Alguns dos dentes do animal eram quase do tamanho de um controle remoto, fazendo com que a força da mordida dele fosse capaz de esmagar um carro
O megalodon ou megalodonte (de denominação científica Carcharodon megalodon) foi um tubarão pré-histórico que viveu há milhões de anos, antes do surgimento da espécie humana, considerado o maior que já existiu no mundo.
De acordo com o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luis Ernesto Arruda*, não é possível estabelecer o período certo de surgimento do animal.
No entanto, afirma, o registro fóssil do animal indica que teria sido entre 26-28 milhões de anos atrás, na época Oligoceno do período terciário da Era Cenozoica (a era em que estamos atualmente).
"Mas seus ancestrais datam provavelmente do período Cretáceo inferior (entre 100 e 129 milhões de anos atrás)", diz o biólogo.
O nome tem origem grega: megás, que quer dizer "grande", e odon, que tem sentido de "dente". Megalodon, portanto, significa "dente grande".
Dentes
Segundo Luis Ernesto Arruda, alguns dentes encontrados no tubarão mediam mais de 16 cm, pesando 1,2 kg.
Assim, pode-se afirmar que alguns dos dentes do tubarão eram praticamente do tamanho de um controle remoto, fazendo com que a força da mordida dele fosse capaz de esmagar um carro.
Descobertas
No Renascimento, vários dentes gigantes foram encontrados fossilizados, e algumas pessoas acreditavam que eles pertenciam a dragões e a serpentes marinhas, em razão das crenças e dos costumes daquela época.
Em 1667, no entanto, o dinamarquês e naturalista Nicolaus Steno corrigiu essa interpretação, quando constatou que a arcada dentária era de um tubarão. As descobertas dele deram origem ao livro "The Head of a Shark Dissected".
Conforme o National Geographic, o considerado maior predador marinho da história tinha uma força de mordida pelo menos três vezes mais forte do queT. Rex.
Também de acordo com o site, as mandíbulas do megalodon podiam se abrir o suficiente para engolir dois adultos que estivessem lado a lado. Ele conseguia comer o equivalente a 3.300 latas de atum todos os dias.
Quando media?
Luis Ernersto explica que um estudo de 2015, baseado no tamanho de 545 dentes, estima que o animal tinha um tamanho médio de 10 metros, podendo chegar a 17 metros de comprimento. "Com essas medidas, o megalodon pode ser considerado o maior tubarão que já existiu".
Quanto pesava?
O biólogo informa que as medidas do tubarão são feitas com base em estimativas. Um estudo de 2015 estimou o peso dele em 48 toneladas, baseado na velocidade de natação (e comprando com o peso e velocidade de natação de espécies atuais).
Por que o megalodon foi extinto?
Segundo o professor do Labomar, a extinção da espécie aconteceu entre 3,6-2,6 milhões de anos, provavelmente devido ao esfriamento da água do mar no início do período glacial, combinado com a redução do nível do mar e perda de áreas de berçário.
"Além do mais, a mudança da área de vida para águas mais frias de algumas espécies de baleias que eram presas do megalodon pode ter contribuído para o declínio das populações. A competição com o moderno tubarão-branco também foi sugerida em um estudo mais recente, de 2019", pontua.
A qual gênero o megalodon pertence?
Por muito tempo, destaca Luis Ernesto, se pensou que os megalodons eram parentes próximos dos tubarões-brancos, ou seja, que tinham evoluído de um mesmo ancestral mais recente (baseado na morfologia dos dentes das duas espécies), o que fez com que o megalodon fosse classificado no mesmo gênero do tubarão-branco (Carcharodon).
Devido a isso, muitas reconstituições os traziam como semelhantes ao tubarão-branco. No entanto, expõe, atualmente, sabe-se que isso é incorreto.
"Estudos mais recentes indicam que sua linhagem evolutiva difere da dos tubarões-brancos, ou seja, não teriam um ancestral comum recente, tendo percorridos "caminhos evolutivos" diferentes, estando então classificados no gênero Otodus, de modo que se acredita que se assemelhavam mais aos modernos tubarões-azul", esclarece.
Como ele se alimentava?
O megalodon tinha uma mandíbula que quando aberta, podia medir entre 2,7-3,4 metros de largura, o que o permitia se alimentar de grandes presas, como baleias, golfinhos, grandes peixes e até outros tubarões, discorre o biólogo.
"Seus dentes grandes e fortes faziam com que pudessem se alimentar de tartarugas. Sua mandíbula tinha em torno de 276 dentes e estudos que reconstroem a força da sua mordida indicam que era uma das mordidas mais fortes que já existiram", menciona.
Megalondon tinha parentesco com outros tubarões?
Conforme o professor do Labomar, não. Ele explica que, embora todos sejam tubarões e tenham tido em algum momento um ancestral comum, eles seguiram linhas ("caminhos") evolutivas diferentes.
"O tubarão-branco (Carcharodon carcharias) e o tubarão-mako (Isurus spp.) teriam um ancestral comum em torno de 4 milhões de anos atrás. Já o ancestral do megalodon é um tubarão que viveu a 55 milhões de anos atrás conhecido como Otodus obliquus, o qual poderia ser tão grande quanto o megalodon", demonstra.
"Já os ancestrais mais antigos do megalodon datam de aproximadamente 100 milhões de anos atrás. Ou seja, o ancestral do tubarão-branco viveu lado-a-lado com o megalodon, e poderiam até ter competido entre si", relata.
Megalodon frequentava águas brasileiras?
Ainda de acordo com Luis Ernersto, o megalodon era uma espécie cosmopolita e de águas quentes, ou seja, viveu nas águas quentes ao redor do planeta Terra, podendo ter vivido ao largo da costa no Brasil.
*Luis Ernesto é biólogo, mestre em Ciências Marinhas Tropicais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com período "sanduíche" no National Museum of Natural History, Washington DC, EUA. É professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC. É coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas tropicais do Labomar/UFC e professor permanente do Programa de Pós Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade da UFC. Também é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (PQ-2 Oceanografia).