Brasil tenta com EUA autorização para retirada de brasileiros de Gaza; Israel responsabiliza Hamas
Assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República telefonou para o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos expressar inquietação por demora de retirada de brasileiros de área de guerra
Dando mais um passo na tentativa da retirada dos cidadãos brasileiros da Faixa de Gaza, na tarde deste sábado (4), o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, embaixador Celso Amorim, telefonou para o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan.
As informações são do jornal O Globo. uma fonte do governo brasileiro relatou a “inquietação pela não inclusão do Brasil” na lista de países autorizados a retirar seus cidadãos da Faixa de Gaza através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito.
A ligação de Amorim foi feita para Sullivan com a intenção de que a preocupação do Brasil chegasse ao governo de Benjamin Netanyahu. Isso porque os Estados Unidos são o principal aliado de Israel na guerra contra o Hamas.
O embaixador e ex-chanceler do Brasil na conversa, inclusive, teria enfatizado que o governo Lula não está entendendo por que o Brasil ainda não teve seus cidadãos incluídos nas listas que são divulgadas diariamente.
Pelo terceiro dia consecutivo e durante visita do secretário de Estado americano, Antony Blinken, a Israel, os americanos são a maioria do grupo neste sábado, com 386 cidadãos autorizados.
A lista inclui, ainda, britânicos (112), franceses (51) e alemães (50). As negociações para a retirada de civis com nacionalidade estrangeira têm sido pouco transparentes, sem um critério claro e envolvem Israel, Egito, Catar e EUA.
O movimento da Embaixada
A Embaixada de Israel em Brasília, também neste sábado, divulgou nota responsabilizando o Hamas pela demora em incorporar as 34 pessoas, entre brasileiros, palestinos com residência no Brasil e parentes próximos, incluindo crianças, na lista de autorizados.
Porém, a nota não traz explicações sobre quais seriam os motivos da não inclusão.
O comunicado inicia chamando a atenção para os "posicionamentos sobre os alegados atrasos na liberação de cidadãos brasileiros na Faixa de Gaza a partir dos ataques desumanos ocorridos a partir do dia 7 de outubro".
Em outro trecho o documento diz que "o Estado de Israel está fazendo absolutamente tudo que pode e que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rapidamente possível. Qualquer outra afirmação está errada e é fruto de fake news ou desinformação sobre essa complexa e desumana situação criada exclusivamente pelo Hamas".
Afirma que o Hamas é uma organização terrorista que sequestra, massacra, estupra e tortura centenas de pessoas de muitas nacionalidades: "O Hamas está atrasando a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e os utiliza de maneira desumana para se apresentarem como vítimas".
Especulações sobre os motivos deste “gelo” no Brasil
Enquanto a autorização não chega, especulações têm crescido no sentido de “explicar” possíveis motivos desse movimento.
Uma das hipóteses é uma retaliação ao governo brasileiro por suas posições em votações no Conselho de Segurança da ONU, que foi presidido pelo Brasil em outubro.
No entanto, algumas fontes do governo descartam esse motivo, utilizando como argumento a autorização a cidadãos da Indonésia, país que não reconhece o Estado de Israel, e que votou a favor de uma resolução sobre ajuda humanitária no conflito na Assembleia Geral da ONU rechaçada pelo governo de Netanyahu.
Porém, no caso da Indonésia, especialistas apontam que a autorização pode ter ligação com o bom relacionamento entre aquele país e o Egito.
Fontes diplomáticas também apontam que declarações do presidente Lula sobre o conflito também poderiam ter causado mal estar no governo de Netanyahu, já que Lula endureceu o tom após os primeiros bombardeios de Israel à Gaza.
Ele classificou o ataque do Hamas como “terrorista”, mas se referiu aos bombardeios de Israel como "ato de loucura”.