Racismo no futebol

A solução para o combate ao racismo no esporte não deve se guiar pela punição individual, apenas aquele que cometeu o crime, ou julgar os casos como coitadismo por parte de quem foi vítima, mas compreendida as raízes históricas e estruturais que o consolida.

Legenda: Vinícius Júnior sofreu racismo neste ano na Espanha, onde atua pelo Real Madrid
Foto: Lucas Figueiredo / CBF

O futebol fortalece laços afetivos, mobiliza as pessoas para assistirem aos campeonatos com formações de torcidas engajadas. O esporte reflete as relações econômicas, políticas e culturais existentes na sociedade.

Está acontecendo o torneio Internacional de Futebol masculino organizado pela FIFA, a Copa do Mundo de 2022, em Qatar. Nesse evento tem sido denunciado as discriminações e o desrespeito aos direitos humanos dos trabalhadores estrangeiros, das mulheres e da população LGBTIA+. Sendo cerceadas com violência as manifestações em apoio à diversidade.

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Na realidade brasileira se faz presente a naturalização das discriminações provocando desigualdades, cuja raiz encontra-se no longo período de escravidão, reatualizado sob forma de racismo. Esse fenômeno planetário alcança o mundo esportivo, com constantes casos de racismo antinegro no futebol, praticados por jogadores, equipe de arbitragem, técnicos e torcidas, ou seja, tanto no campo quanto na arquibancada.

Embora os insultos racistas sejam negados ou considerados “brincadeiras pesadas”, este se configura crime e como tal deve ser tratado. As formas mais corriqueiras são ofensas e xingamentos de macacos aos jogadores negros, atiram bananas nos estádios, entoação de cânticos racistas durante os torneios, empurrões e cuspidas etc.

Tais episódios demonstram o grau de tensionamento racial e provoca revolta em quem sofre o racismo. O enfrentamento as ofensas aumentaram nos últimos anos, rompendo o silêncio por meio de denúncia pelas vias legais, recusa de continuar a partida, saída do campo e outros.

A solução para o combate ao racismo no esporte não deve se guiar pela punição individual, apenas aquele que cometeu o crime, ou julgar os casos como coitadismo por parte de quem foi vítima, mas compreendida as raízes históricas e estruturais que o consolida. Portanto, importa as ações efetivas na dimensão repressiva, ações valorativas com a educação antirracista, e as ações afirmativas com a ampliação de negros/as na área com poder de decisão. Acresce o apoio aos jogadores atacados como demonstração de solidariedade de todo o time, pedidos de desculpa, suspensão, multas e exclusão das competições aos responsáveis pela prática discriminatória.

A Copa do Mundo 2022 teve início no dia 20 de novembro. Data importante no Brasil, o dia Nacional da Consciência Negra, momento de celebrar as resistências negras, de denúncia do racismo estrutural e de apresentação de proposta para sua superação.

No âmbito do futebol é possível avistar no início do século XX, em Porto Alegre, a atitude de jogadores negros impedidos de participar dos campeonatos de elite, proibidos de fazer inscrição de clubes formados por negros e trabalhadores, resolveram então criar uma associação alternativa, a Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense (LNFP), popularmente conhecida como Liga das Canelas Pretas, promoveram alguns torneios nos anos e 1920 e 1930. Iniciativas como essas inspiram resistências.

“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.