Título por um tiquinho

Para triunfar em cima do maior rival, diretoria do Vovô trouxe uma das peças mais importantes do próprio Fortaleza

O ano era 1978. O campeonato foi um dos mais disputados da história. E mais inesquecível para uma só torcida que para as outras: a do Ceará. O Time de Porangabuçu vinha de um tricampeonato e o sonho da diretoria era igualar o feito de 60 anos antes quando o Estadual ainda era a Liga Metropolitana.

O Alvinegro conseguiu o tão sonhado tetra após trazer Moésio Gomes, o "Soldado Tricolor". A contratação gerou protestos no clube Fotos: Arquivo/Natinho Rodrigues/ Profissional que era, e apesar das críticas, Moésio Gomes levou o Vovô ao tetracampeonato. Herói do jogo, o atacante Tiquinho morreu precocemente, em 2009

O Ferroviário conquistou o 1º turno. O Tricolor de Aço venceu o 2º. Então, para alcançar o tão sonhado tetra, só restava ao Vovô ganhar o último e 3º turno. E foi o que aconteceu, com a ajuda especial de um atleta e seu apelido, que entrariam para sempre na história do lado preto-e-branco do Estado: Tiquinho.

Naquele ano, a torcida alvinegra não estava tão confiante na conquista. O time havia vacilado nos primeiros turnos e tanto o grupo como parte da diretoria não estavam focados na disputa. No entanto, o Ceará tinha uma carta na manga. Para falar a verdade duas. Tiquinho, destaque até então do alvinegro, e nada mais nada menos que o notório técnico tricolor Moésio Gomes.

A ideia de levar o "Soldado Tricolor" para Carlos de Alencar Pinto foi do presidente Eulino Oliveira. Apesar das críticas de muitos alvinegros, o presidente do clube se responsabilizou e manteve Moésio como a principal peça do Ceará para conquistar o tetra. E o novo reforço deu certo. Apesar de perder o returno, o Vovô ganhou corpo na reta final e depois de uma forte disputa com Fortaleza e Ferroviário, venceu o terceiro.

Então veio o Super Turno. Na primeira partida, o Ceará empatou com o Fortaleza em 0 a 0. Dias depois, mais um empate sem gols. Desta vez com o Tubarão da Barra. No dia 14 de dezembro, uma vitória de 1 a 0 sobre o Ferroviário colocaria o Vovô na frente na reta final. E um novo empate diante do Fortaleza em 0 a 0 daria o Super Turno ao Vovô.

Noite inesquecível

A decisão do campeonato estava definida. Mais uma vez, como em outros anos, Ceará e Fortaleza iam decidir o título. E a decisão estava marcada para o dia 20 de dezembro, uma quarta-feira. Toda a cidade estava envolvida.

O América surgiu em 1920. O time foi duas vezes campeão do estadual em 1935 e 1966. De lá para cá, só Ceará, Fortaleza e Ferroviário levaram campeonatos

O árbitro do jogo, o carioca Luis Carlos Felix, autorizou e a bola rolou no gramado do Castelão. A tensão era evidente. A equipe de Moésio Gomes tinha mais posse de bola, enquanto o Fortaleza, do técnico Moacir Meneses, chegava sempre com perigo. Principalmente com a dupla Geraldino e Da Costa.

O Vovô era um time repleto de craques: Amilton Melo, Erasmo, Edmar, Ivanir e, lá na frente, o franzino Tiquinho. Magrinho e discreto na partida, o atacante alvinegro parecia que não daria trabalho aos defensores tricolores Pepeta e Rodrigues. Já no segundo tempo, vendo que o Leão não se entusiasmava para marcar, o Ceará começou a dominar as ações da partida.

