As mensagens inconscientes do Burnout

O Burnout reflete não somente uma sobrecarga pessoal, mas também as condições impostas por ambientes de trabalho que promovem a cultura do excesso

Escrito por
Adalberto Barreto ceara@svm.com.br
Legenda: O papel das empresas, por exemplo, é crucial na promoção de ambientes mais saudáveis e equilibrados
Foto: Shutterstock

O Burnout, ou síndrome de esgotamento profissional, é um fenômeno cada vez mais frequente no ritmo acelerado e hiper exigente da sociedade atual. Ele se manifesta por um estado de exaustão física, emocional e mental, marcada por desmotivação, baixa produtividade, pensamentos incoerentes e confusos. Ele surge como resposta a situações que demandam energia mais do que o indivíduo pode dar. 

O Burnout reflete não somente uma sobrecarga pessoal, mas também as condições impostas por ambientes de trabalho que promovem a cultura do excesso e da falta de limites. Uma vida baseada no dever, na obrigação, sem espaço para o descanso e o lazer.

A negligência institucional em criar espaços que valorizem a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores perpetua um ciclo de desgaste que, cedo ou tarde, explode. De fato, essa exaustão convida a uma revisão coletiva das estruturas que estimulam a produtividade a qualquer custo, em detrimento da saúde física e emocional.

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Empresas e organizações podem desempenhar um papel vital ao implementar políticas que incentivem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, além de oferecer suporte psicológico, horários flexíveis e oportunidades de desconexão. Para se compreender o Burnout, temos que ter uma compreensão ampliada do contexto em que ele se insere. Nos lembra o ditado popular: “quem olha o dedo que aponta a estrela, jamais verá a beleza da estrela”.

O burnout é, portanto, um dedo apontando para algo invisível, portador de mensagens que precisam ser desvendadas. O burnout é um grito silencioso de pedido de socorro.

A estafa não é apenas um problema individual, não é necessariamente uma doença, mas sim um sintoma de cunho psicológico que está relacionado com o desgaste físico e mental em indivíduos cujas responsabilidades recaem sobre suas costas. Ela é muito mais uma consequência da dinâmica coletiva onde o indivíduo está inserido.

O papel das empresas, por exemplo, é crucial na promoção de ambientes mais saudáveis e equilibrados, onde o bem-estar dos colaboradores seja uma prioridade. A grandeza de uma empresa não está apenas em cuidar dos recursos financeiros, mas sobretudo em cuidar com carinho das pessoas que a compõem.

Cuidar do capital humano é tão importante quanto cuidar do capital financeiro.  Garantir pausas adequadas, reduzir cargas extras desnecessárias e fomentar uma cultura colaborativa, de apoio psicológico, são passos que podem prevenir ou mitigar os impactos do Burnout.

É muito oportuna a nova lei NR1 que exigirá das empresas que avaliem os riscos psicossociais em seus ambientes de trabalho, incluindo estresse e sobrecarga, e criem programas de promoção do bem-estar de seus colaboradores. Quais seriam essas mensagens inconscientes veiculadas pelo Burnout que precisam ser refletidas? 

Do ponto de vista psicológico, as doenças e desequilíbrios podem ser interpretados como soluções temporárias encontradas pelo cérebro para aliviar pressões internas ou externas.

No caso do Burnout, o esgotamento pode representar uma tentativa de romper com padrões insustentáveis de comportamento, como o perfeccionismo, a hiper produtividade e a negligência das necessidades emocionais e físicas. Considerar que o produto do trabalho é mais importante do que você é uma filosofia de vida que escraviza e esteriliza a vida afetiva e familiar. 

Uma das mensagens inconscientes do Burnout pode ser vista como um grito de socorro. Ele funciona como um sinal de alerta de que é hora de desacelerar, reavaliar prioridades e buscar equilíbrio entre as demandas externas e os limites pessoais. Não se pode dar um passo maior do que as pernas conseguem.

Quando o indivíduo ultrapassa repetidamente seus limites, ignorando os sinais de alerta iniciais, como dores crônicas, insônia ou fadiga extrema e apatia, o Burnout surge como um SOS desesperador, uma greve paralisante imposta pelo corpo e pela mente. 

Muitas vezes, tratadas como questões isoladas, quando na realidade são reflexos de uma dinâmica interna e externa. No entanto, quando interpretadas à luz do contexto de vida do indivíduo, essas manifestações revelam uma realidade mais profunda e nos convidam a uma pausa para reflexão e autocuidado. O corpo, nesse sentido, torna-se um mensageiro de verdades que a rotina sufocante insiste em não enxergar. 

É um convite para rever os próprios valores e ideais, permitindo que o indivíduo encontre uma forma mais harmoniosa de coexistir com suas aspirações e suas limitações. Pode também estar ligado a um conflito interno mais profundo, revelando uma sensação de vazio que surge da incapacidade de atingir um projeto idealizado. Nos fala de um descompasso entre o ideal e o real. Esse vazio pode ser acompanhado por um sentimento de frustração, fruto de uma luta interna contra o que parece uma desconexão entre as convicções pessoais e os valores da sociedade. 

