Consciência negra e as afrocearensidades

No Ceará, o Festival Afrocearensidades apresentará as resistências a partir das diversas expressões político culturais, demarcando suas contribuições mesmo que em cenários de adversidades

Legenda: Espetáculo Baculejo
Foto: Nicolás Leiva/Divulgação

Durante o mês de novembro negros/as, ativistas dos movimentos sociais negros e antirracista celebram a resistência de Zumbi de Palmares, herói do quilombo de Palmares. Mas não custa lembrar que referenciar a luta por direitos e reafirmação da negritude deve ser durante todo o ano. 

No Ceará, a Secretaria de Igualdade Racial/SEIR em parceria com a SECULT e suas vinculadas organizou o I Festival de Afrocearensidades: Reconhecimento e Preservação da história e da cultura negra no Ceará, que será realizado por todo mês de novembro, dando visibilidade à diversidade de resistências, de modo a articular uma narrativa que rompa com o silenciamento acerca das potências do povo negro. 

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O Festival Afrocearensidades apresentará as resistências a partir das diversas expressões político culturais, demarcando suas contribuições mesmo que em cenários de adversidades, o que tem requerido lutas por melhores condições de vida com reconhecimento e justiça racial, busca acesso às políticas públicas em diferentes áreas como direito a terra (titularidade das terras quilombolas), vida digna sem violências, visibilidade positiva na perspectiva da reparação de sua história e recriação da memória.  

Muito da programação dar-se-á nos equipamentos de cultura, tanto na capital como em alguns municípios do Ceará, inclui seminários, lançamento de livros, rodas de conversas, shows, exposições, apresentação artístico cultural, solenidade de certificação de comunidade quilombolas, feira de afro empreendedores, marcha das mulheres negras, dentre outras. A integração dessas ações num Festival tratará história e memória de um povo que tem sido apagada e invisibilizada. Tal silenciamento deixa consequências na vida da população negra, que segue sendo alvo de discurso de ódio e das históricas desigualdades.   

Despertar para a consciência negra opera como força contrária â reprodução do racismo, da desumanização deste grupo étnico e busca garantir espaço na agenda política para o reconhecimento, justiça racial e acesso a direitos. Um dos intentos do Festival é contar história por meio da arte, da cultura, da música, dos saberes ancestrais, conhecimento acadêmico e das religiosidades de matriz africana e afro-brasileiras. 

Vale muito corrigir as injustiças, transformar as narrativas que desqualifica o povo negro, apagando nome de personagens fundamentais, como por exemplo na abolição da escravatura no Ceará e dos defensores do antirracismo. Assim, se romperá com discurso que afirmam histórias incompletas, enganosas e incorretas sobre negros/as.  

O desafio é desconstruir mitos e ideologias que escondem relações de poder, como o mito da democracia racial que nega os conflitos e tensionamentos raciais e do discurso de que no Ceará não tem negros/as. Como cidadãos vale o reconhecimento da dinâmica desse grupo racial que contribuiu e continua contribuindo para edificação desse estado, por isso mesmo deve ter protagonismo e oportunidades. 

 

“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.
Professora da UECE e Secretaria da Igualdade Racial do Ceará 

 

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