Desigualdade vacinal e o racismo estrutural

Legenda: A África se apresenta ao mundo como continente com acesso limitado aos serviços de saúde, com mais baixa taxa de vacinação, apenas 7% da população recebeu as duas doses, e tem dificuldade em adquirir o imunizante.
Foto: Thiago Gadelha

Em novembro foi descoberta a nova cepa Ômicron do novo coronavirus. Sobre essa variante pairam muitas dúvidas e incertezas quanto a capacidade de transmissão e letalidade. A África do Sul identificou primeiro a cepa e informou com brevidade a Organização Mundial da Saúde (OMS). Muito embora não tenha vindo o devido reconhecimento cientifico pelo seu ato ético.

A pandemia do novo coronavírus escancarou diferentes realidades no que concerne ao seu combate. De um lado, grupos negacionistas se recusam a ser vacinados, não aderem aos protocolos exigidos de controle da transmissão como uso de máscara e de evitar aglomerações, indicam medicação sem eficácia comprovada, e de outro, grupos que apostam no benefício da imunização, e se esforçam para enfrentar as crises sanitária, econômica e política desencadeadas.

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A campanha de imunização não ocorre da mesma forma nos países. E o problema não está na produção e sim na desigualdade de acesso às vacinas. Os EUA, União Europeia, Reino Unido e Canadá estão com a vacinação completa e já encaminhando a dose de reforço. Algumas nações ricas monopolizam a compra das vacinas, enquanto outras, em particular na América Latina e África, tem baixa cobertura vacinal.

A África se apresenta ao mundo como continente com acesso limitado aos serviços de saúde, com mais baixa taxa de vacinação, apenas 7% da população recebeu as duas doses, e tem dificuldade em adquirir o imunizante.

Com a descoberta da Ômicron decisões foram tomadas de modo rápido, como fechamento das fronteiras da África, com interdição de voos, mesmo sem nenhum registro de mortes. Evidencia-se que mais uma vez esse continente é colocado na zona do não ser, isolado, escanteado e silenciado. Cabe então perguntar se tais práticas discriminatórias tem como motivação o racismo estrutural.

Diferentemente do proposto pela Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) os direitos humanos dos africanos não estão sendo efetivados. Diante da desigualdade na distribuição das vacinas prevalece o racismo e não a cooperação nacional, regional e internacional, comprometendo a participação plena e igualitária destes enquanto grupo étnico que no mundo são prejudicados pela pobreza e marginalização.

Diante do exposto, se faz necessário concretizar parcerias, estabelecer acordos de doação de vacinas com demonstração de solidariedade aos países mais pobres. Só assim pode-se superar os obstáculos e evitar a ampliação dessa tragédia no globo.

O combate a pandemia de covid-19 dar-se-á pelo esforço conjunto, pela atuação coletiva das nações na garantia do acesso de todos os povos ao imunizante, o que requer responsabilização e compromisso ético.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.