Consciência negra e a afirmação da humanidade

A população negra no novembro da consciência negra denuncia o racismo, reafirma as resistências e valoriza a negritude como perspectiva política

Legenda: Negros/as totalizam mais de 56% da população, e devem ser tratados com humanidade, respeito pelo que são, valores que traduzem e trabalho realizado para erguer essa nação
Foto: Anastasia Kazakova / Freepik

Celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, no 20 de novembro, é tomar como referência a resistência de Zumbi de Palmares, que ao constituir o quilombo manifestou a negação estrutural e protesto contra o escravismo. Nessa data valorizamos os movimentos de rebelião negra em busca de nossa humanidade.

Torna-se urgente dar um basta na naturalização dos absurdos a que estão submetidos negros/as, que totalizam mais de 56% da população (pretos e pardos), devem ser tratados com humanidade, respeito pelo que são, valores que traduzem e trabalho realizado para erguer essa nação.

Lideranças dos movimentos sociais negros, intelectuais e pesquisadores negro/as especialistas no tema da questão racial guardam unanimidade que no novembro são por demais solicitados pelas escolas, universidades, instituições públicas e privadas para ministrarem palestras sobre a consciência negra.

Tal fato pode ser interpretado como algo positivo, sinalizando que a sociedade está preocupada com os contornos que toma a discriminação racial, as desigualdades raciais, a violência, letalidade dos jovens negros.

Esses convites, na maioria das vezes apressados, causam também um sentimento de desânimo, descontentamento por se tratar de iniciativas que engrossam a fileira de ações pontuais, cosméticas, superficiais e descompromissadas com o efetivo combate do racismo e de reconhecimento étnico racial desses grupos subalternizados racialmente.

Esse tema deveria ser tratado durante todo o ano, de forma sistemática, quando se quer uma educação antirracista, por meio da efetividade das leis 10.639/2003 alterada pela lei 11.645/2008, diretrizes para a educação quilombola, e políticas inclusivas e de valorização da pluralidade étnico racial quando o horizonte é tornar as instituições menos monocromáticas.

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Para o povo negro, a busca pela liberdade ontem e hoje tem sido uma trajetória perpassada de percalços. Essa jornada de reivindicação é por uma vida sem racismo com condição digna, com possibilidade de construção de uma identidade coletiva como um povo que sabe de onde veio, e sabe para onde vai, que contribuiu na edificação desse país como nação. Ciente de quem somos, dos nossos saberes, experiências e capacidades temos ainda de dizer que não teremos democracia enquanto nos for negado reconhecimento étnico e justiça racial.

A população negra no novembro da consciência negra denuncia o racismo, reafirma as resistências, valoriza a negritude como perspectiva política e espera com isso compromissos do governo e da sociedade civil num alinhamento com a democracia, isso passa necessariamente pelo combate a desumanização, a discriminação racial e ao racismo estrutural. Demandamos representatividade no âmbito da política, no mercado de trabalho, na universidade, na gestão pública e em outros lugares de vantagens na sociedade brasileira.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.