As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) aqui no Brasil e do Fomc no Federal Reserve nos Estados Unidos são cercadas de expectativas nesta semana. O mercado acompanha com atenção em função das repercussões econômicas e devem delinear os próximos passos da política monetária.
Uma certeza nós já temos como resultado das reuniões: juros mais altos!
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Além dos juros em alta, o ponto crucial será o “day after”. Ou seja, a partir da decisão de subida dos juros básicos, como será o dia seguinte? Ou melhor, como serão os próximos meses, em que velocidade e em qual o nível será o aperto monetário?
A condução da política monetária, pela leitura do mercado, mais restritiva dependerá das variáveis macroeconômicas, sobretudo em ambiente de elevadas incertezas, com a Covid-19 ainda promovendo efeitos de amplo impacto nas cadeias globais de produção e logística; e evidentemente, também dos efeitos adversos da inflação.
A inflação sobe em velocidade recorde nos Estados Unidos, sendo a mais alta desde 1981, e registra 8,6% ao ano. Na Zona do Euro, que historicamente tem dinâmica inflacionária próximo de zero, e por vezes adentra no campo deflacionário (inflação negativa), se depara com os preços em escalada e já alcança 8,1% nos últimos 12 meses, a mais elevada desde 1979. Não está fácil para ninguém!
Em razão da inflação mais alta, a autoridade monetária dos Estados Unidos deve elevar os juros em 0,5 p.p nesta semana. Na Europa, que não sabe o que é taxa básica de juros em alta desde 2011 (isso mesmo, há mais de 10 anos), na próxima reunião do Banco Central Europeu em julho, deve ser com a divulgação de alta dos juros.
A divulgação do IPCA do mês de junho trouxe um certo alívio da pressão inflacionária, uma vez que desde o segundo semestre de 2020, os preços subiam de forma consistente. A inflação brasileira no acumulado dos últimos 12 meses atualmente é de 11,73%, enquanto o mês passado havia sido de 12,13%, o que pode sinalizar uma inflexão na dinâmica inflacionária.
Apesar da aparente descompressão do processo inflacionário no último mês de junho, particularmente, vislumbro que o Copom deve decidir por juro (ainda) mais alto no horizonte.
No cenário externo, a provável subida dos juros mais agressiva das autoridades monetárias americana e europeia, será força-motriz interna para subida mais intensa da
Selic, com vistas a aumentar o diferencial de juros do Brasil para as economias avançadas, mitigando desvalorização do real e retroalimentação da inflação pelo vetor cambial.
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Adicionalmente, a China em processo de retomada econômica, após o relaxamento de severas medidas de combate à Covid-19, promoverá maior demanda global, que combinada com o recrudescimento da guerra entre Rússia e Ucrânia, podem impactar novamente nos preços das commodities.
No Brasil, a turbulência do processo eleitoral, será elemento catalisador de volatilidade do câmbio, e como consequência, tende a reverberar na inflação.
Neste contexto, apesar de não compartilhar da ideia da estratégia de juros mais alto, por entender que a inflação, em grande medida, é de custos e não de demanda, o Copom, nas suas análises de matriz de riscos inflacionária, deve promover mais elevação de juros nos próximos meses.
Além da elevação da taxa Selic para 13,25% nesta semana, o Copom nas reuniões seguintes deve subir os juros até alcançar 13,75%, em razão do cenário externo de juros mais altos e da volatidade do câmbio, bem como conter as expectativas inflacionárias, que já no horizonte de 2023 se mostram próximo de romper o teto da meta de inflação do próximo ano.
Grande abraço e até a próxima semana!
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.