Os efeitos das mudanças climáticas já estão no nosso cotidiano. Antes pensados como peça de ficção científica ou percepções catastrofistas, os resultados do aumento médio da temperatura mundial vêm causando transformações rápidas e danosas à vida humana no planeta. No Brasil, já sentimos com mais intensidade inundações, deslizamentos e a repetição de ondas de calor, mortes são registradas, além de volumosos prejuízos às infraestruturas urbanas e residenciais.
Nas cidades, ambientes amplamente modificados pela ação social, os efeitos das alterações no clima não são menos severos. É possível, inclusive, verificar que há espaços urbanos que sofrem muito mais do que outros, mesmo falando da mesma cidade, sobretudo em áreas mais vulneráveis socioeconomicamente.
As pesquisas científicas avançam nesse tema e nos trazem conhecimentos estratégicos para a convivência e, principalmente, para a correção dos princípios que têm norteado a economia e a produção do espaço urbano.
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A esse respeito, tivemos acesso a uma fração dos resultados do projeto “Infraestrutura verde em cidades tropicais para redução do stress térmico e adaptação às alterações climáticas, o exemplo de Fortaleza, Ceará”, coordenado no Ceará pela Professora Maria Elisa Zanella e pelo doutor Antônio Ferreira Júnior, ambos vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará.
Ao desenvolver sua tese intitulada “Clima urbano: análise do campo térmico e sugestão de áreas prioritárias para implementação de medidas mitigadoras”, Antonio Junior produziu um rico banco de dados, uma sólida cartografia temática urbana e chegou a conclusões relevantes, dentre elas estão:
Em termos gerais, a maior intensidade térmica é observada às 13h, onde, segundo a pesquisa, a temperatura média horária, na periferia, pode chegar a ser 4°C maior que no Parque do Cocó. Aqui estamos falando não só de desigualdade social, mais do que isso. As famílias nesses bairros periféricos vivem em condições de temperatura a produzir graves consequências na saúde física e mental.
Por fim, o estudo aponta para os bairros prioritários à ações que mitiguem as desigualdades térmicas. São eles os bairros Álvaro Weyne, Jacarecanga, Carlito Pamplona, Cristo Redentor, Pirambu, Floresta e Centro.
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Para a elaboração desses regramentos urbanos, além das condições econômicas e sociais, a dimensão ambiental-climática carece de maior atenção. Sabendo-se do momento de revisão do Plano Diretor da cidade de Fortaleza, as conclusões permitem melhor qualificar os parâmetros dos zoneamentos e do uso e ocupação do solo. Em complementação, tais áreas deveriam ser incluídas como prioridade zero nas políticas de criação de áreas verdes, de cuidado com os recursos hídricos, de arborização e, quando necessário, de reassentamento de famílias residentes em condições insalubres.