Com Doria fora de cena e acenos a Tebet, PSDB tem tarefa inadiável se não quiser ser coadjuvante

Após o fiasco das prévias, papel incerto do partido em âmbito nacional contrasta com movimentações locais em busca de mais espaço

Legenda: Mesmo com a vitória de João Doria nas prévias, não houve unidade quanto à candidatura tucana à Presidência
Foto: AFP

A desistência do ex-governador de São Paulo, João Doria, de concorrer à Presidência da República, na última semana, deixou o PSDB diante de uma tarefa inadiável: deixar claro que papel pretende ter nas eleições presidenciais deste ano, sob o risco iminente de tornar-se ainda mais coadjuvante no cenário político nacional.

A crise do partido não vem de agora, mas, enquanto no Ceará há um movimento que busca resgatar a relevância que outrora a legenda teve no Estado, nacionalmente o recado que os últimos acontecimentos passam ao eleitorado é de que os rumos são incertos.

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Após as perdas amargadas, cada vez mais, desde o pleito de 2014, quando Aécio Neves foi derrotado por Dilma Rousseff (PT) na disputa pelo Palácio do Planalto, a sigla tucana parecia ter feito uma autocrítica necessária e vinha disposta a renovar a estratégia a ser colocada em prática em 2022.

As prévias para a definição do pré-candidato a presidente, cujas campanhas ganharam proporções nacionais, funcionaram, até certo ponto, para a propagação de um discurso de democracia interna, de preocupação com a construção de uma candidatura competitiva e, mais do que isso, com a elaboração de um projeto que seria apresentado ao País.

A aposta, porém, foi colocada em xeque já desde os primeiros problemas para a apuração dos votos e, mesmo quando saiu o resultado, não houve unidade para que o partido seguisse uma direção só.

Próximo passo?

A montanha-russa da relação de Doria com a direção nacional do PSDB e a movimentação paralela do ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite - que, mesmo tendo tido menos votos do que o paulista nas prévias, continuou sendo apoiado por uma ala tucana como potencial pré-candidato -, deixaram evidentes as divergências.

Com a desistência do ex-governador de São Paulo, a semana começa com expectativa a respeito de qual será o posicionamento do PSDB quanto à pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Uma reunião da direção nacional do partido estava inicialmente prevista para o dia 24 de maio. Acabou adiada para a próxima quinta-feira, 2 de junho.

Principal liderança do PSDB no Ceará, o senador Tasso Jereissati disse, nesta segunda-feira (30), que "a candidata é Simone Tebet". O tucano cravou que não há plano B e que a coligação com o MDB está certa. "Está definido, foi a decisão de 80%, 90% do nosso partido, fazer a coligação com MDB, e não existe mais, dentro do PSDB e da coligação, nenhuma outra alternativa. Simone Tebet é nossa candidata", afirmou.

Se o apoio ao nome do MDB se efetivar, será a primeira vez desde a redemocratização que a legenda tucana, fundada em 1988, não terá cabeça de chapa na disputa presidencial. Qual será o peso do partido na elaboração de um plano de Governo? Com qual tamanho pretende sair destas eleições?

Olhar para o Ceará

No Ceará, o momento é outro. Ainda que sem pretensão de lançar um nome ao Poder Executivo, o PSDB busca formatar chapas competitivas para tentar vagas de deputado federal e estadual. A janela partidária, entre março e abril, deixou clara a ofensiva.

No período de 30 dias em que são permitidas pela lei mudanças de um partido a outro sem risco de perda de mandato, na Câmara Municipal de Fortaleza, por exemplo, a bancada tucana passou de um para três vereadores.

É evidente que, nacionalmente, o cenário é mais complexo. Mesmo assim, para que não fique em segundo plano, é preciso mostrar o que fica além do gasto de tempo, energia, dinheiro. Do contrário, sem resultado efetivo, o saldo para o partido é de perda de credibilidade.

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