O que dizer da violência durante a pandemia de Covid-19

A violência é um dos traços marcantes no Brasil e tem como efeito ampliar as desigualdades

Legenda: A cada 20 minutos uma menina de até 14 anos foi estuprada no Brasil entre 2017 a 2020. E a maioria dos abusadores é conhecido da vítima
Foto: Shutterstock

O Unicef e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública lançaram nesse mês o Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil. Reuniram dados do período entre 2016 e 2020, e apontaram 34.918 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes e 179.277 crimes de estupro e estupro de vulnerável.

A violência é um dos traços marcantes no Brasil e tem como efeito ampliar as desigualdades. O estudo revelou as formas de violência mais prevalentes nos meninos e nas meninas, nos grupos raciais e nas distintas faixas etárias. As informações detalham também a incidência desses crimes nesse momento de descontrole da disseminação do novo coronavírus e demonstraram o racismo e o sexismo e seus efeitos no aprofundamento das desigualdades raciais e de gênero. 

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No que se refere às mortes violentas, tem como maiores vítimas jovens do sexo masculino e negros, na faixa etária de 15 a 19 anos. Conformam mais de 90% das vítimas meninos, e 80% negros. Esses meninos são vítimas de violência armada, morrem mais no espaço público e por armas de fogo.

Estupro

Enquanto o estupro, como violência sexual, acomete mais vítimas do sexo feminino. E quanto mais velha a vítima, maior a chance dela ser uma menina. Os dados apontam que a cada 20 minutos uma menina de até 14 anos foi estuprada no Brasil entre 2017 a 2020. E a maioria dos abusadores é conhecido da vítima. 

O estupro tem se caracterizado pelos altos índices de subnotificação. Foi apontado que os dados são falhos, pois em muitos casos o critério raça/cor não é preenchido. Mesmo com informações deficientes em 2020, foram registrados 5,2 estupros de vulneráveis em vítimas brancas e 5,6 mil em negras.

Em relação ao ano de 2017 houve uma redução de 26,8% do número de vítimas brancas, e um aumento de 6,5% do número de vítimas negras. E durante a pandemia houve aumento de 9% de casos em meninas, na faixa etária de 5 a 9 anos. A conjugação do sexismo e racismo, a representação perversa da sexualidade imposta às mulheres e meninas negras tem impedido o desenvolvimento de suas potencialidades.

Subnotificação na pandemia

Cabe uma reflexão cuidadosa no ano de 2020, diante da diminuição nos registros de casos de violência contra criança e adolescentes. Pois alguns fatores devem ser considerados, como o isolamento social, receios das pessoas de circular, principalmente em transporte público, alteração nos horários e dias de atendimentos dos órgãos públicos. O conjunto de tudo isso influenciou na diminuição de registros, e não necessariamente na redução das ocorrências. 

É preciso entender o sexismo, machismo e o racismo estrutural como raízes dessa violência. A maioria dos brasileiros/as não apoia e nem aceita conviver com isso. Nesse sentido, vale demonstrar solidariedade com a dor dessas crianças e adolescentes e aprimorar as políticas públicas preventivas e protetivas.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.