M de Marília e S de saudade

Enquanto cantarmos suas músicas, ela estará viva dentro de nós

Legenda: Ela sempre soube se posicionar política e socialmente. E quando errou, soube assumir seus erros, baixar a cabeça, pedir desculpas, se retratar

O ano era 2017. Eu havia sido indicado ao Prêmio Melhores do Ano, do Domingão do Faustão, como “Ator Revelação”. Lembro muito do nervosismo desse dia nos bastidores do programa, não só pela possibilidade de receber a premiação, mas principalmente por me ver entre tantos artistas que eu admiro da teledramaturgia e da música. Uma dessas personalidades era ela, Marília Mendonça.

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Marília foi uma das cantoras que mais arrebatou meu coração. Fui a dois shows em Fortaleza e dois shows no Rio de Janeiro. Existia uma energia de liberdade diferente. Era como se ela dissesse “aqui está liberado sofrer”. E a gente sofria! E chorava. E virava mais uma dose. E entoava a plenos pulmões os refrões dos hits. Tudo isso, contraditoriamente, em meio a uma alegria sem fim.

Comprei disco, assistia shows no Youtube e arriscava cantar suas músicas como homenagem nas festas de Transvirada, no Mambembe. Quando a vi, naqueles bastidores da Globo, fiquei emocionado, feliz e grato. Era, de fato, um fã na frente de um ídolo. Falei que a amava. Ela sorriu pra mim e disse: “que coisa mais querida”!

Marília não foi, ela é o maior fenômeno musical da sua geração. Aos 21 anos, lançou seu primeiro DVD e a música “Infiel” - uma das minhas favoritas - atingiu todas as paradas de sucesso. Durante o isolamento social na pandemia, ela foi uma das minhas melhores companhias e, claro, teve o maior número de acessos simultâneos no mundo. Hoje, depois de sua partida, é a cantora mais ouvida, ultrapassando até Adele.

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Além de “Infiel”, não sai das minhas playlists “O que falta em você sou eu”, “Alô, porteiro” e “Eu sei de cor”. Nem parece que a nossa “rainha da sofrência” detestava sertanejo. Nem parece que aos 14 anos, seu repertório era pop e rock. Ainda bem que, desde o início da adolescência, quando começou a carreira, Marília mudou de opinião e se tornou a “maquininha” de fazer hit dos cantores sertanejos. “Cuida bem dela” e “Flor e o Beija-Flor”, da dupla Henrique e Juliano também são exemplos de grande sucesso.

Hit após hit, Marília foi cantada por milhares de fãs espalhados pelo país inteiro.

Com suas músicas, aprendemos a lidar com traições, decepções amorosas, a nos livrar de gente que não nos merece, a dar a volta por cima. Com ela, aprendemos sobre humildade, empatia, comunhão, alegria.

Marília, além de uma cantora de enorme sucesso, era uma neta querida, uma filha amorosa, uma mãe dedicada e uma mulher empoderada. Ela sempre soube se posicionar política e socialmente. E quando errou, soube assumir seus erros, baixar a cabeça, pedir desculpas, se retratar. Seus últimos projetos traziam, acima de tudo, a busca pelo respeito à mulher.

No clipe “Esqueça-me se for capaz”, do projeto “As Patroas”, que dividia com Maiara e Maraísa, e que teria uma grande turnê em 2022, é nítida a relação da música com o discurso sobre espaços de igualdade no mercado de trabalho. Marília nunca foi de seu tempo, ia sempre além.

Acredito que o que consola o meu e outros milhares de corações brasileiros é saber que Marília não partiu e nunca nos deixará. Ela e seu legado serão sempre inspiração no ouvir, no cantar e, como ela fez, no revolucionar. Marília é imortal. Enquanto cantarmos suas músicas, ela estará viva dentro de nós.

Viva Marília! Pra sempre

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.