A questão indígena vem ganhando espaço no debate público. As motivações podem estar relacionadas a maior visibilidade do ativismo das lideranças ou no escancaramento das inumeráveis perseguições por parte de um grupo conservador que repõe relações de exploração e dominação no Brasil.
Segundo o último censo de 2010 o Brasil conta com aproximadamente 897 mil indígenas, e hoje a estimativa é de que seja 1,3 milhão a população indígena. Parte significativa destes convivem com muitas vulnerabilidades tanto no meio rural quanto no urbano. Vivem nas cidades 36% dos povos indígenas, equivalente a 324, 8 mil pessoas (IBGE/2020).
E no Ceará vivem cerca de 44 mil indígenas. Estão presentes em 18 municípios as seguintes etnias Anacé, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Pitaguary, Potyguara, Tabajara, Tapeba, Tapuya-Kariri, Tremembé, Tubiba Tapuya, Tupinambá e Karão-Jaguaribara a mais nova etnia reconhecida no Estado.
Os povos originários reivindicam a demarcação e proteção dos seus territórios, acesso à educação específica, saúde, garantia de condições humanas para sobreviverem e a reprodução dos modos de vida, da cultura cuja base encontra-se no Bem Viver.
Defensores dos direitos indígenas
Na atualidade é possível notar forças discursivas dos defensores dos direitos indígenas, que reconhecem a sua rica cosmologia e os classificam como povos que tem protegido o meio ambiente, resistido frente aos ataques daqueles que os concebem como atrasados, não civilizados, e fazem a associação perversa dos indígenas com pobreza, com indigência numa reatualização do discurso explorador e excludente da colonialidade.
E possível dizer que a falta de conhecimento sobre a realidade e diversidade indígena provoca uma visão preconceituosa, equivocada cujo fundamento é o racismo estrutural que cria a desigual distribuição de recurso e de direitos. Sobressaem políticas anti-indígenas de estímulo ao desenvolvimento predatório, invasão dos territórios, ataques violentos aos indígenas, paralisação da demarcação de terras, falta de proteção e intimidação das lideranças, desrespeito à auto-determinação dos povos dentre outros.
Na atual conjuntura é importante refletir sobre o Abril Indígena. Compreender o que querem os povos originários com o Acampamento Terra Livre ao longo desses 18 anos.
Nesse sentido tem relevância o engajamento na defesa da pauta dos povos originários, aprendizagem com sua agenda coletiva, o estabelecimento de troca de saberes entre os indígenas e o restante da sociedade, por meio de aliança crítica e propositiva.
Os indígenas seguem na luta por reconhecimento étnico, justiça racial e propõem modelo de desenvolvimento mesmo diante dos conflitos internos compartilham a noção de que vêm de um passado comum, ancoram-se na ancestralidade e rumam para um destino comum, e isso os torna um povo. Portanto, cabe conhecer as lideranças, a/os pensadora/es indígenas como referências intelectuais e políticas e o ativismo pelo Bem Viver
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.
Zelma Madeira é professora da UECE e Assessora Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Estado Ceará.