Ministro da Saúde minimiza cloroquina no tratamento da Covid-19

Na contramão de Jair Bolsonaro, Nelson Teich evita ser entusiasta do uso de cloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19. Para ele, medicamento não será "divisor de águas". Brasil tem 449 novos óbitos em 24h

Escrito por Redação ,
Legenda: Com a média de 100 enterros por dia, a Prefeitura de Manaus ainda espera o pior da crise
Foto: Foto: Alex Pazuello/Semcom/Fotos Públicas

O ministro da Saúde, Nelson Teich, disse, nesta quarta-feira, que o resultado de novos estudos aponta que o uso de cloroquina não deve ser um "divisor de águas" no tratamento de casos da Covid-19. "Cloroquina hoje ainda é uma incerteza. Houve estudos iniciais que sugeriram benefícios, mas existem estudos hoje que falam o contrário", afirmou.

"Os dados preliminares da China é que teve mortalidade alta e que o remédio não vai ser divisor de águas em relação à doença".

Teich disse que espera ter uma análise preliminar sobre estudos hoje em andamento no País até a próxima semana para ter uma posição sobre o uso do medicamento, indicado originalmente para malária e artrite, também para o coronavírus. Ele não informou se há possibilidade de rever os protocolos atuais. Atualmente, a pasta mantém um protocolo para uso do medicamento em pacientes graves e críticos e mediante acompanhamento em hospitais.

Na última semana, o Conselho Federal de Medicina divulgou um parecer que libera médicos a prescreverem o medicamento inclusive para casos leves e uso domiciliar.

Apesar de ter feito o parecer, o próprio CFM diz que ainda não há evidência científica que sustente o uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19. A autarquia justificou a medida devido à falta de alternativas para tratamento e para uso em três situações específicas. A avaliação havia sido solicitada pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à pressão do Governo para aumento da oferta do medicamento.

Bolsonaro é um entusiasta da hidroxicloroquina e da cloroquina para o tratamento da doença. Ele já defendeu que elas sejam utilizadas inclusive no estágio inicial dos sintomas. A defesa da medicação foi um dos pontos centrais do conflito de Bolsonaro com Mandetta, que era contrário à ampla recomendação do remédio para o coronavírus.

Após o parecer do CFM, Teich já havia indicado que a pasta não seria favorável ao uso do remédio em todos os casos. "Permitir o uso a critério do médico não representa uma recomendação do Ministério da Saúde. A recomendação vai acontecer no dia em que tivermos uma evidência clara de que o medicamento funciona", disse. Ontem, Teich disse que a Pasta também acompanha o desenvolvimento de estudos sobre outros tratamentos, mas que ainda não há resultados conclusivos.

Balanço

Segundo divulgou, nesta quarta-feira, o Ministério, o Brasil registrou 449 novas mortes em 24 horas. Foi o segundo número mais alto diário de novos óbitos. Na terça (28), o Brasil bateu o recorde de mortes registradas em 24 h, com 474 novas vítimas, e ultrapassou a China no número total de óbitos causados pelo novo coronavírus. No total, o País registra 5.466 óbitos por Covid-19.

O Brasil é agora o nono país com mais vítimas no mundo. Em número de pessoas com a infecção, ocupa o 11º lugar no ranking de países, com 78.162.

Já o Estado do Amazonas, o primeiro que viu o seu sistema de saúde entrar em colapso por causa da disseminação da Covid-19, vai endurecer as regras de isolamento social nos próximos dias.

O governador Wilson Lima (PSC) disse que o cliente que entrar em qualquer estabelecimento comercial que esteja funcionando, como um supermercado ou uma farmácia, por exemplo, obrigatoriamente terá de usar máscara, ou o local terá de dar o item ao cliente, além de oferecer álcool em gel. Se não oferecer proteção, o lugar será multado, com pagamento de cestas básicas.

O Amazonas registrou, oficialmente, 4.801 casos de contaminação e 380 mortos.

Wilson Lima disse que, por enquanto, não vê necessidade de decretar o fechamento total (lockdown) de Manaus, e que o acirramento das medidas de restrição de circulação deve ajudar. "Estamos em uma situação bem complicada, mas não vislumbro a possibilidade de um lockdown".

Respiradores

O Ministério da Saúde anunciou, nesta quarta-feira, que deve romper o contrato de mais de R$ 1 bilhão com empresa de Macau, na China, que não cumpriu com a entrega de 15 mil respiradores, cruciais para o combate à Covid-19. O dinheiro não chegou a ser liberado pela Pasta. Com o calote, o Governo Federal aposta na produção nacional de respiradores. A ideia é entregar cerca de 14.100 respiradores feitos no Brasília até julho.

O Governo aguarda a entrega por três empresas: Intermed (4.300 unidades), Magnamed (6.500), KTK (3.300). Há expectativa de que a Leistung e a WEG também fabriquem o produto em parceria.

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