Sociedade do desempenho cobra performance de excelência à custa da própria vida

A sociedade espera, cobra, e pune a “quem não acompanha o ritmo e entrega o esperado”. Mas, a maior cobrança é do indivíduo consigo mesmo

Legenda: Por esquecermos dos nossos limites e do que nos faz bem, nos tornamos mais frágeis
Foto: ShutterProductions

Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, as doenças mentais acometem mais de 800 milhões de pessoas no mundo. O Brasil, infelizmente, se tornou o país mais ansioso, com 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população).  Em relação a depressão, são 12 milhões. Além dessas duas, destacam-se: Transtorno de Personalidade Limítrofe, Hiperatividade e Síndrome de Burnout.

Na Alemanha, em 2010, o filósofo coreano Byung-Chul Han, publicou um livro chamado: Sociedade do Cansaço. Foi traduzido para o português em 2015.

Nessa obra, recomendado para todos nós, Han nos fala do que ele chama de sociedade do desempenho. Onde a humanidade está obstinada pela conquista da excelência.

Segundo ele, a sociedade disciplinar e repressora que predominou no século XX, como defendia Michel Foucault, foi suplantada por um novo modelo de funcionamento social, o da violência neuronal. Onde o indivíduo se cobra tanto que extrapola seus limites e adoece.

Veja também

O nível de exigência é cada vez maior, tanto na vida profissional como no pessoal. A sociedade espera, cobra, e pune a “quem não acompanha o ritmo e entrega o esperado”. Mas, a maior cobrança é do indivíduo consigo mesmo.

No âmbito profissional, o trabalhador precisa trabalhar mais, se dedicar ao máximo sempre, para obter melhor performance e produtividade. Às vezes, submetendo-se a ganhar menos, sem falar de outros abusos. Isso aumentou com a pandemia.

Nessa perspectiva, com tanto tempo dedicado de forma obrigatória ao trabalho, qual o tempo que sobra para dedicar-se aos outros aspectos da vida? E, com que condições físicas e psicológicas, para dele usufruir?

Voltando as palavras de Han, “existe na sociedade atual, um esquema positivo de poder, presente no inconsciente social”. Essa cobrança se dá sem que a pessoa perceba, cobrando-se mais e mais, forçada pelo medo de não ser aceita, rejeitada e excluída.

A sociedade perpetua essa cultura através de exigências, parecendo metas a serem alcançadas, na aparência, hábitos e rotinas.

Através da ditadura da positividade, de ser forte acima de tudo e de tudo conseguir. Quanto autoengano!

Através dos formadores de opinião que dominam as mídias.

Através dos livros de autoajuda apresentando receitas prontas para uma humanidade faminta de nutrição de si. Aumentando o vazio e muitas vezes sentimento de culpa por não conseguir colocar em prática o que ali parece tão fácil.

Através de postagens nas mídias sociais, para capitalizar admiração e reconhecimento. Sendo menos importante curtir o momento e simplesmente viver!

Por esquecermos dos nossos limites e do que nos faz bem, nos tornamos mais frágeis. Assim estando, nos tornamos mais susceptíveis a agir por impulso e fazer escolhas equivocadas. Tenderemos a buscar compensações com o que mais facilmente nos trará prazer, mas não necessariamente saúde e paz.

Urge uma revisão da vida que levamos. Cabe se perguntar: Como é vida que que você quer ter? Quem é a pessoa que você quer ser? E o que você precisa fazer para alcançar esse propósito?  

Sempre levando em conta que como humanos saudáveis podemos sentir tristezas, alegrias, raivas, prazeres, fracassos, sucesso, vitórias e derrotas. E, mesmo assim, a vida poderá ser boa e bela! Visto que, o que importa não é o que acontece conosco, mas o que vamos fazer com isso.

Abra mão de cobrar-se a vida ideal, a performance de excelência, a todo custo. Aceite-se como é, um ser inacabado e comprometido em se melhorar, dando o seu melhor, possível.

Paz e bem!