O que se sabe sobre a disputa política no Ceará a seis meses das eleições de 2022

A seis meses do pleito, partidos intensificam articulações

A exatos seis meses das eleições deste ano, o Diário do Nordeste preparou um guia sobre as movimentações partidárias para o pleito. Com o encerramento de prazos da Justiça Eleitoral para mudança de partido e desincompatibilização do cargo para agentes públicos em governos, alguns cenários começam a tomar forma tanto na base governista como na oposição.

A partir de abril, devem ser retomadas com mais intensidade discussões sobre federações partidárias e alianças entre siglas. Os partidos têm cerca de três meses pela frente antes de oficializarem candidaturas.

Veja o que se sabe até agora das principais disputas no Ceará: 

Governo do Ceará

A disputa pelo Governo do Ceará ganha destaque nas articulações e deve pesar na definição da bancada legislativa. Do lado governista, ainda pairam incertezas sobre o nome a ser lançado. Do PDT deve partir o pré-candidato que irá liderar a chapa. A sigla tem quatro nomes disputando a vaga: a vice-governadora Izolda Cela (PDT), o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), o deputado federal Mauro Filho (PDT) e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT).

Izolda e Roberto lideram a disputa interna, apontam pesquisas encomendadas pela sigla. Ambos também fizeram movimentos mais contundentes em direção à candidatura. Izolda, por exemplo, teve encontro com a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT), que integra uma ala do PT ainda resistente à manutenção da aliança com o PDT no Ceará.

Izolda também assume, neste sábado (2), o Governo do Estado, ocupando o cargo após a renúncia de Camilo Santana (PT). Caso seja escolhida para liderar a chapa, a pedetista disputará uma reeleição, já que estará no comando do Executivo até o fim deste ano. Roberto Cláudio também recebeu apoio de aliados de peso na Capital, entre eles o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), e a bancada governista da Câmara Municipal. 

Mauro Filho e Evandro Leitão têm investido em reforçar os próprios nomes com lideranças locais, principalmente no Interior. O deputado federal ressalta que já fez mais de 70 viagens para buscar se viabilizar nos municípios cearenses. Já Evandro mira na reeleição. Conforme revelou em entrevista ao Diário do Nordeste, esse é seu foco de trabalho.

Apesar de o candidato governista sair de um desses quatro nomes, o cenário é turbulento também para a base. Nomes como Roberto Cláudio e Mauro Filho enfrentam resistência, nos bastidores, devido à proximidade com os irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT). Partidos que historicamente compõem a base ameaçam lançar candidatura própria ou mesmo reforçar a oposição. 

Neste grupo estão, por exemplo, o PSD, liderado pelo ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), que chegou a anunciar o desejo de lançar-se como cabeça de chapa. Agora, a sigla pressiona para ocupar a vaga de vice na chapa governista

Também aliado desse grupo, Zezinho Albuquerque deixou o PDT rumo ao PP para concorrer ao Governo do Ceará como cabeça de chapa. Caso não lance a candidatura, o apoio da sigla também é incerto. No Ceará, o PP compõe o grupo governista, mas nacionalmente apoia o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem como candidato no Ceará o deputado federal Capitão Wagner (UB).

O MDB, liderado por Eunício Oliveira, é outra sigla com futuro incerto. O cacique emedebista planeja disputar vaga como deputado federal. Contudo, a depender do nome escolhido pelo PDT, o MDB pode ir para a oposição. Eunício é adversário de Roberto Cláudio, por exemplo, e trava disputas políticas e judiciais com o ex-governador Ciro Gomes.

Outro ponto de impasse é o PL. A sigla é liderada pelo prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, aliado histórico do grupo governista. Nacionalmente, no entanto, o PL filiou o presidente Jair Bolsonaro e o diretório local da sigla passou a ser pressionado para se alinhar ao presidente. Com a chegada de aliados cearenses do mandatário na sigla, Acilon disse que irá fazer campanha por Bolsonaro, sinalizando que deixará a base no Ceará.

Na oposição, ao menos os nomes na disputa aparecem mais definidos. Capitão Wagner reúne o grupo mais forte da oposição, aglutinando em seu entorno políticos que anteriormente integravam o PSDB, PSL, Pros e DEM. O mandatário também conseguiu reforçar o grupo oposicionista, tornando-se presidente do União Brasil no Ceará. 

A sigla, resultado da fusão do PSL com o DEM, nasce como um dos maiores partido do Brasil, isso tem impacto direto na campanha de Wagner, já que ele receberá um dos maiores montantes em recursos e de tempo de propaganda no rádio e na televisão, considerando os partidos individualmente.

