Inspiração no passado

Virada contra o Náutico pela Taça Brasil de 1964 serve de exemplo para o Vovô sonhar com a taça, amanhã, contra o Sport

Um exemplo dentro de sua própria história pode servir de inspiração para o Ceará em busca do título da Copa do Nordeste, amanhã. A partida decisiva é contra o Sport, no Castelão. Há 50 anos, o Alvinegro escrevia mais um capitulo de superação em seus cem anos de história, batendo outro time pernambucano, o Náutico, na final do zonal do Nordeste - para muitos, equivalente à competição regional da atualidade - da Taça Brasil de 1964.

Na ocasião, o Vovô precisou superar a derrota no primeiro jogo em Recife para sagrar-se campeão, roteiro parecido com o que deverá seguir ante o Leão pernambucano - foi derrotado por 2 a 0 na última quarta-feira.

Em 1964, Ceará e Náutico decidiam quem seria o representante do Nordeste na fase final da Taça Brasil, o Brasileirão da época. Os pernambucanos do Náutico eram chamados de "Intocáveis", por conta do domínio que exerciam no futebol local. Estavam invictos há cerca de um ano. O time de Bita, Lala, Elói e Nado goleou o Ceará por 3 a 0 na primeira partida nos Aflitos, no dia 29 de setembro - gols de Ivan Brondi e Geraldo José (dois) -, e jogavam pelo empate sete dias depois, em partida no PV.

Grande feito

Mas o Ceará tinha uma equipe forte, com jogadores como Aloísio Linhares, Mauro Calixto, Carlito, Alexandre Nepomuceno e Gildo, e não se deu por vencido: com o PV lotado, deu o troco no Timbu. O Ceará venceu a partida por 1 a 0 - quebrando a invencibilidade alvirrubra que durava um ano - gol de Gildo, forçando a partida de volta no mesmo PV, dois dias depois.

O ex-zagueiro Alexandre Nepomuceno, titular do Vovô naquela partida, em entrevista por telefone direto de Belém (PA), lembrou que o Náutico tinha uma equipe de sucesso na época, mas o Ceará tinha seu valor. "Vencemos porque também tínhamos um time forte. Uma equipe com Aloísio Linhares, Calixto, Gildo e eu, tinha suas qualidades, como mostramos".

Na partida de volta, dois dias depois, o Vovô golearia os "Intocáveis" por 4 a 0, gols de Carlito (dois), Dedé e Zé Geraldo, garantindo a conquista em casa.

Nepomuceno lembrou que, na terceira partida, os pernambucanos já não tinham a mesma confiança que apresentavam no encontro anterior, no PV. "Eles poderiam achar que eram campeões, que já estava tudo ganho depois do primeiro jogo, quando fizeram 3 a 0. No jogo seguinte, no PV, poderiam achar que venceriam também. Mas não no terceiro jogo. Afinal, havíamos vencido por 1 a 0 e fomos campeões os goleando por 4 a 0".

Para o zagueiro, um dos méritos daquela equipe do Ceará foi acreditar que seria possível bater o Náutico, esquecendo um complexo de inferioridade do futebol cearense em relação a outros estados do Nordeste.

"Foi uma conquista memorável, que ficou na história do Ceará. A lembrança é das melhores possíveis, com uma conquista regional em cima do Náutico. O futebol cearense sempre esteve à sombra dos times baianos e pernambucanos, que lideravam a região. Por isso foi muito importante aquela conquista. A diferença naquele confronto foi o nosso time saber que poderia vencer, que podia ser superior".

Por ter vivenciado uma experiência como a descrita, Nepomuceno acredita em uma virada alvinegra em 2014. Para ele, o Alvinegro pode sim ser campeão amanhã, em cima do Sport, obtendo a vitória por três gols de diferença.

"Em 1964, tínhamos um grande time. Neste ano também temos. A equipe do Ceará é forte, bem treinada e pode reverter o resultado. Eu acredito que o Ceará consiga. Assim como neste ano, perdemos a primeira partida em 64 e conseguimos reverter. Acredito que possa acontecer de novo".

Tremeram?

Em matéria intitulada 'Nado; os intocáveis tremeram no PV', publicada no Diário de Nordeste no dia 22 de maio de 2005, o atleta que atuou no Náutico e na Seleção Brasileira naquela época descreveu com minúcias o que o time pernambucano encontrou na partida do PV.

"Chegamos a Fortaleza e encontramos um clima de guerra. O menosprezo aos cearenses ocorreu, na verdade, por parte da imprensa de Pernambuco, e não de nós, atletas. O certo é que entramos no PV e muitos companheiros tremeram na base", declarou, à época, o jogador Nado, lembrando que um jornal pernambucano pôs uma foto do time do Ceará de costas e o chamou de "campeão de Bozó", após a vitória do Náutico na primeira partida por 3 a 0.

Trinta mil ingressos já vendidos para a final

A torcida do Ceará já adquiriu antecipadamente 30.300 ingressos para a finalíssima da Copa do Nordeste, amanhã, às 22 horas, contra o Sport, no Castelão.

A procura por ingressos foi intensa por todo o dia de ontem, com a torcida alvinegra lotando os pontos de venda pela cidade, empolgada com a vitória ante o Guarany de Sobral, de virada (3 a 2), fora de casa, pela 1ª semifinal do Campeonato Cearense.

A diretoria do clube espera que o Castelão esteja lotado para a partida de amanhã, com o torcedor empurrando o time para a reversão do resultado do jogo de ida - favorável ao adversário pernambucano: 2 a 0.

"Se nosso primeiro gol sair, teremos uma torcida que vai colocar a segunda bola dentro do gol. Será uma pressão enorme em cima do adversário, com os torcedores e o time jogando juntos. A torcida está lotando os pontos de venda e esperamos ver a lotação do Castelão", disse o vice-presidente do clube, Robinson de Castro.

Os jogadores também ressaltaram a importância do fator casa para a decisão de amanhã.

"O torcedor está mostrando que confia no nosso time, que acredita no título, que reverteremos a vantagem do Sport. Com o apoio da massa alvinegra, nosso time fica ainda mais forte", lembra o lateral-direito Samuel.

SAIBA MAIS

Fase final

Depois de vencer o zonal do Nordeste contra o Náutico, o Ceará disputou a fase final da Taça Brasil e foi semifinalista. O Vovô parou no Flamengo, que faria a decisão com o Santos de Pelé. A equipe santista conquistaria seu tetracampeonato

Outro regional

Outro triunfo regional do Ceará ocorreu em 1969, e também com uma virada memorável. O Vovô foi campeão do Norte-Nordeste ao bater o Remo de forma dramática. No primeiro jogo, perdeu por 2 a 1. Na volta, no PV, o Alvinegro perdia por um gol até a metade da etapa final, quando Magela, Zezinho, e Gildo (aos 45 do 2º tempo) viraram o jogo, forçando a terceira partida. Moralmente destruído, o Remo foi presa fácil no 3º jogo, no PV: 3 a 0

Vladimir Marques
Repórter