Bonita de ver e ouvir, Rita de Cássia era como chuva no Sertão

Rita se tornou uma referência para outras artistas da cena, não apenas por suas composições, mas também por sua desenvoltura nos palcos, seu carisma e seu protagonismo

Legenda: A voz de Rita nos traz o sentimento de casa, de lar. Por onde for, em qualquer lugar do mundo, não há um único nordestino que não comemore quando toca “Meu vaqueiro, meu peão”
Foto: Kaleb Oliveira/SVM

“Pérola”, “criatura de luz” e “iluminada” são alguns dos significados de seu nome. Em alguns dicionários, há também registrado “aquela que se sacrifica ao extremo quando está convicta de que há uma forte razão para isto”. Quando li essas definições, tudo fez sentido pra mim. Acredito que não poderia haver nada melhor para definir Rita de Cássia.

A cantora cearense era mesmo uma pérola e só poderia ser muito iluminada para escrever e cantar como fazia, um marco para o nosso forró. Rita tinha plena convicção, devoção, talento e dom para a música, sabia que a luta por seu espaço não seria fácil de conquistar e não desistiu.

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Lembro perfeitamente das vezes que, quando criança, ficava deslumbrado com seu jeito de se apresentar nos programas de televisão, sua forma de dançar, seu sorriso largo que denunciava claramente sua paixão pela música. Era simplesmente deslumbrante ver aquela mulher de cabelos loiros e cacheados dominando o palco e esbanjando alegria.

Rita foi uma das mulheres pioneiras no forró. Diretamente de Alto Santo, interior do Ceará, a artista criou mais de 500 composições, gravadas por diversas bandas renomadas e grandes intérpretes de todo o país. Sua principal característica foi compor canções que traziam em versos o cotidiano da vida do interior nordestino, em especial a vida dos vaqueiros. Suas letras eram carregadas de poesia do forró romântico, uma forma direta de falar de amor e arrebatar multidões.

Rita é a história do forró brasileiro! Há um pouco dela em nosso DNA, em nossas memórias, em nossa identidade. Talvez seja por isso que ela seja tão importante.

A voz de Rita nos traz o sentimento de casa, de lar. Por onde for, em qualquer lugar do mundo, não há um único nordestino que não comemore quando toca “Meu vaqueiro, meu peão”, como um efeito tão bonito como de quando cai chuva no sertão. O coração fica feliz.

E a música “Brilho da Lua”, gravada por Eliane? Uma das canções mais escutadas no país. “Jeito de Amar” - também conhecida por “Já tomei porres por você” - na voz de Solange Almeida e Xandy, na saudosa Aviões do Forró também é inesquecível. Sem contar os grandes clássicos de Mastruz com Leite. Tudo isso lhe rendeu o título de “A maior compositora de forró do Brasil” e a música "Saga de um vaqueiro" lhe rendeu o prêmio de “Melhor Música da Década”.

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Fora isso, Rita ainda se tornou uma referência para outras artistas da cena, não apenas por suas composições, mas também por sua desenvoltura nos palcos, seu carisma e seu protagonismo. Se hoje temos Taty Girl, Mara Pavanelli, Iara Pamela, Gil Mendes, Suzzy Navarro, Solange Almeida e tantos outros nomes de mulheres comandando bandas e construindo a história do forró, isso se deve muito a carreiras consolidadas e lutas travadas por artistas como Rita.

Que ícone do forró! Sua presença era tão forte que quem a ouvia, tinha a sensação de estar contemplando uma banda inteira em uma só mulher. Ou no mínimo duas: Rita e Cássia. Todos os apaixonados por forró deveriam reverenciá-la.

Estamos de luto, justamente, por saber da importância de seu trabalho, de sua arte, de seu pioneirismo no meio artístico forrozeiro. A perda é irreparável.

Rita de Cássia deixa o forró de luto, mas sua história e suas composições deixarão para sempre o nosso forró ainda maior e mais apaixonante! Viva Rita!

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora