O que já se sabe sobre o caso da madrasta presa suspeita de envenenar enteados no Rio de Janeiro
Ao saber das investigações, Cíntia tentou se matar. Ela foi presa temporariamente
Um caso de repercussão nacional. Na última sexta-feira (20), a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu Cíntia Mariano Dias Cabral, suspeita de envenenar seus enteados - um, inclusive, morreu. Após a prisão e o avançar das investigações, novas informações surgiram, como a de que a madastra postava vídeos orando e desejando melhoras à vítima e de que ela teria rido ao servir feijão envenenado ao jovem.
Até agora, cerca de uma semana após a descoberta do crime, o que já se sabe acerca da madrasta e sobre o caso? Quem é a suspeita? Quem são as vítimas? Como era a relação da madrasta com os enteados? Confira abaixo detalhes sobre o caso:
"Isso é um monstro"
"Uma mulher dessas não pode ser chamada de ser humano. Isso é um monstro". Essa foi a forma que a empresária Jane Carvalho Cabral se referiu à madrasta de seus dois filhos, Cíntia Mariano Dias Cabrala.
A suspeita tem 49 anos. Cíntia, que mora no Rio de Janeiro tem quatro filhos biológicos. Dois filhos frutos de um relacionamento anterior, além de duas crianças geradas com o atual marido.
Quem são as vítimas?
Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, e o irmão Bruno, de 16 anos, são os jovens supostamente envenenados pela madrasta. Fernanda faleceu no último dia 28 de março, depois de ficar internada por quase duas semanas em um hospital da rede pública do Rio de Janeiro.
A jovem foi hospitalizada depois de passar mal em casa. Foi o pai quem a teria socorrido depois de encontrá-la no chão do banheiro, encharcada de suor, dificuldade para respirar, com a língua enrolada e a boca tomada por espuma.
Sem diagnóstico, ela não respondeu ao tratamento e morreu no hospital. Em seu atestado de óbito consta que a morte se deu por falência múltipla dos órgãos em decorrência de causas naturais. Sem indício de crime, o corpo dela não foi submetido a necropsia.
O adolescente Bruno apresentou sintomas semelhantes aos da irmã logo após almoçar na casa onde o pai vive com a madrasta. Ele também chegou a ser hospitalizado, mas ao contrário de Fernanda, sobreviveu. Isso porque ele próprio foi capaz de apontar para a mãe a hipótese de que Cintia houvesse adicionado veneno à comida que lhe foi servido por ela.
Fernanda morava com o pai e a madrasta há cerca de um ano, em uma casa em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. No local, também vivia o irmão dela, de 16 anos.
Investigada
A internação de Bruno com sintomas de intoxicação por envenenamento aconteceu no dia 15 de maio, cerca de dois meses após a irmã ter sido hospitalizada. Foi a mãe quem o socorreu e ouviu o relato dele indicando que a madrasta havia acrescentado alguma substância tóxica à refeição que lhe foi servida.
Ao perceber que o quadro clínico do filho caçula se assemelhava ao que desencadeou a morte de Fernanda, a mãe procurou, imediatamente, a 33ª DP (Realengo) para prestar queixa contra a madrasta de seus dois filhos. Neste momento, Cíntia passou à condição de investigada.
Em depoimento à Polícia Civil um dos filhos de Cíntia Mariano afirmou que a mãe brigou com uma de suas irmãs por tentar pegar a comida do prato de Bruno. De acordo com o relato, Cíntia preparou a refeição do estudante e não se sentou à mesa durante o almoço daquele domingo 15 de maio.
Acusada visitou enteado no hospital
Bruno deu entrada no Hospital Municipal Albert Schweitzer com tonteira, língua enrolada, babando e com coloração da pele branca — sintomas similares aos apresentados pela irmã dele, Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, ao chegar à mesma unidade de saúde dois meses antes, também depois de fazer uma refeição na residência paterna.
Durante o período de internação do jovem, Cíntia foi visitá-lo. Nas redes sociais, ela postou vídeos orando e desejando melhoras para as vítimas.
"Ela visitou a minha filha no hospital todos os dias, como se nada tivesse acontecido. E me abraçou no enterro, embora não parecesse comovida. Mas, até então, eu pensava apenas que era o jeito dela", contou a empresária Jane Carvalho Cabral, mãe das vítimas, que denunciou o caso à polícia e iniciou uma campanha por justiça nas redes sociais.
Há provas contra Cíntia?
Conforme a Polícia Civil, na primeira diligência realizada na casa de Cíntia foram recolhidos um frasco contendo chumbinho (popular veneno para matar ratos) e restos do feijão que teria sido servido por ela ao enteado adolescente.
No entanto, o material ainda precisa ser submetido à perícia especializada. Já exames aos quais Bruno foi submetido apontaram a presença de alto nível de chumbo em seu organismo, o que indicaria a ingestão de substância semelhante ao raticida apreendido na casa da madrasta.
