Análise: No Ceará, taxa de juros domina discurso de Lula, que volta a cutucar Campos Neto

Na sede do Banco do Nordeste, Lula exaltou programas que incentivam o empreendedorismo e lançou insinuações contra o presidente do BC

Legenda: Lula discursa em Fortaleza, em evento de comemoração aos 25 anos do Crediamigo, do Banco do Nordeste
Foto: Thiago Gadelha

Após colocar as mãos no microfone que lhe foi entregue pelo fotógrafo Ricardo Stuckert - aquele mesmo que está sempre correndo e esvoaçando os cabelos em busca de bons ângulos do chefe - o presidente Lula demorou menos de 30 segundos para criticar o mandatário do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Antes disso, Lula havia explicado teatralmente à plateia, em solenidade na sede do Banco do Nordeste, em Fortaleza, na manhã desta sexta-feira (1º), que não leria o discurso que estava pronto no púlpito. Falou de improviso, como normalmente prefere, e escolheu Campos Neto como alvo predileto de cutucadas e insinuações.

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"Espero que alguns economistas brasileiros e que o senhor presidente do Banco Central estejam assistindo a essa solenidade. A gente precisa compreender que o dinheiro que existe neste País precisa circular nas mãos de muita gente", disse, logo no início do discurso, em alusão às histórias de superação de duas empreendedoras nordestinas (Maria da Conceição Menezes e Maria do Socorro Nascimento) que tomaram empréstimos do Crediamigo e Agroamigo, do Banco do Nordeste (BNB).

As mensagens endereçadas a Campos Neto permearam quase todo o enunciado do presidente da República na capital cearense, o que deixa claro que, nem mesmo após a redução da taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, um corte superior ao que previa o mercado, Lula deixará de antagonizar o BC, cuja atuação é independente do Governo Federal desde 2019.

Mais adiante no discurso, Lula insinuou que o presidente do BC ainda ouviria o ex-presidente Jair Bolsonaro e afirmou que com ele, o atual chefe do Executivo, não havia diálogo.

"Esse cidadão, se ele conversa com alguém, não é comigo. Deve conversar com quem o indicou (Bolsonaro)", disparou Lula.

Rotativo do cartão

O juro exorbitante do rotativo do cartão de crédito, que regressou com força ao noticiário nas últimas semanas, também foi comentado pelo presidente, segundo quem "os bancos jogam nas costas dos bons pagadores a dívida dos bons caloteiros".

Sobrou até para o próprio Banco do Nordeste, sede do evento. O presidente do BNB, Paulo Câmara, minutos antes, havia anunciado redução na taxa de juros do programa de microcrédito da instituição, o Crediamigo, para 2,16%. Em bom cearês, Lula deu um carão ao vivaço em Câmara, afirmando que a taxa ainda estava alta.

'Carão' no BNB

"2,16% ao mês é muita coisa, é muita coisa (...) Nós vamos baixar ainda. Mas também nós não queremos quebrar o banco", disse, em tom de brincadeira, olhando para Câmara.

Ainda na pauta econômica, que dominou grande parte dos 24 minutos de fala do presidente em Fortaleza, ele mencionou o potencial do hidrogênio verde e das energias renováveis para o desenvolvimento do Nordeste.

Mas não houve menção ao resultado do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do segundo trimestre, divulgado hoje pelo IBGE. O desempenho da economia nacional ficou bem acima das projeções do mercado, com crescimento de 0,9% (as previsões apontavam para 0,3%).



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