O Vovô já havia perdido três boas chances. A torcida alvinegra ruía as unhas, passava a mão no cabelo e ansiava por uma possível jogada que levaria ao tetra. Quando a torcida de ambas as equipes já começavam a se preparar para a prorrogação, veio o improvável. Aos 44 minutos do segundo tempo, Dudé, do Tricolor de Aço, foi tocar a bola para Otávio Souto. Este, desatento, perdeu a redonda para o meia Amilton Melo. O jogador alvinegro enfiou para Jangada, que rapidamente tocou para Ivanir. Iluminado e, segundo se diz, impedido, Ivanir dominou e partiu pela ponta direita. Já perto da grande área, ameaçou fuzilar a meta do arqueiro Lulinha, mas não o fez. Ele levantou a cabeça e tocou suavemente para Tiquinho, que teve o trabalho só de empurrar a bola para os fundo das redes. Gol do Ceará! A multidão alvinegra era só alegria no Castelão. Uns choravam, outros se abraçavam. Os mais contidos e até mesmo os céticos do momento só observavam o gol histórico. Não dava mais para o Leão. O tetra alvinegro estava selado.

Fim do tabu tricolor

Em 1982, o Leão não conquistava um título cearense havia sete anos. O pior é que a torcida amargava derrotas seguidas para o seu maior rival, o Ceará, que de 1975 a 1981 havia conquistado um bicampeonato (80/81) e um tetra (75/76/77/78). E ainda tinha o Ferrão, campeão incontestável de 1979.

O time tinha na presidência o "Papa" Silvio Carlos e o eterno mandatário tricolor não mediu esforços para tirar o Leão da fila. Trouxe jogadores como Adilton,Edmar, Assis Paraíba e o principal deles: o meia Zé Eduardo, ídolo e ex- Ceará. Para completar no banco de reservas, contava com Moésio Gomes.

Com um time cheio de craques, o Tubarão conquistou, invicto, o título de 1968. Já o Calouros do Ar teve seu ano de ouro quando conquistou os três títulos disputados em 1955: Torneio Preparatório, Torneio Início e Campeonato Cearense

Mas o Ferroviário não estava para brincadeira. Com o elenco forte, formado por Luizinho, Meinha, Édson, Paulo César Cascavel e Jorge Veras, deu trabalho para o Fortaleza.

Após dois empates no início do mês de dezembro (1 a 1 e 2 a 2), as duas equipes entraram em campo em 12 de dezembro de 1982 para a final. E o Fortaleza, ganhador do 1º e do 2º turnos, jogava pelo empate, já que o Ferrão havia ganho o 3º turno.

O jogo começou nervoso e truncado, com o Tricolor organizando as principais jogadas, mas sem sucesso. O Ferrão assustava sempre com Jorge Veras e Paulo César Cascavel.

Com tanta emoção e tendo duas pontes de safena, Moésio Gomes passou mal no banco de reservas logo no início do jogo e foi encaminhado para o Hospital de Messejana. Só que mesmo sem técnico, o Leão saiu vencedor: 4 a 0. Adílton, fez três gols e Ronner o outro.

Diz a lenda que, mesmo hospitalizado, e sedado, Moésio teria perguntado ao médico: "Doutor, quanto saiu o jogo?", para depois ouvir: "É, Seu Moésio, o Fortaleza venceu de 4 a 0. Pode comemorar".

Último invicto

O Ferroviário nunca esteve tão soberano como no ano de 1968. Com um time repleto de craques, tais como João Carlos, Paraíba, Coca-Cola, Edmar e Lucinho, o Tubarão da Barra, em 14 jogos venceu incríveis oito partidas e empatou outras seis.

O certame era dividido em dois turnos. No primeiro, o Ferrão venceu quatro jogos e empatou três. No returno, o Tubarão repetiu a boa campanha e depois de três triunfos, com os tropeços de Fortaleza, Calouros do Ar e Ceará, o Tubarão tornava-se mais uma vez campeão cearense. E desta vez, invicto. Essa foi a última vez que um time foi campeão dessa forma.

Gioras Xerez
Especial para o Jogada

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