Os investigadores também apreenderam o celular de Cíntia e solicitaram a quebra de sigilo telefônico na tentativa de identificar outros indícios de que ela tenha, intencionalmente, envenenado os enteados.
Tentou se matar
Ainda segundo a polícia, Cíntia tentou se matar ao se ver diante da acusação de envenenamento dos enteados. Socorrida, ela sobreviveu e, tão logo recebeu alta, foi presa e encaminhada para a delegacia.
Orientada por um advogado, ela se recusou a prestar declarações, se resguardando ao direito de se pronunciar somente em juízo. No entanto, um de seus filhos biológicos, ao ser ouvido pela autoridade policial, relatou que a mãe havia confidenciado a ele ter misturado chumbinho à comida servida à Fernanda em março e a Bruno em maio.
"Ela não confessou. Mas, pelos depoimentos dos filhos naturais, sabemos que ela admitiu para eles ter envenenado Fernanda e que tentou fazer o mesmo com o enteado". disse, ao O Globo, o delegado Flávio Rodrigues.
O que teria motivado o crime?
Ciúmes por parte de Cíntia teriam motivado os crimes, aponta a Polícia. A relação estabelecida pelo marido com os filhos do casamento anterior estaria por trás das motivações dela em provocar a morte dos enteados.
Cíntia teve a prisão temporária decretada pela Justiça sob suspeita de homicídio qualificado e tentativa de homicídio, ou seja, por supostamente ter provocado a morte de Fernanda e tentado matar Bruno da mesma forma.
A prisão é temporária, com prazo inicial de 30 dias, período no qual a polícia irá aprofundar as investigações. O prazo poderá ser prorrogado ou a prisão ser convertida em preventiva de acordo com a evolução do inquérito policial.
Quais os próximos passos?
Conforme informou o portal G1, além dos laudos periciais do material apreendido na casa de Cíntia, incluindo análise dos registros de mensagens e ligações telefônicas em seu celular pessoa, a polícia deverá solicitar à Justiça a exumação dos restos mortais de Fernanda.
Exames cadavéricos irão apontar se a morte da jovem foi provocada por envenenamento, bem como se havia em seu organismo substância semelhante à que intoxicou o irmão mais novo.
Outras mortes semelhantes
A repercussão da prisão de Cíntia trouxe à tona suspeita sobre a real causa da morte de duas pessoas próximas a ela. Segundo a polícia, relatos apontam que tanto o ex-marido dela quanto uma ex-vizinha morreram repentinamente.
Agora, os investigadores vão apurar se há indícios de que ambos tenham morrido por causa semelhante à da enteada, bem como investigar a relação de Cíntia aos dois casos.
Riu ao servir mais feijão
Presente no almoço de domingo no qual Cíntia Mariano Dias Cabral teria envenenado o enteado de 16 anos, uma filha da mulher contou à 33ª DP (Realengo), que investiga o caso, que a mãe "ficou rindo" enquanto colocava mais feijão no prato do estudante.
De acordo com o depoimento de outro filho de Cíntia, que também estava no local, ela admitiu que foi justamente nesse alimento que colocou "chumbinho", com o intuito de matar o rapaz. As informações são do jornal O Globo.
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A filha de Cíntia afirmou, ainda, que o jovem chegou a estranhar o sabor da refeição, como se estivesse "comendo com nojo". A jovem relatou que viu no prato do enteado da mãe "um liquido esverdeado escuro e brilhoso", mas que "na hora não viu relevância nenhuma por acreditar ser tempero da comida".
Ao ser perguntada pelos policiais sobre a reação da mãe ao perceber que o enteado estava "separando a comida", ela respondeu que "todos ficaram zoando". E que Cíntia, em seguida, "colocou mais feijão no prato" do rapaz. Ela também informou que ninguém além do jovem teve qualquer desconforto depois do almoço.
Pai se mostra revoltado
Em entrevista ao O Globo, o pai disse que as "pessoas podem pensar que eu tenho algum envolvimento no envenenamento dos meus filhos, mas não tenho. A Cíntia Mariano, minha esposa e acusada de envenena-los, não demonstrava que faria isso".
Ainda conforme ele, o "sentimento é de revolta e culpa por me envolver com um monstro. Mas eu não tinha bola de cristal. Até briguei com Deus, perguntei à Ele por quê tirou a minha filha. Mas não foi Deus. Foi quem estava do meu lado. Infelizmente eu não sabia. Se você convivesse com ela, não perceberia. Ela acolheu 38 crianças em um projeto de mãe acolhedora da prefeitura. Não tem como entender o que passou pela cabeça dela".
Como eles se conheceram?
"Nós nos conhecemos porque ela fazia o transporte escolar do meu filho. Estamos juntos há quatro anos e durante a pandemia nos casamos. A Cíntia conhece o Bruno, de 16 anos, desde os 5 anos de idade. Sempre fui um pai presente e tínhamos uma vida normal de casal. Com meus filhos nunca tinha percebido ela demonstrar ciúmes, mas com a minha ex-mulher sim", disse Adeilson.