteras Negras e interessados na autoafirmação do povo negro. Nada mais para cabelo raspado no zero. Na coroa do black, tem poder. Coloca o turbante na cabeça, se veste com muita cor. Tambores a todo vapor que o bloco Poder Negro vai passar.

Espera que é 1974, tempos de ditadura militar no Brasil. O receio de censura e repressão mudaram o nome, mas a resistência está no DNA do bloco. Em iorubá, ilê significa casa e aiyê terra. Corre que nasceu a casa de negros, o bloco deles, a terra deles. Uma contravenção às recusas dos outros blocos baianos em recebê-los.

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O primeiro desfile, em 1975, incomodou as elites. O impacto da alta presença negra no bloco gerou uma nota negativa no jornal baiano "A Tarde", que falava de um "feio espetáculo" e dizia que "felizmente não há problema racial no Brasil". Anos depois, o periódico se retratou.

Enquanto o país negava o racismo, o mundo começava a ver crescer os movimentos de negritude. Prisão de Ângela Davis, criação do Dia da África pela ONU. Vários países africanos se tornam independentes, como Cabo Frio, Angola e Moçambique.

O Ilê arregaça as mangas para valorizar e expandir a cultura afro-brasileira. Homenageia países africanos e episódios que contribuíram para o processo de fortalecimento da identidade étnica e da autoestima do negro brasileiro. Quatro anos depois da fundação, o bloco ganha sua identidade visual feita pelo artista Jota Cunha: uma máscara africana com quatro búzios abertos na testa em forma de cruz.

O Ilê ficou grande, gigante no significado para a luta antirracista. Carnaval pós carnaval, foi acumulando cada vez mais adeptos. O primeiro bloco afro do País passou a inspirar a criação de outros, na Bahia e de norte a sul do Brasil.

Há 45 anos, foi criada a Noite da Beleza Negra. Vinte dias antes do carnaval, um evento para exaltar a beleza da mulher negra é realizado até hoje. Depois que o Ilê começou a passar, mais autoafirmação e inspiração. Artistas negros inspirados de norte a sul do país - do axé ao samba e rap. Carnaval é tempo de exaltar a África, a cultura negra. É expressão de luta política. Viva o Ilê!

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