O absurdo de envelhecer ter se tornado doença para a OMS

Essa distorção tem como objetivo institucionalizar a doença e, consequentemente suas “drogas curativas”

Legenda: No aspecto trabalho, as empresas tenderão a colocar obstáculos em contratar um funcionário que teria que ser admitido já com uma “doença”
Foto: Zenzen/Shutterstock

Quero comunicar a vocês que em 1º de janeiro serei considerado doente! Já tenho até o código (GM2A) da minha doença, olha só!

Como assim?  É que a partir de 1º de janeiro de 2022 a velhice constará na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados a Saúde (CID) da organização Mundial de Saúde.

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Atualmente, os idosos já sofrem muitos preconceitos. É que chamamos de idadismo ou etarismo. Isso é real e gritante.

Por não atenderem, ou corresponderem, aos padrões de exigência da sociedade de performance que vivemos, são excluídos nas mais diversas esferas da vida. Excluídos por não terem a mais bela aparência, por não terem a melhor agilidade, por não serem mais tão produtivos, por estarem mais susceptíveis e se mostrarem com alguma dor e sofrimento.

Essa etapa da vida é caracterizada pelas perdas. A perda do cônjuge, perda de uma maior convivência com outros membros da família, perda dos amigos, perda do trabalho, perda da vida social.

Com essa nova classificação poderemos ter repercussões que agravem ainda mais essa situação e comprometa a saúde física, emocional, laboral e social da pessoa da terceira idade.

No aspecto trabalho, as empresas tenderão a colocar obstáculos em contratar um funcionário que teria que ser admitido já com uma “doença”. Essa “seleção” que estão tentando naturalizar gerará sofrimento aos afetados em questão.

Nesse caso, como seriam os critérios para uma licença por motivo de doença, se ele já “está” doente? Seria afastado para ser pago pelo INSS?

Sabemos que essa preterição frustra e entristece, deixando-o infeliz, podendo inclusive, desembocar em uma depressão.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE em 2019, os idosos lideram o ranking dos mais afetados pela depressão. E é também dos idosos os maiores índices de suicídio.

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Numa cultura como a nossa que não valoriza a experiência que o idoso tem, aliado as inúmeras perdas que ele sofre, inevitavelmente compromete sua saúde emocional.

Isso faz com que muitos indivíduos dessa faixa etária percam o amor pela vida e se abandonem na estagnação física e mental. Sem o poder de decidir, sem reconhecimento e sem um “lugar” no mundo, tendem a fugir e se isolar dos conhecidos, as vezes de seus próprios familiares.

Segundo o executivo e colunista Henrique Noya, no site MedicinaS/A, a justificativa da OMS seria uma forma para reconhecer que as pessoas podem morrer de velhice. Um exemplo seria do Príncipe Philip, esposo da rainha da Inglaterra que morreu aos 99 anos. A causa da morte, segundo o atestado de óbito, foi “idade avançada”.

Segundo a mesma matéria, essa inclusão seria do interesse de empresas ligadas a longevidade, que com inclusão da “doença” velhice, aumentaria sobremaneira o número de casos. E justificaria o aumento de financiamentos para pesquisas na área, em busca de remédios e da “cura”.

Mas, como conceituar e definir uma cura se estamos falando de uma etapa natural do desenvolvimento humano? Essa distorção tem como objetivo institucionalizar a doença. E, consequentemente suas “drogas curativas”, gerando lucros financeiros para quem as produz.

Ao invés de classificá-la como doença, precisamos é propor estratégias que contribuam para a saúde, não só do idoso, mas da população em geral.

Investir em uma melhor qualidade de vida é prevenção para uma longevidade saudável. Não adianta simplesmente aumentar o número de anos de vida do indivíduo se ele não terá qualidade e autonomia para que viva dignamente.

Paz e bem!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.