O que está em jogo para os aliados de Bolsonaro no Ceará no dia 7 de setembro

No Estado, alguns políticos têm sido discretos na convocação para os atos, enquanto o presidente tenta inflamar seus apoiadores

Legenda: Apoiadores de Jair Bolsonaro durante protesto a favor do voto impresso, em agosto, em Brasília
Foto: AFP

Ao se empenhar em convocar apoiadores para as manifestações previstas para o dia 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afasta qualquer trégua no campo de batalha que se instaurou no Brasil. Ao contrário: o recado do chefe do Palácio do Planalto tem sido inflamar a - já tumultuada - relação entre os poderes.

No Ceará, porém, tal “missão” tem ficado muito mais a cargo dos grupos bolsonaristas que convocam atos em diferentes municípios do que do palanque de parlamentares alinhados ao Governo Federal no Estado.  

É certo que detentores de mandato - das câmaras municipais ao Congresso Nacional - estarão nas ruas na próxima terça-feira, mas, até lá, alguns parecem querer evitar os desgastes que a associação com determinadas pautas também pode trazer em âmbito local. 

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Nas redes sociais, nomes que buscam se colar cada vez mais ao presidente divulgam as manifestações, mas não encontram só apoio. Além de “emojis” com a bandeira do Brasil e confirmações de presença, um parlamentar cearense, por exemplo, também recebeu de um seguidor, como resposta, que não irá aos atos porque o preço da gasolina está caro. Outro disse que ficará em casa por estar desempregado.   

Há ainda, mesmo entre políticos que a menos de um mês estavam ao lado de Bolsonaro no Cariri, alguns que nem sequer têm utilizado o termômetro da internet para fazer coro às convocações. 

Investida pré-eleitoral

Para todos eles, é fato que as manifestações são, além de tudo, uma investida pré-eleitoral. Levar às ruas algumas bandeiras da narrativa bolsonarista é, para o presidente, uma tentativa de demonstrar força em meio às pressões que cercam o Governo. Por aqui, o saldo mais valioso em jogo é a consolidação - ou a conquista – de um filão do eleitorado fiel ao chefe do Palácio do Planalto para suas pretensões no ano que vem. 

A saber, portanto, se a aparente cautela adotada por alguns até agora será mantida no próprio dia 7. Parlamentares cearenses negam teor antidemocrático ou autoritário dos atos, mas não têm controle sobre o que diz o presidente - e sobre como isso reverbera em seus apoiadores.  

Bolsonaro, que já recorreu à insinuação de um “contragolpe”, tem reafirmado o tom de intimidação. Ainda na sexta-feira (3), às vésperas do Dia da Independência, afirmou que, após os atos, “aqueles um ou dois” que ousam desafiá-lo e desafiar a Constituição saberão “voltar para o seu lugar”. 

Coincidência ou não, no mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que já teve pedido de impeachment apresentado pelo presidente, determinou a prisão do blogueiro cearense Wellington Macedo, ex-assessor da ministra Damares Alves (Família, Mulher e Direitos Humanos), no âmbito do inquérito das fake news. 

Postura inegociável

Após criticar a “Vachina” como chegou a fazer o presidente, embarcar na campanha a favor do voto impresso e tomar partido na guerra declarada de Bolsonaro ao STF, o que o palanque de parlamentares aliados do Governo Federal discursará nos atos em território cearense?

Os rumos das manifestações anunciadas pelo presidente como uma "demonstração gigante de patriotismo" são ainda imprevísiveis, mas a democracia deve ser pauta inegociável de qualquer representante do povo eleito pelo voto popular. Outra postura que não seja esta seria grave – e por isso significaria muito mais do que apenas uma contradição. 

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