O país ainda em choque, sofre com a partida precoce e inesperada da cantora Marília Mendonça, na última sexta-feira (5). Apesar de ter somente 26 anos, conquistou a todos pelo seu carisma e talento.
Desde os 12 já se fazia presente no mundo artístico com composições interpretadas por outros artistas, que se tornaram sucesso. A partir de 2015 surge também como intérprete cantando e encantando o público.
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Conhecida como a Rainha da Sofrência, visto que, praticamente todas as letras de suas músicas falavam de dores bem humanas e comuns a todos nós.
Quem já não sofreu uma desilusão amorosa, uma rejeição, uma traição? Quem não experimentou ter que dar a volta por cima depois de ter ido no fundo do poço? Suas músicas conseguiam envolver a todos, alavancar e externar sentimentos e emoções presas no peito.
Quem passou ou está passando por situações como essas, entram em contato com suas dores e liberam-nas tal qual uma catarse. E é essa experiência que cria uma sensação de intimidade com a autora.
Por traduzir verdades emocionais do quotidiano em poesia musicada, ela conquistou milhares de fãs em todo o país.
Quando ocorre a morte inesperada de uma figura tão querida e admirada nacionalmente, a coletividade entra em choque pela surpresa. Em seguida vem o estado que chamamos de luto, onde é natural a tristeza prevalecer entre as emoções básicas.
A seguir surgem os mecanismos de defesa do ego, que em sofrimento, tenta se proteger. O que mais se destaca é a negação.
Comumente ouvimos expressões do tipo: “Eu não acredito”! “Não pode ser”! “Diga que não é verdade”! Negamo-nos a aceitar o que aconteceu. Dói pensar na morte de uma pessoa querida e não tê-la próximo para partilhar momentos tão significativos.
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Isso causa uma necessidade de se recolher, de se isolar. Inconscientemente é uma forma de não entrar em contato, de não aceitar a realidade.
É comum também vir à tona o sofrimento por outras pessoas que partiram. Muitos perderam entes queridos por conta da pandemia. Essa dor de agora reaviva aquela ferida que ainda está cicatrizando.
Acredito que uma das verdades mais inquestionáveis é a morte. Mesmo que se acredite na continuidade é um parâmetro para a vida. A morte física de Marília traz-nos a reflexão sobre o nosso viver e de como nossa existência é fugaz. O que aconteceu com ela pode acontecer conosco e com os nossos.Já que não podemos mudar essa dolorosa e triste realidade, precisamos descobrir maneiras de melhor lidarmos com a situação.
O primeiro passo é a aceitação. Aceitar a dor e manifestar as emoções.Aceitar a impermanência. Tudo desse plano que vivemos é impermanente. Até nossa vida e o nosso corpo. Aprendamos a cultivar o desapego. Se não, será fonte de sofrimento.
Precisamos estar atentos no dia a dia para darmos o melhor de nós, com equilíbrio e inteireza, certos de que só temos o agora. Quando cada um de nós estiver cantando suas músicas, fisicamente ela não estará, mas estaremos naturalmente conectados e perpetuando-a viva entre nós para sempre.
Ela saiu de casa saudável. Deixou o filhinho na guarda do pai e foi como tantas outras vezes pegar seu transporte para o próximo show. Ela, no plano maior, estará cantando para nós a música Estrelinha que gravou em 2018 ...
Quando bater a saudade Olhe aqui pra cima Sabe lá no céu aquela estrelinha Que eu muitas vezes mostrei pra você Hoje é minha morada A minha casinha Mesmo que de longe tão pequenininha Ela brilha mais toda vez que te vê.
Que mesmo na sua ausência entre nós, a marca maior não seja a sofrência e sim a capacidade que todos nós temos, diante das dores inevitáveis da vida, de nos reinventarmos e seguirmos a diante em busca da felicidade!
Paz e bem!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.