Mulheres negras educadoras

A população negra tem resistido aos processos de desprestígio racial. Partem do pressuposto de que ter acesso à educação pode mudar esse “destino”.

Legenda: A professora Zelma Madeira está entre as educadoras sintonizadas com as necessidades da população marcada por profundas desigualdades raciais.
Foto: Divulgação

Em julho comemora-se o dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e no Brasil homenageia Tereza de Benguela. Chamamos Julho das Pretas, momento de reflexão e ação propositiva para dar visibilidade ao legado das mulheres negras na construção desse país. Evidentemente, à custa do acumulo de desvantagens, que comprometem suas trajetórias de vida e as impedem de desempenhar suas capacidades com autonomia.

As mulheres negras exercem até hoje papel fundamental nas relações de cuidado, no trabalho doméstico, e serviram na escravidão de experimento sexual para os senhores e seus filhos. O corpo negro fora utilizado em todas as suas potencialidades desde a Casa Grande até as “Casas de famílias”. Infelizmente, a expropriação do trabalho e violência sexual contra as negras se presentifica naturalizadas nos espaços privados e públicos.

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A população negra tem resistido aos processos de desprestígio racial. Partem do pressuposto de que ter acesso à educação pode mudar esse “destino”. É bom lembrar que pelo decreto nº 1.331/1854, negro/as não poderiam ser admitidos na escola. Segundo o decreto nº 7031/ 1878, estes só poderiam estudar no período noturno. Mesmo com a abolição da escravatura perdurou a exclusão educacional.

As instituições educacionais são espaços perpassados de conflitos e contradições numa sociedade campeã em desigualdades e tensionada pelo racismo nas relações institucionais e entre educadores/as e educandos/as. É possível encontrar trajetórias escolares das mulheres negras tumultuadas, marcadas por interrupções, idas e vindas, retenção e evasão, prejudicadas pela ausência de política educacionais públicas.

A democratização da educação contribuiu para que segmentos populares excluído fossem inseridos na escola, dentre eles as mulheres negras, e isso foi uma grande conquista, posto que garantiu a escolarização para algumas e possibilitou a atuação no magistério.

Essas professoras negras saíram do lugar subalternizado impregnado de racismo e machismo predeterminado para elas, para ocuparem uma outra posição. Mesmo sendo uma área profissional não tanto valorizada, ainda é vista como possuidora de status social relacionada à produção do conhecimento, importante ferramenta para promoção de uma educação antirracista.

Ao participar de um evento na universidade que pertenço, fui tomada de emoção com a fala de uma aluna negra, que expressou sua gratidão pela minha existência naquele espaço, porque servia de referência para ela e enegrecia o mundo acadêmico. Ouvir isso confirma que me incluo entre as educadoras sintonizadas com as necessidades da população marcada por profundas desigualdades raciais.

Nós educadoras negras por meio de nossa trajetória profissional e intelectual atuamos tanto na agenda acadêmica quanto política para criar uma rede de mulheres que eleve a condição da mulher negra e acolha no ensino, na pesquisa e extensão os/as estudantes discriminados pela classe, raça e gênero.

“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.

 



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