O deputado federal também já sinalizou que pretende fazer uma frente ampla de oposição no Ceará, deixando em aberto a possibilidade de atrair aliados de outros candidatos à Presidência. Diante dessa conjuntura – e com a possibilidade de atrair siglas como MDB e PL – , a oposição se apresenta como a mais competitiva em 15 anos.

Além de Wagner, a oposição à esquerda também já lançou pré-candidatos. O Psol estará representado nas urnas com a comunicadora e artesã Adelita Monteiro. Ela iniciou sua atuação política aos 15 anos nas pastorais de juventude. Fundadora do Psol no Ceará, a pré-candidata já integrou a direção nacional do partido e atualmente é Secretária Geral do Psol no Estado.

O partido Unidade Popular (UP) também definiu o nome do bancário Serley Leal como pré-candidato ao Governo do Ceará. Ele é um dos fundadores da sigla e tem um histórico de militância social. No Estado, Leal deve montar palanque para Leonardo Péricles, pré-candidato à Presidência da República pela legenda.

Senado Federal

Diferentemente da disputa pelo Governo do Estado, onde a base governista enfrenta incertezas e a oposição já encaminha um cenário consolidado para disputa; na corrida pela vaga no Senado, ocorre o inverso. 

Na oposição, as articulações ocorrem a passos lentos e poucos nomes são ventilados. Na última sexta-feira (1º), Wagner citou entre as possibilidades para o Senado ou para vice em sua chapa o ex-governador Lúcio Alcântara e os empresários Oscar Rodrigues e Gilmar Bender.

Já na base governista, o nome do governador Camilo Santana é unanimidade. Ele, inclusive, deixa o comando do Governo do Ceará neste sábado (2) para cumprir o prazo legal e disputar a vaga majoritária.

O candidato eleito ocupará a vaga deixada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB), que anunciou a aposentadoria das disputas eletivas, apesar de continuar atuando na vida pública. O tucano apoia a candidatura de Camilo Santana, que sai do Governo com ampla aprovação popular, o que tem esfriado as articulações da oposição. 

O petista também já recebeu apoio do PDT, que aprovou a manutenção da aliança com o PT em favor da candidatura de Camilo e da indicação de um pedetista como cabeça de chapa para o cargo deixado por ele no Executivo.

Câmara dos Deputados

As movimentações para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa do Ceará ganharam impulso nesta semana, com a reta final da janela partidária – período em que os parlamentares podem mudar livremente de partido sem que percam os mandatos. 

Do lado governista, Cid Gomes promoveu encontros na Assembleia e filiou parlamentares, entre eles o deputado federal Pedro Bezerra, que deixou o PTB. Agora, o PDT planeja eleger até sete deputados federais e 16 estaduais. 

O PT ampliou a base na Assembleia, com a chegada de três novos nomes, os deputados Júlio César Filho, Nizo Costa e Augusta Brito. 

O PSD também atraiu novos filiados, como o deputado Célio Studart (ex-PV), segundo mais votado em 2018. A sigla terá ainda Domingos Neto, filho do presidente da legenda, Domingos Filho, na disputa pela reeleição. A irmã do parlamentar, Gabriella Aguiar, estará nas urnas de olho em uma vaga na Assembleia. Outro nome conhecido dos cearenses que se filiou à sigla é Naumi Amorim, ex-prefeito de Caucaia, que tentará vaga na Câmara. A sigla também aposta em veteranos do legislativo estadual, como os deputados Lucílvio Girão e Fernando Hugo.

O PSDB tenta voltar à Câmara com uma reorganização no partido, que será liderado pelo ex-senador Chiquinho Feitosa. O tucano, inclusive, já colocou o próprio nome à disposição para as eleições. Na última semana, quem desembarcou no partido foi o ex-deputado federal Aníbal Gomes. A nível estadual, a sigla buscará recuperar espaço na Assembleia, lançando nomes como o da ex-primeira-dama de Fortaleza, Nathália Herculano, do deputado estadual Gordim Araújo e dos vereadores de Fortaleza Cláudia Gomes e Jorge Pinheiro.

Já o MDB deve ter como principal nome na disputa o ex-senador Eunício Oliveira, que foi derrotado em 2018 ao tentar a reeleição para o Senado. O cacique emedebista retorna de olho na Câmara

Na oposição, as movimentações também foram intensas no fim da janela partidária. Conforme mostrou o Diário do Nordeste, União Brasil é o partido que filiou mais deputados federais nesta janela partidária no Ceará. A sigla, criada pela fusão do DEM com o PSL, tem em seus quadros, além de Wagner, os deputados federais Vaidon Oliveira, Danilo Forte, Heitor Freire e Moses Rodrigues.

Também devem disputar vaga na Câmara Federal a deputada estadual Fernanda Pessoa e Dayany Bittencourt, esposa de Wagner. As pretensões da sigla são eleger até seis deputados federais e sete estaduais.