Ginecologista é denunciada por racismo após dizer em consulta que negras 'têm cheiro mais forte'
Caso ocorreu no Rio de Janeiro, no início do ano passado, e foi divulgado no 'Fantástico' deste domingo (11)
A ginecologista Helena Malzac Franco foi indiciada por racismo após afirmar durante uma consulta a uma paciente, de 19 anos, que a maioria das mulheres negras têm cheiro forte nas partes íntimas. O caso ocorreu no Rio de Janeiro, no início do ano passado, e foi divulgado no Fantástico.
Conforme denúncia apresentada pela reportagem, uma mulher levou a afilhada de 19 anos, negra, para uma consulta particular. Durante exame, a médica afirmou que o "cheiro forte" era "por causa da cor e do pelo".
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A mulher que levou para a consulta, identificada como Luana, gravou a conversa durante o atendimento. No diálogo, a médica afirma: "Muito forte, aqui, ó. Quando você sua, o cheiro piora. É a mesma coisa do sovaco. É o mesmo cheiro, é um cheiro forte, mas é por causa da cor e do pelo. Você vai ser a vida inteira assim, então, você tem que se preocupar com isso, tá?".
Luana, então, questiona: "Mas quando você fala da cor e do pelo, você tá dizendo que isso só acontece em pessoas negras?". E a médica diz: "É, é muito comum. Não é 90%, mas a gente coloca uns 70%". E a madrinha da paciente rebate: "Então, tipo, tem a ver com melanina?". "Tem a ver com a melanina também", respondeu Helena.
A melanina é o pigmento que dá cor à pele, aos pelos e aos olhos. Peles negras têm mais melanina.
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"Quando a médica saiu falei: 'você percebeu o que aconteceu?' Aquele argumento que a médica nos deu foi algo racista e eu preciso que você tenha noção disso", relembrou Luana para a afilhada.
Após denúncia, Helena Malzac se tornou ré pelo crime de racismo, pois segundo o Ministério Público, a médica teria cometido violação contra a paciente e todas as mulheres negras.
Defesa da médica
A defesa da médica disse à Justiça, em janeiro deste ano, que "em nenhum momento, durante o procedimento médico, ocorreu a vontade de discriminar a suposta vítima”. Relatou também que "o objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas".
Segundo noticiado pelo Fantástico, o advogado disse também que a médica "sugeriu depilar os pelos pubianos, o que nada tem a ver com discriminação." E que a mãe da médica "é filha de norte-americano negro casado com a sua avó de nacionalidade portuguesa, ariana com olhos na cor azul". Neste ponto, – continua o advogado – “mais uma vez, se comprova a ausência de dolo, porquanto a ré é filha e neta de negros e, inclusive, por tal razão pode ser considerada da raça negra".
Odor não tem relação com a cor da pele
Em entrevista ao Fantástico, especialistas ressaltaram que a afirmação da médica é errada. Heitor de Sá, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explicou que pessoas negras podem ter uma quantidade maior de glândulas apócrinas, que produzem mais uma secreção - que é inodora - e não existe relação entre a melanina e o odor corporal.
O que faz a secreção ter odor, segundo o médico, é a flora bacteriana - não a cor da pele.