A alienação das próprias emoções e a priorização de demandas externas criam um terreno fértil para esse estado de esgotamento surgir. Compreender o Burnout como uma comunicação simbólica da mente é essencial para reconstruir uma relação saudável consigo mesmo. O Burnout frequentemente carrega consigo um profundo sentimento de impotência, especialmente diante da incapacidade de concretizar ideais elevados, que parecem muitas vezes inatingíveis. 

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Este fenômeno pode se intensificar frente às exigências de adaptação a novas tecnologias que, por vezes, são percebidas como invasivas ou até mesmo agressivas.  Nesse contexto, o Burnout pode ser compreendido como mais do que uma resposta ao excesso de trabalho; ele pode funcionar como uma fuga, uma estratégia inconsciente para evitar enfrentar dilemas internos que desafiam a nossa identidade. 

A dedicação excessiva ao trabalho pode mascarar uma tentativa de evitar um confronto íntimo consigo mesmo, uma maneira de escapar de questionamentos pessoais que podem parecer dolorosos ou desconfortáveis. É possível que esta busca frenética por produtividade, atingir metas, seja motivada pelo medo de se encontrar face a face com os próprios limites, contradições e vulnerabilidades. É como se: “Se paro, eu penso e, se penso, eu sofro e, como não quero sofrer, continuo acelerando para não ter que parar”. 

O trabalho extenuante pode servir também como uma justificativa inconsciente para se distanciar de relações ou situações percebidas como insuportáveis. A sobrecarga profissional, nesse caso, torna-se um escudo contra aquilo que se deseja evitar, seja um relacionamento difícil ou um ambiente emocionalmente perturbador. 

O Burnout emerge, assim, como uma forma de grito silencioso, solicitando para que essas questões ocultas sejam finalmente abordadas. Nesse cenário, a reflexão não se limita apenas ao âmbito profissional, mas toca também aspectos mais amplos da vida pessoal.

A síndrome pode ser um sinal de que é necessário resgatar a autenticidade e ouvir e respeitar o próprio ritmo, buscando um equilíbrio que integre mente, corpo e espírito. Embora a experiência do Burnout varie de pessoa para pessoa, algumas mensagens inconscientes comuns podem ser identificadas:

  • Pare e cuide de si: O Burnout frequentemente surge como uma manifestação de auto abandono em que seu “sacro ofício, se torna sacrifício” ou auto sacrifício. A mente pode estar pedindo para o indivíduo reconectar-se consigo mesmo, priorizar seu bem-estar e não ignorar necessidades básicas como descanso, alimentação de qualidade e momentos de lazer. 
  • Reavalie seus valores: Pessoas em Burnout muitas vezes se percebem desconectadas de seus valores pessoais, sacrificando-os em nome de objetivos externos, como sucesso profissional ou aceitação social. Lembre-se de que seu valor é bem maior do que os resultados conseguidos pelo seu trabalho.  A mensagem inconsciente pode ser um convite para alinhar suas ações às suas convicções mais profundas. 
  • Estabeleça limites: A incapacidade de dizer “não” e a tendência de assumir responsabilidades excessivas são fatores comuns no Burnout. A mente pode estar sinalizando a necessidade de criar limites mais claros para proteger sua energia e saúde mental. 
  • Redefina sua identidade: O Burnout pode ser também um reflexo de uma identidade muito vinculada ao papel profissional. Ele pode estar sugerindo que é hora de explorar outras dimensões da própria identidade, como relacionamentos, atividades esportivas e espiritualidade. 

Temos 4 dimensões a serem contempladas: corpo físico, psíquico, social e espiritual. Cada um deles tem exigências próprias. A cura do Burnout não se limita a eliminar os sintomas, e sim pela escuta das mensagens inconscientes que ele traz. Terapias, práticas de mindfulness como a meditação, a prática de exercícios físicos e o cultivo de momentos de silêncio e introspecção são ferramentas valiosas para decifrar as mensagens inconscientes desses sintomas. 

É importante aprender a reconhecer os primeiros sinais de sobrecarga antes que o Burnout se instale completamente. O sucesso não deve ser medido apenas por produtividade e desempenho. O Burnout, embora doloroso, pode ser uma oportunidade de transformação e realinhamento.

A mensagem inconsciente que ele carrega é um convite para a auto exploração e o autocuidado. Ouvir e agir de acordo com esses sinais não apenas ajuda na recuperação, mas também promove uma vida mais saudável e equilibrada. 

A verdadeira cura para o Burnout é aprender a reconhecer os limites, priorizar o bem-estar e cultivar uma relação mais saudável com o trabalho e consigo mesmo. Lembre sempre: você é amado pelo que você é e não pelo que faz.