Conflito no Oriente Médio: O que se sabe sobre os brasileiros que pediram resgate em Gaza

Ao todo, 28 brasileiros estão no território palestino que está sob controle da organização extremista Hamas

Escrito por Redação ,
Ministério das relações exteriores
Legenda: Ministério das Relações Exteriores tenta tirar brasileiros por fronteira com o Egito.
Foto: Reprodução / Itamaraty

Desde o início dos recentes conflitos entre Israel e os palestinos que estão em Gaza, no último sábado (7), o Governo Federal tem tentado repatriar os brasileiros que estão sob risco de ataques. Seis aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) foram mobilizados para trazer ao País os que estavam do lado israelense e outra operação tem tentado embarcar os que estão na região controlada pela organização extremista Hamas em direção ao Egito. 

Ao todo, 28 brasileiros estão no território palestino, com recursos como alimentos e água potável escassos e sem o fornecimento de energia elétrica. No início da tarde desta quinta-feira (12), um comunicado do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, informou que o Escritório de Representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia, identificou as pessoas interessadas em sair da localidade. Em sua maioria estão mulheres e crianças. Uma idosa também integra o grupo de sitiados.

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Segundo o órgão federal, parte das pessoas - 13 delas - está reunida em uma escola local, onde lhes foram fornecidos alimentos, colchões e roupas de cama, entre outros gêneros. A Embaixada em Tel Aviv solicitou formalmente ao Governo de Israel que não bombardeie o local.

Estratégia de retirada

Ao que disse o comunicado do Ministério, foram contratados veículos para transporte dos brasileiros até a fronteira egípcia assim que seja possível a passagem por Rafah, uma cidade localizada ao sul da Faixa de Gaza, nos limites da divisa com o país africano. "O Brasil vem reiterando gestões, em alto nível, com vistas a viabilizar a entrada dos brasileiros e de seus familiares no Egito", disse a pasta.

A pretensão das autoridades que realizam a operação é que seja formado um corredor humanitário para que os cidadãos possam ser transportados com segurança para fora do perímetro de guerra até a capital, Cairo. A medida, no entanto, ainda não foi autorizada pelo Governo do Egito.

Seis desistiram

Inicialmente, todos os 28 brasileiros que estão em Gaza haviam demonstrado interesse em serem retirados. Entretanto, o número de pedidos caiu nesta quinta. Conforme disse a Embaixada do Brasil na Palestina ao g1, houve uma redução de 28 para 22 solicitações. Fontes alegaram que uma família desistiu de sair.

Como noticiou a GloboNews, os seis familiares teriam desistido da tentativa por terem uma condição financeira vulnerável. Eles disseram que não tinham condições para voltar ao Oriente Médio quando o conflito acabar e preferem migrar para algum País com fronteiras terrestres.

O Governo do Egito já está com a lista completa dos que querem deixar Gaza. Um dossiê detalhado foi transmitido à chancelaria egípcia com informações sobre os brasileiros, cópias dos passaportes e fotos. Autoridades egípcias alertaram ao Itamaraty que, no momento, não há nenhuma estrutura de imigração na fronteira. 

Medida deve passar pela ONU

A passagem pela fronteira estaria muito prejudicada e os bombardeios de Israel em Gaza teriam danificado o posto que ficava em Rafah. Eles destacaram ainda que a esperança para que o grupo do Brasil seja retirado da região sob ataques recai totalmente na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas prevista para sexta-feira (13).

Pelo que noticiou o portal da Globo, os egípcios são favoráveis à necessidade de que se abra um corredor humanitário para socorrer a população de Gaza e permitir saídas pela fronteira, mas isso só acontecerá se houver a garantia e o compromisso de Israel de que não haverá novos bombardeios no posto fronteiriço - onde deverá ser montada uma estrutura de imigração.

A retirada antes do encontro do Conselho de Segurança é considerada como uma possibilidade muito remota, tanto por diplomatas egípcios quanto pelos brasileiros envolvidos nas negociações. No sexto dia de conflito, ao menos 1,3 mil israelenses foram mortos. Em Gaza, até agora, cerca de 1.354 mortes foram confirmadas.

Relatos de brasileiros

As primeiras imagens dos abrigados na unidade escolar foram divulgadas pela Embaixada do Brasil na Palestina nesta quinta (12). Em uma delas, uma criança de 11 anos, Bader Monir, aparece e relata que se sente seguro no abrigo. "Aqui, a gente não pode morrer. Aqui, o chão é limpo, tudo é limpo. Essa escola é muito melhor para mim do que ficar de casa", disse o garoto.

foto do abrigo em gaza
Legenda: Bandeira do Brasil na escola que funciona como abrigo em Gaza.
Foto: Reprodução / Ministério das Relações Exteriores

A embaixada explicou que o menino está há cinco meses no território. Antes de ir para Gaza, ele morou em São Paulo. Bader está no abrigo com mais dois irmãos, de 9 e 4 anos. A família é composta por cinco pessoas, com cidadanias palestina e brasileira.

À Agência Brasil, nesta quinta-feira (12), outro morador da região que demonstrou interesse em sair, o palestino-brasileiro Hasan Rabee, de 30 anos, contou que está vivendo sobre bombardeios contínuos e diários. Ele está na cidade de Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, próximo à fronteira com o Egito, e tenta fugir do local desde que os bombardeios começaram.

"Estamos em uma casa familiar de mais ou menos 20 pessoas e há bombardeio para todo lado. A gente só escuta barulho de bomba. Bastante gente no bairro foi atingido e muita gente morre sem nada", relatou. 

Rabee é naturalizado brasileiro e trabalha como vendedor na capital paulista há 10 anos. O rapaz foi até Gaza para visitar os familiares. Ele viajou acompanhado das duas filhas brasileiras, de três e seis anos, e a esposa, também brasileira.  

foto de Rabee e filhas
Legenda: Naturalizado brasileiro, Rabee foi até Gaza visitar familiares.
Foto: Arquivo pessoal / Reprodução / Agência Brasil

"Um dia estava na casa da minha mãe e houve um bombardeio do lado. Com isso, a gente teve que sair. Outro dia na casa da minha irmã, outro na casa do meu sobrinho. É assim que funciona. A gente está correndo de um lado para outro que nem doido", afirmou, acrescentando que não vê movimentação do Hamas na localidade.

 

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